Obras no canal São Joaquim: projeto pode mudar a vida de moradores de 20 bairros

Historicamente, o canal não passou por nenhuma intervenção mais abrangente. Um concurso público nacional reuniu propostas para a criação de um parque urbano no entorno do igarapé.

Laís Santana

O concurso público nacional voltado à criação do Parque Urbano Igarapé São Joaquim, na bacia do Una, em Belém, recebeu 18 projetos e agora segue para etapa de análise. A previsão da Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) e do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), responsáveis pelo certame, é divulgar o resultado preliminar no dia 4 de abril e anunciar no dia 18 de abril o vencedor. Durante a avaliação dos trabalhos inscritos serão considerados critérios nos eixos ambiental, mobilidade e acessibilidade urbana, social, econômico e ambiência amazônica. 

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"O igarapé São Joaquim nunca sofreu nenhuma intervenção, ele ainda corre naturalmente, então a gente precisa de um projeto que tenha características amazônidas, lazer, mobilidade urbana, tem que aproveitar a natureza ao redor do canal porque já tem muitas árvores já  plantadas. É um projeto muito grande que vai da avenida Júlio César até a avenida Arthur Bernardes e deve abrir mais uma saída e entrada em Belém", explica Ivanise Gasparim, titular da Sesan. 

O concurso tem como objetivo a requalificação urbana, ambiental e paisagística da área do entorno do igarapé, passando por 20 bairros da capital paraense. O projeto também prevê a criação do Parque Igarapé São Joaquim, que terá área de 6,48 hectares e 4,6km de extensão. Toda a obra está orçada em R$ 160 milhões e deve passar por licitação ainda este ano. A expectativa da Prefeitura de Belém é que as obras sejam iniciadas no primeiro semestre de 2023.

"Eu acredito que em três anos se conclui esse projeto, a ideia nossa é aplicar pelo menos R$ 50 milhões por ano nessa obra, será um projeto feito por etapas. Os fundos para essa obra serão da própria prefeitura", pontua Ivanise Gasparim. 

image Lixo, mato e assoreamento são alguns dos problemas que podem ser solucionados com as obras no local (Cristino Martins / O Liberal)

O arquiteto José Carlos Raiol, do Departamento de Projetos Especiais da Prefeitura e que também faz parte do júri do concurso, detalha os critérios que estão sendo utilizados para avaliação dos projetos.

"No eixo ambiental serão avaliadas a disponibilidade de área verde para auxiliar no escoamento das águas, na redução da temperatura, as matas ciliares para preservar o igarapé como rio, a qualidade da água. No quesito mobilidade e acessibilidade urbana, o projeto tem que pensar na articulação das vias laterais do canal São Joaquim faz conexão com as ruas e vilas existentes no entorno, com calçadas, abrigos, considerando as rotas acessíveis. No aspecto social, o projeto precisa contemplar a criança, o jovem, o adulto e o idoso, com espaço de encontro e lazer. O quarto quesito é o econômico porque não adianta fazer uma obra como essa sem transformar a vida das pessoas. Serão postos quiosques que sirvam para geração de renda para pessoas carentes, que também receberam qualificação. Por último, queremos que o projeto apresente ambiência amazônica, que os equipamentos reflitam as nossas raízes, que a estética expresse a nossa cultura", esclarece.

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Raiol destaca também que o mais importante da nova empreitada será a transformação promovida na cidade. "Uma obra por si só é um ato de educação, educação sanitária, urbanística, promove o pertencimento das pessoas", ressalta. Após a escolha do escritório de arquitetura vencedor, será realizada uma exposição física e virtual do projeto pelas escolas municipais e universidades. 

image O canal São Joaquim passa por 20 bairros de Belém e nunca teve uma grande intervenção (Cristino Martins / O Liberal)

Moradores acreditam que o projeto é necessário para o canal São Joaquim

Osmarina Conceição, de 60 anos, é moradora das margens do canal São Joaquim há mais de 25 anos e já viu a área passar por muitas transformações. Para a dona de casa, uma obra de revitalização na área é necessária para melhoria da qualidade de vida da comunidade.

"Quando eu vim morar pra cá isso tudo era mato, sempre foi mato, aí depois que fizeram essa rua aqui melhorou bastante. Ano passado, nessa época, o canal encheu e alagou todas as casas daqui, na minha casa foi bem 60 cm de água, tudo foi parar no fundo. Então um projeto como esse, se sair do papel, seria uma honra pra todos nós", afirma.

image O senhor Raimundo Pinheiro acredita que a obra é necessária para transformar a realidade de quem mora no entorno do canal e deve controlar o lixo e riscos (Cristino Martins / O Liberal)

A dona de casa conta que gosta muito de plantar, por isso passou a aterrar uma pequena área as margens do canal onde cultiva banana, acerola, mamão, açaí, temperos e outras plantas. "O último aterro que meu filho jogou aqui veio esses pés de bananeiro e já estão dando. Acaba que aqui se tornou um espaço de lazer que a gente se reúne, mas se for pra trazer melhorias a gente torce pra que essa obra aconteça".

Raimundo Pinheiro também é morador das margens do canal e encontrou na área do igarapé São Joaquim uma forma de garantir o sustento da família. Com aterros e uma estrutura de madeira, o criador de porcos construiu um pequeno espaço para venda da animal. "Eu aterrei essa área porque a gente precisa trabalhar. Se a prefeitura precisar pode pelo menos conversar com a gente, se for para benfeitoria a gente está pronto a desocupar. O projeto é bom para beneficiar o povo daqui", avalia.

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