Estrangeiros se encantam por povo e culinária de Belém e adotam a cidade como sua

Acolhimento e calor humano da população belenense são enfatizados por estrangeiros de várias nacionalidades

Àdria Azevedo | Especial para O Liberal
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Em alusão aos 408 anos de Belém, a reportagem de O Liberal decidiu tentar desvendar qual é o olhar estrangeiro sobre a cidade. A partir de entrevistas com pessoas de diferentes nacionalidades, que vieram morar na capital paraense, conhecemos o que elas pensam e sentem sobre Belém e também o que esperam ver melhorar. 

As respostas, apesar de diversas, giraram invariavelmente sobre dois tópicos: o calor humano do belenense em suas relações sociais, que o tornam um ótimo anfitrião para estrangeiros, e a excelência da culinária local.

América

A cubana Maria Antonia Jiménez chegou a Belém em 1995, a convite do Governo do Estado, para desenvolver o Canto Coral no Conservatório Carlos Gomes. Natural de Havana e tendo estudado música em São Petersburgo, na Rússia, ela conta que sua adaptação não foi imediata. “Eu amo Belém, mas minha primeira impressão foi de choque, porque não estava acostumada com muitas coisas. A Rússia é um país calmo e em Cuba eu não vivia nessa tensão de assaltos, violência. Isso me chocou, assim como ver crianças na rua, pedindo, vendendo coisas”, relata. 

“Mas Belém tem uma coisa, que são as pessoas, que são extremamente acolhedoras, receptivas, apoiadoras, e isso foi muito bom para mim. O melhor que esse lugar tem são as pessoas”, elogia. 

“A cidade é naturalmente charmosa, as mangueiras são uma coisa espetacular. Com o tempo que tenho aqui, 28 anos, deu para perceber a evolução da cidade. Mas foram os meus alunos, as pessoas que encontrei aqui, que simplesmente me prenderam”, crava.

Concursada da Fundação Carlos Gomes, a regente do Coro Carlos Gomes não pretende deixar a cidade. “Desenvolvo um trabalho que deu certo, consigo extrair o melhor dos meus alunos. Hoje eu vivo tranquila, a cidade não é mais tão violenta. Quero me aposentar e ficar aqui”, conta. 

image O estadunidense Glenn Shepard tocou banjo, por um período, com uma banda de Belém (Foto: Arquivo pessoal)

O estadunidense Glenn Shepard Jr. é antropólogo e pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi. Em Belém desde 2009, ele aprecia o clima, a cena cultural, a culinária e os espaços de lazer da cidade.

“Desde sempre, me encantei muito com a cidade. Eu achei Belém uma cidade mais arejada que Manaus [onde morava antes]. Eu acho uma cidade muito bonita, com projetos que reavivaram seus elementos, como Estação das Docas e Parque do Utinga”, comenta.

O professor também gostou da atitude acolhedora do belenense. “Eu sou músico também, toco banjo. Um dia fui assistir apresentação do [músico] Luiz Pardal e, no segundo set, eles me chamaram para o palco. Toquei o set inteiro e acabei me envolvendo com a banda. Eu achei muito legal essa abertura de me chamarem para tocar. E a cena musical em Belém é muito boa”, opina. 

Para o pesquisador, a culinária é um capítulo à parte. “Eu acho que o que eu mais gosto de Belém é o açaí. Eu já gostava de açaí em Manaus, e, quando vim para Belém, conheci um açaí ainda melhor, o melhor do mundo. Sou daqueles que toma todo dia”, revela. 

Shepard também não pretende ir embora: “Moro no Marco, adoro o bairro. Pretendo ficar aqui, já faço parte da cidade, com meu açaí, meu tacacá, a vida noturna”.

África

Nathan Nguangu é da República Democrática do Congo, na África Central. Veio a Belém para cursar a graduação em Comunicação Social na Universidade Federal do Pará e hoje já é doutor e faz estágio pós-doutoral na mesma área. Construiu uma vida na cidade, profissional e pessoalmente.

image Nathan Nguangu, da República Democrática do Congo, casou com uma paraense e fez suas pesquisas em Comunicação Social sobre a cidade de Belém (Foto: Ivan Duarte | O Liberal)

“Vim para fazer faculdade, há 12 anos. Escolhi Belém porque não gosto de extremos em relação ao clima, nem muito quente nem muito frio. Pesquisei e vi que Belém tem clima tropical, assim como o Congo”, explica o acadêmico.

O processo de adaptação, para Nathan, também foi um choque. “São valores diferentes, línguas diferentes, porque no Congo se fala francês. Então, tive que reaprender muita coisa, como dizer copo, mãe, avenida”, relembra.

O pesquisador fez seu mestrado e doutorado sobre Belém: no primeiro, falou sobre a representação de taxistas sobre a cidade; no segundo, trabalhou uma cartografia comunicativa da capital. “Acho Belém a cidade do possível. Apesar de tudo, é uma cidade onde se pode viver. E se aproxima do Congo na parte do acolhimento, de as pessoas não serem distantes. Isso é muito importante quando se vem de outro lugar. Então, podemos falar de urbanismo e outras questões, mas para mim o importante foi esse acolhimento”, ressalta.  

Nathan também não pretende ir embora. “Tem outros congoleses que vêm para cá e depois acabam indo para outras partes do Brasil. Mas, como meu objetivo era estudar e me adaptar ao clima, me estabeleci aqui e casei com uma paraense, Ana Cláudia”.

Ásia

O Instituto Confúcio, em Belém, é uma instituição que promove língua, cultura e história chinesas. Parceria entre a Universidade do Estado do Pará (Uepa) e a Shandong Normal University, da China, a instituição conta com dois diretores: um brasileiro e um chinês, que muda periodicamente.

image Professora chinesa Sun Jing veio dirigir o Instituto Confúcio de Belém e já está aprendendo a cozinhar comidas regionais (Foto: Ivan Duarte | O Liberal)

Atualmente, a diretora chinesa é a professora Sun Jing. Natural do nordeste da China, Sun chegou em Belém em 2022. Para ela, o suporte que recebeu da população local fez toda a diferença na sua adaptação.

“Recebi muito apoio da Uepa e dos colegas e alunos do Instituto. Isso fez meu trabalho e ambiente se tornarem muito confortáveis, como se eu estivesse trabalhando na Chiina”, avalia. Ela também acha que gostar da comida local facilita o processo. “A convite de alunos, fui em um festival de gastronomia e comecei a provar as comidas: maniçoba, vatapá, açaí. Adoro unha de caranguejo. Acho que gostar da comida ajuda inclusive a quebrar as barreiras linguísticas”, analisa. A professora conta que decidiu aprender a cozinhar as comidas regionais e já sabe fazer vatapá.

A previsão de permanência da diretora, inicialmente, era de dois anos, mas ela diz que pretende estender para pelo menos mais uns três ou quatro. “Belém é um bom lugar para se morar. As pessoas são muito amigáveis, me cumprimentam na rua, você se sente bem-vindo. Além disso, tem um clima bom. Venho de um lugar com inverno muito frio e verão muito quente. O tempo aqui é como estar em um resort. Parece que estou curtindo feriados todos os dias”, se diverte.

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