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Gestantes vivem angústia com suspensão de maternidade no Hospital Anita Gerosa, em Ananindeua

“Um momento tão delicado e a gente ainda tem que passar por toda essa preocupação", diz Dayane Silva Monteiro, que está no nono mês de gestação

Dilson Pimentel

O tradicional Hospital Anita Gerosa, em Ananindeua, anunciou o encerramento do atendimento da maternidade para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir deste domingo (26). A estudante Dayane Silva Monteiro, que tem 30 anos e está entrando no nono mês de gestação, está entre as gestantes que vivem a angústia por causa da suspensão desse serviço.

Entrando no nono mês de gestação, ela está muito preocupada com a possibilidade de o Hospital Anita Gerosa suspender o atendimento pelo SUS. “Eu tenho vários problemas de saúde Eu também precisava de um parto planejado, que já estava marcado. Uma cesariana com laqueadura”, disse. “E aí eu fiquei sabendo que realmente o hospital ia deixar de funcionar. Só que aí a gente ainda estava com aquela esperança que isso não acontecesse. E, daí, aconteceu”, contou.

Na manhã de quinta-feira (23), Dayne esteve no hospital, onde, naquele momento, os profissionais de saúde faziam um protesto pacífico. “Agora a gente está preocupada, correndo contra o tempo, procurando outros hospitais que possam nos receber para poder ter esse atendimento”, afirmou.

Ela lamentou a situação ter chegado a esse ponto. “É uma pena porque é um hospital muito bom. E a gente está perdendo isso, né? É bem complicado”, completou. Dayane disse que o procedimento dela está marcado para 13 de fevereiro. E o que ela fará se o impasse não for resolvido? “Pois é... É pedir que Deus abra outra porta, já que essa, infelizmente, está se fechando. A gente espera que não, mas é pedir a Deus que essa porta continue aberta. Não só para mim, mas para outras mamães que também precisam”, afirmou.

“As mães já estavam com essa expectativa, com tudo pronto, tudo organizado. E, agora, essa preocupação toda de saber como é que vai ficar a situação”, lamentou. “Já estava tudo certo por aqui. Quando agora foi tudo cancelado. Inclusive eu vim aqui atrás do meu encaminhamento para ver se eu consigo dar entrada em algum outro hospital”, disse. Dayane também falou sobre ter mais essa preocupação em um momento tão importante que é a gestação. “Um momento tão delicado e não ter que passar por toda essa preocupação, toda essa ansiedade, sem saber como é que vai ficar”. E detalhe: ela mora no interior do Estado. Em Irituia, no nordeste paraense. A estudante já sabe o sexo do bebê. É um menino.

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"Vai ter demissão em massa”, diz técnica de enfermagem

A reportagem também entrevistou uma técnica de enfermagem que, há 15 anos, trabalha no Hospital Anita Gerosa. “Nós estamos aqui nessa situação precária. A partir do dia 27 (domingo), vai ter demissão em massa devido ao não pagamento da prefeitura”, disse. “Isso já vem ocorrendo há alguns anos, não é só agora”, afirmou. Pedido para não ser identificada, a técnica de enfermagem citou o convênio do hospital com a prefeitura. “Desde o covid que vem esses atrasos. E a gente vem aí com esse medo de perder nossos empregos e a população também ficar sem o SUS”, afirmou.

A profissional de saúde afirmou que, desde agosto do ano passado, o hospital está sem os recursos da prefeitura. “Vamos ficar sem nossos empregos. As mães e a população acabam sendo também prejudicadas. Uma maternidade dessa que vai ser fechada pelo SUS, onde os pacientes têm um atendimento humanizado, de verdade, e a região metropolitana também que vem parar aqui para elas terem o bebê delas”, disse.

Ela falou sobre a apreensão dos trabalhadores. “A gente já recebeu o nosso aviso de que vai ficar desempregado. Então a gente está em busca de uma solução. Outra indignação é saber que a gente tem um médico prefeito obstetra e vai deixar um hospital desses fechar”, contou. Um detalhe: o prefeito da Prefeitura de Ananindeua fica a poucos metros do prédio do ‘Anita Gerosa’. “O prédio da prefeitura aqui do hospital. Então isso deixa a gente mais indignado. A gente como eleitor, a gente como funcionário, a gente como paciente também. A gente, como funcionário, também depende também do atendimento daqui do SUS. Nossos parentes, amigos, enfim. E a gente está nesse impasse em busca de um milagre que possa nos salvar e salvar toda a população de Ananindeua da região metropolitana”.

image Protesto dos profissionais de saúde em frente ao hospital Anita Gerosa, em Ananindeua (Foto: Thiago Gomes/O Liberal)

'Anita Gerosa' é retaguarda para outros hospitais de Belém

Na manhã da última quinta-feira (23), os profissionais de saúde fizeram um protesto em frente ao hospital. Os trabalhadores exibiam cartazes com as seguintes frases: “Para onde vão as mamães e seus bebês”?. “Doutor Daniel, pague o hospital Anita Gerosa” e “Salve os nossos empregos”. O médico ginecologista obstetra Hamilton Borba explicou que, em média, 250 partos são realizados todos os meses na unidade.

“É um prejuízo muito grande, não só para a população de Ananindeua, como para a população do entorno - Santa Izabel, Acará, Moju. Enfim, todos os interiores que a gente atende. Essas pacientes têm acesso a cirurgias, a um parto humanizado e de qualidade, a um atendimento do melhor padrão que existe num hospital do SUS, com agendamento, com cirurgia garantida, sem nenhum tipo de pagamento E isso que está em jogo nesse fechamento do hospital”, afirmou.

Hamilton Borba também comentou que o ‘Anita Gerosa’ é importante para a população, mas também para outros serviços de saúde, como, por exemplo, para a Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará e o Hospital Regional Abelardo Santos. “Nós somos a retaguarda e recebemos pacientes desses outros hospitais. Recebemos pacientes de baixo risco, desafogando o serviço da Santa Casa, que é um serviço muito importante”, explicou.

Para ele, a maior angústia é quando uma grávida tem procedimento agendado e não pode realizar esse procedimento. “O hospital não está recebendo as verbas que deveria receber. É de partir o coração. O ‘Anita Gerosa’ é um hospital que permite a gente exercer a nossa cidadania, porque não fazemos apenas um trabalho, mas prestamos um serviço à comunidade. E ver esse serviço desmontado por falta de verba é muito triste”, contou. Ele trabalha no ‘Anita Gerosa’ desde 2017. “A última contagem que fizemos no sistema de procedimento, de 2017 a 2025, contabilizou mais de 1.800 procedimentos entre parto, cirurgia de mioma, cirurgia de cisto de ovário. Todas elas realizadas pelo SUS, sem sobrar um real dos pacientes”, lamentou. “A minha história profissional eu escrevi aqui no ‘Anita Gerosa’ e é muito triste ver esse serviço ser desfeito”, afirmou o médico.

Entidade que mantém hospital lamenta fechamentos dos serviços

A Sociedade Beneficente São Camilo (SBSC), entidade mantenedora do Hospital Anita Gerosa, de Ananindeua há 20 anos, comunica oficialmente, "e com pesar", o fechamento de suas atividades hospitalares, neste domingo (26), tanto para pacientes do Sistema Único de Saúde quanto para pacientes de convênios e particulares, o que inclui a Maternidade. Permanecerão apenas os serviços de consultas e exames para pacientes conveniados e particulares.

Esclarece a comunidade de Ananindeua que tal decisão foi tomada após várias tentativas de receber o valor devido pela Prefeitura à SBSC, que chega a R$ 3.000.000,00, além de custear o déficit mensal de R$ 800.000,00 que desde janeiro de 2023 vem sendo bancado unilateralmente pela SBSC. Lembra que a saúde financeira de qualquer instituição é fundamental para que se possa cuidar da saúde física e mental das pessoas.

"Quando isso não acontece, a continuidade dos serviços torna-se inviável", informa. "Aproveitamos para esclarecer que o valor de R$ 600.000,00 repassado mensalmente ao Hospital Anita Gerosa pela Prefeitura Municipal foi destinado pelo Governo Federal - ou seja, ele não saiu dos cofres de Ananindeua, que apenas foi o órgão receptor e transmissor do valor, de acordo com o que estabelecem as normas do Ministério da Saúde. Mesmo assim, esse montante não foi suficiente para que o Hospital funcionasse adequadamente, o que exigiu investimentos de R$19.400.000,00 no período de 2023 e 2024, por parte da SBSC, que contratualmente não deveria fazer nenhum aporte para manutenção dos atendimentos".
Diz ainda: "Lamentamos profundamente o que está acontecendo. Para além dos pacientes que ficam sem atendimento também há os colaboradores e médicos que perdem seus empregos. São mais 150 pessoas de um total de 235 colaboradores. Para finalizar esclarecemos que o diretor do Hospital Anita Gerosa nunca esteve à frente das decisões de seu fechamento, tendo sido essa uma decisão da Sociedade Beneficente São Camilo".

Nas redes sociais, moradores criticam decisão da prefeitura

A Prefeitura de Ananindeua informou que, a partir da próxima segunda-feira (27), toda demanda do hospital Anita Gerosa será absorvida pela estrutura da prefeitura de Ananindeua, onde o primeiro Pronto Socorro Municipal contará com equipe de obstetrícia 24 horas por dia para a realização dos partos. Os demais procedimentos serão realizados nas 83 unidades de saúde por toda cidade.

A prefeitura afirma que já destinou mais de R$ 18 milhões ao hospital nos últimos dois anos, pagos mensalmente em parcelas de cerca de R$ 600 mil, não restando assim qualquer passivo. Permanecemos abertos ao diálogo para elucidação de qualquer dúvida.

Só que, na mesma postagem da prefeitura nas redes sociais, os internautas questionaram essa decisão da prefeitura. Um internauta escreveu o seguinte: “Eu exijo que a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Ananindeua venha a público e prove o que está afirmando! Mostrem os documentos, apresentem os comprovantes de pagamento e deixem claro que estão agindo corretamente em relação ao fechamento do hospital que salvou tantas mães e acolheu inúmeros bebês. A população merece respeito e transparência. Provem a legitimidade das suas ações”.

Outra escreveu: “Então, cadê os comprovantes de pagamento?! A equipe de Pediatria em sala de parto, preconizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria? O Pronto Socorro tem estrutura de UCI e UTI neonatal para os RNs prematuros ou nascidos graves? Estrutura de alojamento conjunto que permite alta segura com 48HV do RN? Sinceramente, que grande descaso com a população”.

Outra escreveu o seguinte: “A pergunta que vcs futuras mamães de ananindeua devem fazer é se, nesse pronto socorro, vcs serão a protagonista do parto de vcs, escolhendo a posição que querem ficar, o momento que querem analgesia, o momento que optarem por cesariana. Se vai ter aromaterapia, cromoterapia, musicoterapia, se vão poder entrar acompanhadas da doula e mais o acompanhante de sua escolha, se seus bebês vão sair com todos os testes e vacinas, se vai ter UCI para os seus bebês caso venham a precisar. Se vai ter equipe especializada de prontidão (pediatras, obstetras, enfermeiros obstetras, anestesista, etc). Se vcs terão apoio da equipe multiprofissional para ajudar e orientar na amamentação. Porque tudo isso tem no Anita Gerosa e não vai ter mais a partir de domingo 26/01!!”

Em julho do ano passado, a prefeitura inaugurou o primeiro Pronto Socorro Municipal de Ananindeua, localizado na avenida Mário Covas, esquina com a avenida Hélio Gueiros. À época, foi divulgado que o hospital conta com 75 leitos ao todo, sendo 65 leitos clínico-cirúrgicos e 10 leitos de UTI, o que representa uma expectativa de 2.250 pacientes nos leitos a cada mês. A reportagem esteve no local, no dia 2 deste mês, e a informação é que, embora inaugurado, o hospital não está aberto ao público. A reportagem conversou com uma moradora. Ela pediu para não ser identificada e disse que o hospital não está atendendo a população. Ela lembrou que, na inauguração, houve festa, mas que a população não está sendo beneficiada pela obra.

 

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