Belém 408 anos: Bairro do Marco representa a expansão da cidade; entenda
Urbanização da área, na virada do século XIX para o XX, foi realizada por Antônio Lemos, baseado em projeto do engenheiro Nina Ribeiro
O bairro do Marco, um dos mais centrais e populosos de Belém, deve sua criação ao período da Belle Époque paraense, impulsionada pelo boom econômico do ciclo áureo da borracha. A meta era expandir a cidade em direção ao marco da primeira légua patrimonial da cidade.
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Ainda em 1627, a Coroa Portuguesa concedeu, à administração municipal de Belém, a área territorial que compreendia uma légua a partir do local de fundação da cidade. Na época, foi erguido, em madeira, um marco dessa légua, na frente de onde hoje fica o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade do Estado do Pará, próximo ao Bosque Rodrigues Alves. Em 1928, o monumento foi reconstruído, e perdura até hoje, na Avenida Almirante Barroso. Foi esse marco da primeira légua que deu nome ao bairro.
Até o fim do século XIX, a área era considerada uma parte afastada da cidade, onde famílias mais abastadas tinham as chamadas rocinhas, espécies de casas de veraneio. Em 1883, o engenheiro Manoel Odorico Nina Ribeiro elaborou um plano urbanístico para a região, com algumas características aos moldes europeus da época, como ruas largas. O planejamento serviu de guia para as obras do intendente Antônio Lemos para urbanização e embelezamento da cidade, a partir de 1897.
De acordo com José Júlio Lima, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará, o desenho do bairro teve como princípio uma grelha. “Era uma espécie de desenho muito regular, em que as quadras vão comportar lotes padronizados e uma hierarquia. A partir do que era a linha de trem [da Estrada de Ferro Belém-Bragança], você vai ter vias perpendiculares. Esse desenho foi muito importante para garantir o crescimento da área urbana da cidade dentro da primeira légua patrimonial”, explica.
O docente esclarece que o desenho pode ser associado ao movimento da Belle Époque. “Não exatamente aquela situação do que seria Paris, mas mais no sentido de esforço de modernização”.
Os nomes de várias de suas ruas remetem à Guerra do Paraguai, terminada em 1879, data relativamente recente na época da criação do bairro. Assim, Avenida Duque de Caxias e Avenida Almirante Barroso ganharam nomes de heróis daquela guerra. Já a Travessa Humaitá faz referência a uma das batalhas do conflito.
Além desses nomes, o bairro ainda conserva algumas das configurações originais, segundo José Júlio Lima . “Não o desenho das edificações, mas o plano geral, a situação das vias, as larguras que foram respeitadas, e também o ordenamento das quadras”, pontua o professor.
O bairro hoje
Na atualidade, o bairro do Marco é considerado uma área de classe média, com crescente processo de verticalização. Nele se concentram vários órgãos públicos, unidades educacionais e estabelecimentos comerciais, inclusive bares e restaurantes. Um de seus maiores símbolos é o Bosque Rodrigues Alves, que conta com 15 hectares de mata nativa preservada, no coração de Belém. Abriga também sedes de três dos principais clubes paraenses: Remo, Paysandu e Tuna Luso Brasileira. Além disso, sedia o Grupo Liberal, na Avenida Rômulo Maiorana, assim chamada em homenagem ao fundador do jornal.
Essa avenida, antes chamada 25 de Setembro, foi o local que Sandra Costa escolheu para morar e trabalhar. Ela conta que, há 15 anos, foi convidada por uma amiga para passar o dia nas proximidades da rua e acabou gostando. Se mudou para Romulo Maiorana e nela montou um pequeno negócio, uma barraca de venda de café da manhã.
“Eu vim passar um dia com uma amiga e eu fiquei apaixonada pelo bairro, pelas árvores, pela paz. É um bairro que tem muita paz. É um bairro de idosos e eles acolhem você, é muito gostoso. Quero permanecer aqui o resto da vida”, planeja.
O canteiro central do quarteirão onde fica o café de Sandra é muito limpo e organizado. Ela relata que é ela mesma a responsável. “Eu sempre mantenho limpo aqui, até porque trabalho com comida. Lixo aqui não fica. Acho que é muito importante os próprios moradores cuidarem, temos que fazer a nossa parte”, pontua.
O comerciante Leôncio Donza é nascido e criado no bairro do Marco, mais especificamente na Avenida Duque de Caxias. “Tenho 61 anos e há 61 estou aqui. Morava na casa da minha mãe, a alguns quarteirões daqui, mas depois comprei essa casa e, 35 anos atrás, abri essa loja, que dá certo até hoje”, conta, referindo-se a um comércio de materiais de refrigeração. “Acho que [o bairro do Marco] é um bom bairro. Os moradores são excelentes. Tem violência, como em todo lugar, mas aqui é muito menor. Eu me sinto bem seguro”, afirma.
Ele lembra de como era o bairro na sua época de infância e adolescência. “Essa avenida era um matagal. Onde hoje tem a pista, era mato, e onde agora é o canteiro, tinha a pista e a parada de ônibus. Minha mãe vendia tacacá lá. Aí o bairro foi crescendo e agora está uma excelente avenida”, opina.
A feirante Francisca Gonçalves, de 74 anos, trabalha há 50 anos na Feira da Bandeira Branca, na Avenida Doutor Freitas. Ela diz que, mesmo com problemas de saúde e tendo auxílio do marido para cuidar da sua barraca de frutas, gosta muito de ir ao local diariamente. “Estou quase sem andar, mas eu venho para cá só para ficar olhando, conversando. Sempre gostei de trabalhar aqui”, relata. Raimunda também mora no bairro do Marco. “Para mim é excelente. É um bairro bom de se trabalhar, de morar. Eu gosto porque não tem muito assalto, as vizinhanças são boas. Meu vizinhos são maravilhosos”, elogia.
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