'A classe pobre precisa desse atendimento', diz paciente sobre fim do SUS em hospital de Ananindeua
Convênio com a Prefeitura será encerrado em janeiro de 2025; decisão também afeta profissionais da saúde e preocupa usuários do SUS
Pessoas em tratamento de saúde e que buscam atendimento no Hospital Anita Gerosa, em Ananindeua, criticaram na segunda-feira (23) a suspensão dos serviços ofertados pela unidade via Sistema Único de Saúde (SUS), que ocorrerá a partir do dia 26 de janeiro de 2025, diante da falta de financiamento da Prefeitura de Ananindeua. “A classe pobre precisa desse atendimento. Se o convênio for cortado, a comunidade vai ficar desamparada, sem assistência”, lamenta o vigilante José Maria Ferreira Tavares, de 65 anos.
Além da interrupção dos serviços hospitalares para o público geral, a suspensão resultará na demissão de cerca de 150 funcionários que atualmente trabalham na unidade. Em nota, o Hospital Anita Gerosa informou que, a partir de 26 de janeiro de 2025, seguirá apenas com o “atendimento ambulatorial para pacientes conveniados e particulares”.
De acordo com as informações divulgadas, o Hospital tem um déficit mensal de R$ 800 mil, o que segundo eles, inviabiliza a continuidade dos serviços via SUS. “Essa decisão se deve à falta de sustentabilidade financeira da unidade, que há dois anos vem tentando agendar uma conversa formal com a Prefeitura [de Ananindeua] e a Secretaria de Saúde do Município, para resolução desse problema, mas sem sucesso. O déficit mensal custeado pela Sociedade Beneficente São Camilo (SBSC), Mantenedora do Hospital Anita Gerosa, é de R$ 800 mil, valor este que deveria ter o financiamento feito pela Prefeitura. Sem isso torna-se inviável a continuidade da prestação dos serviços”, diz a entidade.
VEJA MAIS
Prejuízo os pacientes
Pacientes do SUS manifestaram na segunda-feira (23) preocupação com a suspensão do convênio. A autônoma Eliete Alfaia, de 48 anos, faz tratamento de aneurisma no Anita Gerosa e reclamou do impacto negativo da medida. “A gente depende muito desse serviço. Se acabar, ficaremos sem alternativa. O atendimento aqui é rápido e eficaz, mas, sem ele, a população vai sofrer muito”, afirma.
O vigilante José Maria Ferreira Tavares, de 65 anos, também demonstrou indignação. “O prefeito, que é médico, deveria cuidar de nós. Em vez disso, ele corta o convênio e deixa a comunidade desamparada. A gente precisa de assistência e, sem o atendimento do hospital, não teremos para onde ir”, critica. José conta que enfrenta dificuldade para conseguir acesso a serviços de saúde em Ananindeua e que, às vezes, depende da ajuda financeira de terceiros, como da comunidade religiosa que frequenta, para garantir atendimento de saúde.
“Foram feitas todas as tentativas para evitar essa decisão”, diz Hospital
O Hospital Anita Gerosa enfatizou, em nota oficial, que a suspensão dos serviços via SUS foi tomada como último recurso e que “lamenta o que está por acontecer”. “Foram feitas todas as tentativas para evitar essa decisão. Estamos abertos ao diálogo e esperamos um acordo em prol da população de Ananindeua”, diz o texto. A direção também informou que a Secretaria de Saúde do Estado do Pará (Sespa) marcou uma reunião com a administração da unidade para a manhã de segunda-feira (23), porém, não deu detalhes sobre a realização do encontro nem sobre os possíveis encaminhamentos tomados.
Segundo a administração do Anita Gerosa, no dia 26 de novembro deste ano, as autoridades de Saúde em todos os âmbitos de Governo, Conselhos de Saúde e demais órgãos de interesse da sociedade foram comunicadas de que “o convênio firmado entre o Hospital e a Prefeitura/Secretaria Municipal de Saúde para prestar atendimentos aos pacientes do SUS seria rescindido em 60 dias, ou seja, em 26/01/25”.
“Informamos ainda que no dia 26/01/25 o Hospital encerrará os atendimentos hospitalares a todos os públicos, permanecendo com os serviços ambulatoriais (consultas e exames) apenas para os pacientes conveniados e particulares. Infelizmente, essa decisão implicará na demissão de cerca de 150 colaboradores, número ainda em definição”, diz o texto.
De acordo com o Anita Gerosa, no sábado (21), “pela primeira vez houve contato da Prefeitura com o Hospital, para agendamento de reunião, o que ocorrerá em breve, e em data a ser agendada”. “Esperamos que possamos chegar a algum acordo em prol da população de Ananindeua, lembrando que o Hospital Anita Gerosa é o único a prestar o serviço de Maternidade na cidade”, destaca.
Em nota, a Prefeitura de Ananindeua, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), afirmou que “os repasses para o Hospital Anita Gerosa são mensais e que os pagamentos estão em dia, bem como não existe dívida com o conveniado em relação ao ano de 2023”. “O hospital recebeu, em 2023, recursos da ordem de R$ 8.411.006,50 do Fundo Municipal de Saúde. Em 2024, o valor repassado já chega a R$ 9.357.028,51.
“A Prefeitura de Ananindeua informa, ainda, que, no último dia 6 de dezembro, repassou ao Anita Gerosa exatos R$ 649.978,35, relativos ao repasse normal do mês. A prefeitura deverá efetuar os pagamentos relativos aos faturamentos da competências pendentes dentro do cronograma normal de desembolso”, diz o texto.
Já a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa) detalhou que se reuniu com representantes do Hospital Anita Gerosa, nesta segunda-feira (23), para discutir a continuidade dos serviços SUS na unidade. "O Hospital apresentou uma proposta, que passará por avaliação junto ao corpo técnico da Sespa", finaliza o comunicado da pasta. O Hospital Anita Gerosa também foi procurado para detalhar sobre o que foi deliberado no encontro. A reportagem aguarda retorno.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA