Sebos em Belém reinventam a experiência literária com memória, café e música

Na capital paraense, os leitores se mostram animados com as obras que misturam o passado e o presente da região Amazônica

O Liberal

Em tempos de crescimento do consumo digital, os sebos de livros resistem como detentores de acervos que preservam a história cultural, musical, literária e a arte de cada região. Os sebos cumprem um papel fundamental na democratização do acesso à leitura, uma oportunidade acessível a todos os públicos. Em Belém, os pontos de troca e venda de livros têm se reinventado, oferecendo ambientes acolhedores que ainda combinam cafés especiais, lojas autorais, espaços ecológicos, apresentações musicais e muitas outras atrações aos amantes de livros. Ruan Souza dos Santos, criador do ‘Seboso’, conta que o público é cada vez maior e os leitores se mostram animados com as obras que misturam o passado e o presente da região Amazônica.

Os sebos são estabelecimentos dedicados à compra, venda e troca de livros usados. Neles, a literatura encontra novas mãos e novos olhos, pois os espaços se tornam repositórios de histórias, não apenas as escritas nas páginas, mas também as que cada livro carrega consigo: dedicatórias de décadas passadas, marcas de leitura apressada, bilhetes esquecidos entre capítulos. Um exemplo dessa nova abordagem é o “Seboso”, localizado na Casa na Mata, na Avenida Conselheiro Furtado. Criado por Ruan Souza dos Santos durante a pandemia de 2021, o sebo surgiu da necessidade de compartilhar sua paixão por livros e proporcionar acesso à leitura a preços acessíveis.​

“Durante a pandemia, percebi que muitas pessoas estavam em casa, buscando formas de se manterem bem. Sempre fui leitor desde cedo, influenciado pela minha avó, professora aposentada. Ai, começou a haver acúmulo de livros dentro de casa, não tinha como trocar, não tinha como sair. Então, tive a ideia de criar o sebo virtualmente, enviando livros pelos Correios, o que me permitiu alcançar pessoas de outros estados, como Rio de Janeiro e Bahia. Além disso, claro, da circulação aqui em Belém”, conta Ruan.​ Inclusive, entregas de livros para quem está na Universidade Federal do Pará (UFPA) são gratuitas.

image Ruan Souza, criador do Seboso. (Foto: Cristino Martins / O Liberal)

O Seboso oferece um acervo diversificado, incluindo literatura, livros acadêmicos, obras de autores paraenses e até tarôs. “Recebemos livros variados, desde literatura até livros acadêmicos e regionais. Um destaque são os livros do Dalcídio Jurandir, muito procurados por colecionadores. Normalmente, os mais buscados são livros atrelados à história do Pará ou da Amazônia. São livros bem específicos, bem regionais, de autores paraenses. Eu acho isso bem interessante, pois quem mais procura são pessoas do nordeste e do Sul e Sudeste”, destaca Ruan.​

Além da venda, o sebo promove a troca de livros, incentivando a circulação de obras e o acesso à leitura. “Qualquer pessoa pode vir aqui. Recebemos doações, compramos acervos e também fazemos trocas, o que atrai muitas pessoas. Temos um grupo no WhatsApp e sempre estamos falando com pessoas interessadas em fazer essa troca. Aqui não alugamos os livros, é bom destacar”, explica Ruan.​

Seboso

Ruan Souza conta que o nome “Seboso” foi escolhido para ressignificar a percepção comum que muitas pessoas possuem sobre sebos. “Quando as pessoas pensam em sebo, muitas vezes associam a algo sujo, amontoado ou desgastado. Até mesmo a algo ruim, de má qualidade. Então eu quis mostrar que, apesar do nome, oferecemos livros bem conservados, com histórias e dedicatórias únicas. Esses livros são bem cuidados e o melhor de tudo é o conteúdo que eles carregam. Muitas vezes, o livro vem com uma dedicatória. Nem eu, às vezes, via a dedicatória. Mas os leitores recebem o livro e falam: ‘Nossa, aqui tem uma dedicatória’. Manda foto, tudinho, bem legal”, afirma.​

Para Ruan, o sebo é uma ferramenta de democratização da leitura. “O sebo possibilita o acesso à leitura por conta dos preços atrativos e de muitas obras que podem ser consideradas extintas, mas que são encontradas aqui. Já tive casos de pessoas que queriam muito um livro, mas não tinham dinheiro, e eu doei o livro. Acredito que o mais importante é que as pessoas tenham acesso à leitura. Em Belém, os sebos continuam a desempenhar um papel vital na preservação da cultura e no incentivo à leitura, adaptando-se aos tempos modernos e oferecendo experiências enriquecedoras”, conclui.​

Inovação

image Nai Novoa, gerente da Casa na Mata. (Foto: Cristino Martins | O Liberal)

O espaço onde o Seboso funciona também é um atrativo à parte e conta com outros colaboradores. A Casa na Mata reúne natureza, arte, gastronomia e sustentabilidade. Segundo a gerente Nai Novoa, quem busca um livro irá se deparar com múltiplas experiências.

“A Casa nasceu do nosso escritório e, a partir disso, criamos o café, o restaurante, o sebo e passamos a receber exposições artísticas, que sempre mudam. Temos música ao vivo diariamente e programação infantil com contação de histórias aos domingos. É um espaço familiar, que acolhe desde as crianças até os avós”, conta Nai.

seboso

Além do Seboso, a casa abriga um brechó sustentável, uma empresa de áudio e vídeo e segue como vitrine do escritório de arquitetura. “É um espaço plural. A pessoa pode vir tomar um café, apreciar um projeto artístico, ouvir música regional ou simplesmente folhear um livro em meio ao verde. É um convite à pausa, à arte e à leitura”, finaliza Nai.

Serviço:

O Seboso Livraria

Localizado no espaço Casa Namata, na Avenida Conselheiro Furtado, nº 287.

Horário de funcionamento:

Terça a quinta: 9h às 23h;

Sexta e sábado: 9h a 0h;

Domingo: 8h às 22h;

Segunda: fechado.

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