Naufrágio em Cotijuba: ato em Belém presta homenagem às vítimas e alerta para problemas na navegação
Manifestação foi batizada de "Marajó pede socorro" e começou na escadinha do cais do porto
Um ato foi realizado, na manhã deste domingo (11), em Belém, em homenagem às vítimas do naufrágio na ilha de Cotijuba, na semana passada. A manifestação começou na escadinha do Cais do Porto. Segurando balões brancos e cartazes, as pessoas caminharam até a Praça da República.
A manifestação foi batizada de "Marajó pede socorro". A embarcaçao saiu de Cachoeira do Arari, no Marajó, com destino a Belém, e era clandestina, segundo o governo do Estado.
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"Nos propusemos a fazer essa homenagem às vítimas que estavam naquele acidente, no dia 8, e é uma homenagem misturada com um pedido de ajuda", disse o empresário Jhonata Alves, de 36 anos, que é natural de Salvaterra, na Ilha do Marajó, mas atualmente reside em Belém.
Ele afirmou que o povo marajoara vem sofrendo há muito tempo. "Não só da região ali do Arari, que corresponde a Salvaterra, Soure, Cachoeira, Santa Cruz. Mas também de todo o Marajó”, completou. "Há muitas embarcações clandestinas operando nessas rotas, sem nenhuma fiscalização do poder público. Sem nenhuma estrutura mínima. E esse acidente já era anunciado", afirmou.
Agora é o momento de fazer algo efetivo, diz empresário
Segundo Jhonata, precisou que pessoas perdessem a vida para que as autoridades mandassem mensagens de solidariedade. “Solidariedade a gente precisaria ter enquanto as pessoas estavam vivas. Agora é um momento de realmente fazer algo efetivo para que mude essa realidade. A gente não pode permanecer numa situação em que está. Nós que somos do Marajó temos o rio como o único local de acesso para a nossa ilha. Então as pessoas humildes precisam desses transportes, precisam dessa rota e a gente não pode permanecer do jeito que está”, afirmou.
A manicure Lucidéia Silva, de 40 anos, sobreviveu ao naufrágio da lancha na ilha de Cotijuba. “Nunca imaginei que, no meio da baía, aquela lancha fosse quebrar algo, fosse dar prego. A gente ficou à deriva durante meia hora. E ele (o comandante) dizendo que estava pedindo ajuda, reforço para chegar até nós. Em nenhum momento aconteceu isso”, disse.
“Em nenhum momento ele falou: ‘pega o salva-vidas', o que poderia salvar muitas vidas, cadeirantes, crianças, idosos. Eu agradeço a Deus por estar aqui. Mas luto pelos que foram, pelos idosos, pelas pessoas que estavam sem colete, pelas crianças, e que não conseguiram infelizmente”, completou.
Lucidéia disse que, quando viu a lancha enchendo de água e o desespero dos passageiros, só deu tempo de pegar um colete, que ela nem amarrou. "Não tinha como amarrar. Eu coloquei no meu pescoço. Me empurraram de volta pra lancha antes de eu pular. Estou toda batida. Então eu tirei minha sandália e firmei meu pé para escorregar, tipo cobra, pra poder cair na água. E eu consegui. Mas quando eu vi eu afundei duas vezes ainda. Pensei que eu não ia sobreviver", contou.
Ela acrescentou: "Mas, quando eu olhei pra trás tinha, uma uma bóia com 12 passageiros. Aí deu tempo deu chegar até eles e ficamos durante duas horas, quase três horas, à deriva do mar. Inclusive ele (o dono da embarcação) estava junto com a gente do lado. Ele e a esposa dele. Mas, quando ele viu a ilha próximo, ele nos abandonou. Ele e a mulher dele seguiram. E deixaram a gente lá. Não passou nem uma embarcação".
No desespero, passageiros pediam ajuda divina
Ela contou que, no desespero, os passageiros pediram ajuda divina. "A gente só pedia misericórdia a Deus, pra Deus enviar um filho de Deus. Não passava nenhuma embarcação", contou. "Então foi um pescador... Um pescador que estava pescando pensou que era passeio. Mas, quando ele olhou que não viu mais a embarcação, ele foi. Ele só demorou chegar porque ele estava numa área muito de risco, que foi a uma área ali próximo de Cotijuba. Mas, graças a Deus, Deus enviou esse anjo".
A manicure lamentou que o pescador, infelizmente, não tenha conseguido salvar todos. "Tem corpos ainda desaparecidos. Ele tinha ido buscar um documento que tinha chegado nos Correios em Salvaterra. Mas eu não sabia que essa lancha era clandestina”, afirmou.
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