Autonomia do sono infantil: quando e como ensinar o bebê a dormir sem ajuda?
Especialista explica o impacto do sono independente na saúde da criança
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O sono infantil é um processo fisiológico essencial para o crescimento e desenvolvimento dos pequenos, mas o ato de adormecer, ao contrário do que muitos imaginam, é um comportamento aprendido. "A gente não nasce sabendo adormecer", explica a médica do sono Maria Claudia Oliveira. Segundo ela, quanto mais autonomia a criança tiver nesse processo, melhor será sua relação com o sono no futuro. O desafio, no entanto, está na forma como os pais conduzem esse aprendizado, muitas vezes sem perceber que práticas comuns podem dificultar o sono independente.
O embalar na rede, o uso de chupeta e a amamentação como ferramenta de adormecimento são alguns exemplos que podem criar dependências. "Se o adormecimento inicial foi vinculado a essas ações, quando o neném despertar durante a noite, ele vai recorrer a essas mesmas ferramentas para retomar o sono", alerta Maria Claudia. Esse ciclo acaba prejudicando a autonomia da criança e exigindo constantes intervenções dos pais.
A médica explica que o momento ideal para iniciar a construção desse hábito ocorre por volta dos seis meses de idade. "É quando a criança já tem uma produção própria de melatonina mais eficiente e começa a sedimentar o sono noturno", diz. A recomendação é adotar um ritual de sono consistente, com um ambiente calmo e sem estímulos externos.
"O ideal é que a amamentação ocorra antes desse ritual. O momento do sono deve incluir um banho relaxante, uma massagem, uma música suave e uma conversa tranquila, sempre colocando o bebê no berço sonolento, mas ainda acordado", detalha.
Os despertares noturnos são normais e acontecem com todas as pessoas, inclusive adultos. "Nós temos, em média, cinco ciclos de sono durante a noite, e despertamos ao final de cada um. A diferença é que, como sabemos adormecer novamente, retomamos o sono com facilidade", explica Maria Claudia. No caso dos bebês, os ciclos de sono são mais curtos e, sem autonomia, eles precisam de ajuda para dormir novamente. Para evitar isso, a recomendação é interferir o mínimo possível. "Se despertar, mantenha no berço, faça carinho, mas evite balançar, dar chupeta ou mamadeira a cada despertar", orienta.
O impacto da falta de um sono de qualidade pode ser significativo para a saúde da criança. Segundo Maria Claudia, além de estar diretamente ligado ao desenvolvimento cerebral, o sono regula hormônios essenciais para o crescimento, o apetite e até o comportamento. "Crianças que dormem mal tendem a ser mais irritadas e reativas, além de terem dificuldades para processar informações e se concentrar", explica. O primeiro passo para garantir um bom descanso é organizar a rotina do dia. "Uma boa noite de sono começa na hora que a criança acorda. Exposição ao sol, brincadeiras ao ar livre e uma rotina previsível são fundamentais para um sono tranquilo", afirma a especialista.
Pequenas mudanças transformadoras
A costureira Fabrícia Castro, moradora de Ananindeua, é mãe de Bento, de 10 anos, e Betina, de 1 ano e 11 meses, e percebeu na prática como pequenas mudanças podem transformar o sono dos filhos. "Meu filho mamava de madrugada e não tinha um sono regular. O pediatra pediu para cortar a amamentação noturna e, quando fizemos isso, ele passou a dormir direto", relata. A experiência com o primogênito ajudou na criação da caçula. "O segundo filho é bem mais fácil. Aplicamos o que aprendemos e ela já dorme sozinha", conta.
Outro fator determinante para um sono saudável é o controle do uso de telas. "Antes de dormir, isso agita a criança, então evitamos televisão e celular", diz Fabrícia. Além disso, ela percebeu que os filhos dormem melhor à noite quando gastam mais energia durante o dia. "Se eles ficam acordados à tarde e brincam bastante, dormem melhor", completa.
Construir uma rotina de sono independente pode ser um desafio para muitas famílias, mas os benefícios a longo prazo compensam. "Uma criança que dorme bem tem mais qualidade de vida, cresce de forma saudável e se desenvolve melhor. E, claro, pais descansados também ganham em qualidade de vida", conclui Maria Claudia.
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