Belém 408 anos: população recebe Palácio Antônio Lemos restaurado no aniversário da capital paraense
Prédio construído durante o período áureo da borracha leva o nome de um dos mais importantes intendentes que Belém já teve
No aniversário de 408 anos de Belém, a cidade recebe, novamente aberto ao público, o Palácio Antônio Lemos, totalmente reformado e restaurado. Sede da Prefeitura e do Museu de Arte de Belém, o espaço estava em obras desde 2022.
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Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1942, o palácio leva o nome de um dos mais importantes gestores que Belém já teve. O local abriga, desde 1973, os restos mortais de Antônio Lemos, vindos naquele ano do Rio de Janeiro, local onde havia falecido em 1913, após administrar a capital paraense por 14 anos.
Não foi Lemos o responsável pela construção do palácio: o prédio foi iniciativa do intendente José Coelho da Gama e Abreu. Sua edificação iniciou em 1860, mas só foi concluída mais de 20 anos depois, durante o ciclo áureo da borracha na cidade.
Arquitetura imponente
Inicialmente, foi chamado de Palacete Azul, por conta da cor de sua pintura externa. Foi erguido em estilo neoclássico tardio, com colunas toscanas, triângulos e simetria em sua fachada e ostentando três estátuas de deuses gregos em seu frontão. Interiormente, foram construídas escadarias neogregas em mármore e mosaicos ornamentados.
“O Estilo Neoclássico tardio, ou italiano, corresponde à arquitetura do segundo império brasileiro. A tipologia arquitetônica é caracteristicamente palacial, tanto pelas dimensões quanto pelo uso de pátios internos. Encontram-se na sua fachada diversos elementos empregados na arquitetura neoclássica”, explica George Lima, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará.
Rosa Arraes, historiadora da Fundação Cultural de Belém (Fumbel), conta que o Palácio foi construído para ser sede da Intendência Municipal. “Esse espaço [para sediar a Intendência] não existia naquela época, e a Câmara Municipal sempre mudava de lugar. Então, o Palacete Azul ou Palácio Municipal se tornou sede dos três poderes e passou a abrigar a Câmara, o Fórum e a Intendência”, explica a profissional, que escreveu sua tese de doutorado sobre o prédio.
A mudança de nome do Palácio só ocorreu com a chegada dos restos mortais de Lemos, em 1973, por iniciativa da Câmara Municipal. Eles foram trazidos a Belém por um avião da Força Aérea Brasileira e de corveta do aeroporto até a Escadinha do Cais do Porto, com honrarias.
Reforma de Lemos
Por iniciativa de Antônio Lemos, em sua gestão como intendente, o prédio passou por reforma e mudança na decoração. “Quando Lemos chega ao Palácio em 1897, conforme ele descreve em seu Relatório, as condições do prédio não eram boas, com espaços sujos e deteriorados. Então, ele faz uma grande restauração e uma decoração muito luxuosa, com cortinas, espelhos, obras de artes, porque ele era um mecenas”, detalha Rosa Arraes.
“Lemos realizou uma série de obras que buscaram modernizar os interiores do Palácio, de modo que estes condissessem com a realidade de lucros expressivos da borracha que se aliava à expressão arquitetônica eclética de afinidades francesas, ao invés de italianas. Nesse sentido, o palácio passa por uma grande reforma que busca, por meio do emprego de técnicas e materiais recentes para a época, como as chapas de zinco prensadas com a flor-de-lis, símbolo da monarquia francesa. Novo mobiliário também passa a compor os interiores dos salões, cada conjunto alinhado com um estilo histórico específico que remonta a algum momento histórico europeu”, detalha George Lima.
Ao longo do tempo, várias adaptações provocaram descaracterizações da forma original do Palácio. Na década de 1990, ele passou a sediar o Museu de Arte de Belém (Mabe), com acervos oriundos da Pinacoteca Municipal e do Museu de Cidade de Belém, que inclui mobiliário dos séculos XIX e XX, fotografias, cerâmicas, objetos de interior e esculturas, além de obras de artistas locais, do período áureo da borracha.
George Lima lembra algumas das importantes obras presentes no Palácio. “Há quadros fundamentais à compreensão da construção histórica da cidade, como a tela 'A Fundação da cidade de Nossa Senhora de Belém do Pará', pintura colossal de Theodoro Braga que serviu como certidão de nascimento da cidade, encomendada por Lemos em 1908. Existe ainda o quadro que representa o próprio Lemos, também obra de Theodoro Braga, que atesta a vontade do então líder do Partido Republicano Paraense em se representar como homem forte do sistema político local”, lembra o pesquisador.
Nova restauração
Francisco Damião Neto, diretor de Obras Civis da Secretaria Municipal de Urbanismo de Belém, detalha o processo atual de restauração do Palácio. “Fizemos mapeamento de danos, reforço estrutural. Fizemos também prospecção da pintura, para buscar as cores originais. Especialistas em restauro acompanharam todo o processo”, relata. As prospecções, ou seja, análise das camadas de pintura, acabaram por revelar surpresas, como camadas folheadas a ouro em ornamentos encobertos por tinta ou massa PVA.
Ao mesmo tempo em que a obra buscou dar ao Palácio suas características originais, foram também instalados elementos da atualidade. “É uma conjunção do que nós precisamos de modernidade com o belo do Palácio de antes”, pontua o engenheiro civil. Assim, foi feita instalação elétrica nova, de sistema de combate a incêndios moderno, de estruturas de informática e refrigeração, de espaços com acessibilidade. Futuramente, o prédio contará também com energia solar”, adianta o diretor.
O mestre de obras Ismael Lopes diz que trabalhar na restauração foi grandioso para ele, enquanto profissional da área. “Eu aprendi muito. Tanto que sei até que Antônio Lemos era meu conterrâneo, maranhense”, se diverte.
O profissional considera que restaurações de patrimônios históricos são fundamentais. “A gente tem que preservar, porque, se não preservar, não tem história. E a história daqui é muito boa, não apenas para quem vem de fora ver, mas para o próprio belenense”, arremata.
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