Belém 408 anos: Bosque Rodrigues Alves e o legado da Belle Époque
Espaço verde deve sua configuração atual às obras modernizadoras de Antônio Lemos
O Bosque Rodrigues Alves faz parte da rotina da população da capital paraense. Seja para os que se exercitam ao seu redor, os que frequentam ou trabalham nas proximidades, ou os que o visitam, o Bosque é um respiro de área arborizada no coração da cidade, um pedaço da floresta amazônica preservada dentro da capital.
VEJA MAIS
Localizado no bairro do Marco, o Bosque mantém a mata nativa da época da ocupação dessa parte da cidade. Algumas árvores, inclusive, são centenárias, como um exemplar de quariquara, que já soma cerca de 400 anos. Com uma área total de 15 hectares, o Bosque abriga 4.987 árvores, de 309 espécies diferentes, 94% delas nativas da região.
De acordo com Christiane Ferreira, titular da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Belém (Semma), pasta que administra o local, o Bosque ganha importância diante do contexto global de discussões sobre preservação ambiental. “Ele ganha cada vez mais destaque como área nativa preservada no centro de uma metrópole. Impacta diretamente na mitigação de carbono, no efeito estufa e na oferta de serviços ambientais, principalmente para a área de entorno, com regulação do regime hídrico, conservação do solo, preservação da flora e da fauna. O Bosque é referência em banco de dados das espécies nativas da Amazônia”, pontua a secretária.
O local também é lar de cerca de 435 animais, de mais de 50 espécies, entre aqueles que vivem em cativeiro, liberdade ou semiliberdade. Alguns exemplos são tartarugas, cotias e macacos.
Visitação
Os animais foram o principal atrativo destacado por Natália Silva, moradora de Barcarena, ao conhecer o Bosque. Presente em Belém para resolver uma questão relacionada a seu carro, ela decidiu visitar o local com o marido. “Como esse procedimento leva duas horas, a gente resolveu entrar aqui para conhecer um pouco. Tem animais que são da nossa região, só que a gente nunca tinha visto, só pela televisão. A gente se encanta”, diz. Ela conta que pretende apresentar o local a seus filhos. “Às vezes, a gente já teve oportunidade de ver, às vezes alguns fazem até parte da nossa infância, mas os filhos da gente já não tiveram essa oportunidade. Com certeza, vamos trazê-los”, garante.
O professor Gustavo Oliveira, do Tocantins, veio a Belém para um show e aproveitou para conhecer pontos turísticos da cidade. Um dos locais escolhidos foi o Bosque. “Despertou o interesse por perceber todo o valor histórico e cultural, ser um traço da história da cidade. Visitando esse ambiente, a gente tem um contato maior com obras de arte, com o espaço, com os animais. A interação é única e é um ambiente muito especial por esse motivo”, opina. De acordo com a Semma, o espaço recebe cerca de 20 mil visitantes por mês.
Educação
Além de ser um ambiente para visitação e passeio, o Bosque realiza atividades educativas relacionadas a cultura, história e meio ambiente. A pedagoga Lorena Campos, diretora da Escola Municipal de Educação Infantil Jesus Maria José, levou uma turma do Jardim II para conhecer o local. “O Bosque oferece uma visita guiada com um profissional adequado, adaptando à faixa etária das crianças, que explica sobre vegetais, animais, sobre cultura, sobre a história do Bosque. Então, é uma oportunidade que elas têm de conhecer um pouco da cidade, porque é um ambiente que faz parte da história de Belém, bem como de usufruir da educação ambiental que o Bosque nos possibilita”, esclarece.
A pedagoga acha que é um espaço que precisa ser valorizado. “É um lugar de preservação ambiental, um pedacinho da mata que a gente tem aqui preservada. Então, é importante que as pessoas valorizem, estejam aqui, conheçam o Bosque, sua história, tanto as pessoas que vêm de fora quanto as próprias pessoas que moram em Belém. A gente está dando oportunidade para as crianças que são dessa redondeza, que moram aqui próximo, mas que às vezes nunca tiveram a oportunidade de estar aqui”, comenta.
Do lado de fora
Não são apenas os visitantes do Bosque que elogiam a existência de um bolsão de arborização em plena Avenida Almirante Barroso. Quem frequenta seus arredores sente o impacto positivo.
A personal trainer Yaly Soares dá aulas de dança em uma das esquinas do Bosque há sete anos. “A proposta aqui é trazer essa vivência ao ar livre. Muito mais do que um exercício físico, é uma terapia, as alunas saem com a alma lavada. Fazemos aqui também por conta da arborização. Você pode perceber, fica o tempo todo batendo vento, é um conjunto de vantagens”, relata. “A importância do Bosque é gigante. A gente precisa desse contato com a natureza, a gente percebe que até o ar aqui é diferente, um clima mais fresquinho”, completa.
A mesma opinião é partilhada por Silvio Santos, autônomo que trabalha na parada de ônibus em frente ao Bosque. “O clima é bom, é fresco, bem ventilado. É muito diferente do que trabalhar em outros locais. Para quem trabalha na rua, é bem melhor”, declara.
Histórico
Idealizado por José Coelho da Gama e Abreu, o Barão de Marajó, o bosque foi inaugurado em 1883, com o nome de Bosque do Marco da Légua, por se localizar no limite da primeira légua patrimonial doada pela coroa portuguesa à administração municipal.
O espaço foi criado durante o boom econômico da borracha, que originou a chamada Belle Époque paraense e sua estética inspirada em Paris. O bosque municipal pretendia ser um “Bois de Bologne”, área verde da capital francesa, na capital paraense.
Foi sob a gestão do intendente Antônio Lemos, a partir de 1900, que o Bosque Rodrigues Alves assumiu as características atuais. Motivado pelo propósito de modernização urbanística de Belém, impulsionada pelo dinheiro da borracha, Lemos promoveu uma reforma no espaço e incluiu as grutas, riachos, cascatas e viveiros. Em 1906, passou a se chamar Bosque Rodrigues Alves, em alusão ao então presidente brasileiro e correligionário de Lemos.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA