Família Hope orienta famílias a acolher pessoas trans em Belém
No Dia da Visibilidade Trans, um café da manhã, em Belém, reforçou a luta contra a discriminação que costuma ocorrer dentro da família
Ser vítima de discriminação pela própria família ao ponto de ter que abandonar o local que deveria ser o seu porto seguro diante das adversidades. Essa, infelizmente, tem sido a única saída para muitas pessoas trans, aquelas que não se identificam com o sexo biológico com o qual nasceram. As histórias se repetem em vários contextos sociais e culturais mundo afora. Porém, a luta pelos direitos de quem está inserido nesse segmento é permanente e, todos os avanços nesse sentido ganharam ainda mais significado neste domingo (29), Dia da Visibilidade Trans. Em Belém, a família de Victor Lucas Martins de Almeida, 16 anos, um adolescente trans masculino, é o exemplo de que o amor e o respeito suplantam qualquer diferença.
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Na manhã deste domingo, a família Almeida, incluindo a avó de Victor, Maria de Lourdes, de 66 anos, fez questão de participar do café da manhã simbólico que marcou a luta por direitos das pessoas trans, organizado pelo coletivo Família Hope na Praça da República.
Victor é filho de Luciana de Ameida, 41 anos, cabeleireira, vendedora de cosméticos e moradora do bairro do Tapanã. Ele fundou a Família Hope (do inglês, esperança), um coletivo que orienta familiares de pessoas trans quanto à importância de entender como funciona esse universo e do papel fundamental da família no processo de reconhecimento e ressignificação de quem busca ser visto e aceito como é.
"O Victor teve a ideia de fundar a Família Hope, o que eu fiz foi simplesmente acolhê-lo. Desde os 3 anos dele passei a observar as características do comportamento dele, só que eu nunca fui uma mãe incisiva, eu sempre respeitei o espaço dele, aliás, como ocorre até hoje. Na escolha do nome - porque é muito importante para a pessoa trans se identificar - e em outras decisões eu sempre deixei ele bem à vontade, ", destaca Luciana.
Ela ressalta o que seu outro filho, o pedagogo Fábio Almeida, de 22 anos, também se aliou à família no acolhimento a Victor. "Ele orienta, ele protege o irmão", salienta Luciana.
O coletivo Família Hope tem menos de um ano de funcionamento - o grupo começou a atuar em 3 de setembro de 2022. "A ideia do Coletivo é incentivar as famílias para que apoiem seus filhos, porque as outras pessoas até aceitam, mas, não apoiam; aceitar não é só deixar ficar em casa, garantir um prato de comida, roupa lavada; apoiar é ver o que está fazendo, cuidar, ainda mais quando são adolescentes. Enfim, é amar, é não deixar de lado e fazer o que bem quer, porque é LGBTQIA+, isso não tem nada a ver. É sua obrigação, enquanto pai e mãe, pelo menos até que eles completem a maioridade, procurar saber o que seu filho está fazendo, onde está, com quem", pontua Luciana.
A mobilização da família é por Victor e também por outras pessoas trans. "A luta é por ele e pelos nossos, que foram sendo agregados por meio do nosso amor", destaca Luciana, acrescentando que as pessoas trans enfrentam uma infinidade de desafios. "Na escola, no emprego, em casa, em todo lugar eles passam por situações que ninguém imagina e, não poder contar com o apoio nem dos familiares é algo muito doloroso", defende.
O pai de Victor Lucas, o motorista de aplicativo Alrymar Martins, 46 anos, concorda com a necessidade de se superar a discriminação em casa. "Para a criança sofrer preconceito dentro de casa é muito prejudicial, porque isso vai refletir na vida adulta. O pai tem que sempre respeitar, dar amor, carinho, sem preconceito", afirma Alrymar.
Ele revela que nunca sofreu qualquer tipo de discriminação ou agressão verbal por parte de ninguém por estar sempre ao lado de Victor. "Ele é o meu filho, não há porque ter preconceito. Hoje em dia o cidadão tem que deixar a discriminação de lado e viver a sua vida", acrescenta. O coletivo Família Hope tem apoio de outros organismos, como o Arte pela Vida, em Belém.
Jovem acolhido quer ser juiz para lutar pelos direitos sociais
Victor Lucas Martins de Almeida, 16 anos, entende o acolhimento a família dele como "necessário. "Se eu não tivesse essa liberdade para me desenvolver, pra ser honesto comigo mesmo, enquanto garoto, enquanto sedrd hiumano, eu acho que não seria o que eu sou agora. Muitas pessoas trans chegam a desenvolver problemas físicos, mentais, por conta dessa opressão (de ser dicriminado em casa). Pessoas trans chegam a morrer por doenças decorrentes dessa rejeição", destaca.
"Se eu não fosse acolhido pela minha família, a minha vida seria muito triste, eu acho que não conseguiria seguir em frente", desabafa Victor.
Ele relata que já sofreu discriminação em uma escola por onde passou tempos atrás. "Pessoas trans quando vão a uma consulta médica, mesmo pagando pelo serviço, recebem um tratamento horrível. Felizmente, eu não passei por isso, mas, conheço muitas pessoas já passaram", enfatiza. No 2º ano do Ensino Médio, Victor Lucas pretende cursar Direito e diz que quer ser juiz. Ele lamenta que no Brasil ainda não exista uma lei específica indicando que "transfobia é crime".
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