Café x COP 30: entenda como as dicussões sobre o clima afetam o preço do produto
As dicussões climáticas abordam temas como aquecimento global, que estão diretamente ligados ao cultivo e ao preço para o consumidor final
As previsões para o preço do café são de que o valor do produto continue em alta em 2025. Uma das justificativas para o aumento seria por conta dos eventos climáticos que afetaram a safra de 2024/2025, em que o Brasil viveu um inverno seco e com temperaturas mais elevadas. Algumas das maiores regiões produtoras dos grãos foram afetadas, como é o caso do sul de Minas Gerais.
Diante das mudanças climáticas, a COP 30, que será realizada em Belém, em novembro deste ano, é uma alternativa para reunir em um único local estados-nações, grandes empresas do cenário global e nacional e sociedade civil para debater as consequências e buscar soluções para esse contexto. As resoluções da Cúpula podem afetar diversos setores sociais e econômicos. O café, fator da cultura brasileira e relevante produto nacional, vem sofrendo com o clima e com a crescente do preço para os consumidores finais.
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No ano passado, o preço do café acumulou uma alta de quase 40%, o que ajudou a aumentar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), dentre outros fatores. Essa elevação teve consequências diretas no bolso dos consumidores e há incerteza sobre o valor do produto para o ano de 2025.
O cenário se mostra desafiador para que o café não aumente de preço, apesar das chuvas terem começado a melhorar no final do ano. Mesmo assim, a expectativa de melhora serviria apenas para o ano de 2026.
O clima pode afetar o preço do café?
Os eventos climáticos, principalmente aqueles relacionados à seca, tiveram forte influência na cafeicultura brasileira desde 2024. No caso de Minas Gerais, maior produtor de café do país, responsável por mais de 58% das áreas destinadas ao cultivo do grão, a retrospectiva não é das melhores, já que o inverno de 2024 contou com temperaturas entre 2°C e 3°C acima da média, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O sul de Minas, principal região produtora no estado e conhecida pelas mais baixas temperaturas do país, viveu um inverno atípico devido ao aquecimento global.
O Espírito Santo é o segundo maior estado produtor do grão e responde por cerca de 20% das áreas de cultivo de café no Brasil. São Paulo e Bahia aparecem em terceiro e quarto lugar, respectivamente, com menos de 10% de áreas cultiváveis de café. Estes três estados tiveram períodos de seca que impactaram na safra 2024/2025. O aumento no preço do grão refletiu diretamente no bolso do consumidor final.
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As previsões do ano passado já davam conta de que o inverno seria de seca em boa parte do país, castigado por queimadas e estiagem, além da falta de chuva.
Ana Maria Pereira Nunes, mestra e doutora em meteorologia pelo Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), explicou que chegamos no período seco já com um déficit hídrico maior do que o normal, no ano passado.
"Junho de 2024 foi o décimo segundo mês consecutivo onde a temperatura média da atmosfera global esteve pelo menos 1,5°C mais quente do que a média no período pré-industrial", alertou a pesquisadora.
Cenário para 2026
As chuvas do final de 2024 podem melhorar as áreas de cultivo do café, mas elas atingiriam apenas a safra que seria colhida e consumida em 2026. Ainda assim, essas chuvas não seriam suficientes para compensar as perdas da safra atual. Apenas trazem uma expectativa de melhora em relação ao preço.
Para que haja, de fato, um cenário favorável para que o preço não continue a aumentar é preciso aguardar para saber como será o inverno de 2025. A depender de que como os eventos climáticos vão se comportar neste ano, pode acontecer do consumidor ter um alívio em relação ao preço do café. Por enquanto, o que há é apenas incerteza quanto à estabilidade climática, o que dificulta as previsões definitivas.
Outros fatores que influenciam no preço do café
Além das questões climáticas, a variação do dólar e a demanda global podem afetar no preço dos grãos. Mesmo assim, o clima ainda é o principal fator, já que ele é uma commodity agrícola altamente sensível às condições climáticas. Assim, os eventos extremos, como secas e enchentes, afetaram fortemente a produção.
A demanda global pelo café também tem influência no mercado, como é o caso da China, que tem uma grande população para ser abastecida. Os chineses têm consumido cada vez mais o café e o crescimento tem sido de forma acelerada. Atualmente, este não é um fator de relevância para impactar no preço do mercado interno brasileiro, porém, caso o mercado chinês aumente ainda mais, talvez este possa ser um fator importante na formação dos preços no futuro.
Alternativas de sustentabilidade da cafeicultura
As discussões climáticas são uma realidade em diversos âmbitos da vida, indo de debates em escolas de ensino fundamental até as discussões envolvendo estados-nações, grandes empresas e sociedade civil, como é o caso da COP 30, que tem como cidade-sede Belém do Pará, no Norte do Brasil.
Por conta desses movimentos, a cafeicultura também está buscando alternativas para minimizar os impactos ambientais que se refletem nas mudanças climáticas e alta dos preços. Algumas práticas regenerativas vêm sendo adotadas, como a redução de emissão de carbono, regeneração do solo e das lavouras de café. Porém, tais práticas ainda são pequenas neste meio e tem pouca influência na produção mundial do grão. São iniciativas que ajudam a preservar os ecossistemas e a reduzir os impactos negativos na biodiversidade.
Mesmo assim, elas têm ganhado mais atenção por conta dos efeitos adversos das mudanças climáticas na produção de café, servindo como alternativa aos desafios climáticos, que são a principal ameaça à estabilidade da produção.
Qual o papel da COP 30 no preço do Café?
A COP 30 será realizada no final de 2025 e até lá a expectativa é de que a inflação continue em alta por conta das dificuldades climáticas enfrentadas pela cafeicultura em 2025. Por isso, o ano deve ser marcado pela alta do preço do café. Contudo, soluções podem ser encontradas para frear os avanços das mudanças climáticas nas discussões travadas em diversas esferas e com pluralidade de sujeitos para que a sociedade não tenha que enfrentar outros aumentos de preços de produtos que fazem parte do dia a dia dos brasileiros e da cultura do país.
(*Rafael Lédo, estagiário de Jornalismo, sob supervisão de Vanessa Pinheiro, editora de Oliberal.com)
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