Belém 408 anos: conflitos com indígenas e fixação como polo comercial marcaram o início da cidade
Fundação de Belém pelos portugueses foi estratégia para assegurar domínio e expulsar outros europeus da região
Considera-se que Belém foi fundada em 12 de janeiro de 1616, pelos portugueses. Porém, antes disso, outros exploradores, sejam eles espanhóis, franceses, holandeses ou ingleses, já percorriam a região e estabeleciam trocas comerciais com os habitantes locais, os indígenas tupinambás.
Em 1612, os franceses ocuparam uma região do atual estado do Maranhão e fundaram a cidade de São Luís, construindo o forte de mesmo nome. A presença francesa era vista como uma ameaça aos portugueses, que, apesar de até então não terem investido na ocupação da região amazônica, temiam perder seu território para os estrangeiros.
VEJA MAIS
Quando os franceses que estavam no Maranhão avançaram em direção ao estado do Pará, a Coroa Portuguesa reagiu. “A atenção portuguesa para o Norte da Colônia foi despertada pela invasão e ocupação francesa no Maranhão, a partir de 1612, e o deslocamento da esquadra francesa para o litoral do atual Pará, onde fizeram aliança com os Tupinambás”, conta o historiador e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), José Alves de Souza Júnior.
Após a expulsão dos franceses de São Luís pelos portugueses, o capitão Castelo Branco foi enviado ao Pará para assegurar o domínio do território. “A expedição de Francisco Caldeira Castelo Branco foi enviada, depois que Jerônimo de Albuquerque e Alexandre de Moura expulsaram os franceses do Maranhão”, explica José Alves.
A expedição liderada por ele saiu de São Luís e chegou à Baía do Guajará em 1616. Uma área mais alta e em posição estratégica foi escolhida para a construção de uma fortificação, para proteger a região. Nesse local foi construído o marco inicial da cidade, o Forte do Presépio, dando origem ao povoado de Feliz Lusitânia, posteriormente alçado à condição de município e nomeado Santa Maria de Belém, dando origem ao nome atual da cidade.
Primeiras décadas
Os anos iniciais de Belém foram marcados por conflitos. Portugueses lutaram tanto contra estrangeiros interessados na região quanto contra os indígenas, revoltados com a exploração de que eram vítimas. Um levante tupinambá, que envolveu várias batalhas entre 1617 e 1621, resultou em várias mortes e prisões de indígenas, assim como em retaliações dos portugueses sobre as aldeias tupinambás.
A mão-de-obra escrava foi usada para erguer a cidade, com suas primeiras ruas e edificações. Além do primeiro forte, o do Presépio, foram construídos outros fortes e também igrejas e casas de taipa. A primeira rua, à época denominada Rua do Norte e hoje Siqueira Mendes, foi construída ao lado do primeiro forte. A segunda rua foi a Espírito Santo (hoje Dr. Assis), a terceira a Rua dos Cavaleiros (atual Dr. Malcher) e a quarta a Rua São João (agora chamada João Diogo).
As características geográficas da área onde Belém foi fundada determinaram o seu modo de expansão. Suas ruas foram abertas seguindo dois vetores: um acompanhando o rio Guamá e o outro a Baía do Guajará, originando os primeiros bairros: Cidade Velha e Campina. A cidade se desenvolveu em torno do rio e só depois teve penetração para áreas mais afastadas da orla.
Economicamente, Belém se transformou em um polo comercial, porta de entrada para a região amazônica. Os portugueses tinham interesse na exploração das especiarias chamadas “drogas do sertão”: cacau, urucum, castanha-do-pará, baunilha, guaraná e vários outros itens considerados exóticos para os europeus da época, para uso na culinária, perfumaria e medicina.
Belém, então, centralizava as exportações das drogas do sertão, oriundas do extrativismo da floresta, para o mercado internacional. Por isso, na área que hoje abriga o Mercado de Ferro do Ver-o-Peso, foi criada, em 1625, a Casa de Haver-o-Peso, onde eram arrecadados tributos, tanto dos itens exportados quanto dos produtos europeus trazidos à cidade.
Ocupação
Segundo o historiador José Alves, após a época de sua fundação, no século XVII, Belém teve outros quatro grandes períodos de ocupação. O primeiro foi durante a administração do Marquês de Pombal sobre a colônia, quando foi criada a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, que intensificou a presença de escravizados africanos para atuar na agricultura e comércio. O segundo foi durante o chamado ciclo áureo da borracha, entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX, quando milhares de nordestinos migraram para a região. Foi nessa época que, por conta do boom econômico da borracha, ocorreu a Belle Époque paraense, com grande desenvolvimento da cidade, transformada por Antônio Lemos na “Paris n’América”.
O terceiro período de ocupação foi durante a ditadura Vargas, quando houve um segundo ciclo da economia da borracha, para atender as necessidades estrangeiras durante a Segunda Guerra Mundial, e, mais uma vez, milhares de nordestinos foram trazidos para a região, ficando conhecidos como “soldados da borracha”. Já o quarto período, segundo o professor da UFPA, foi na década de 1970, “durante os ‘anos de chumbo’ da ditadura civil-militar do governo Médici, quando foram instalados grandes projetos agropecuários e minerais na Amazônia e foi desenvolvida uma política de ocupação da região, assentada no slogan ‘Terras sem homens, para homens sem terras’”.
Hoje, Belém tem cerca de 1,3 milhão de habitantes, segundo o Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Partindo dos bairros iniciais, se expandiu para mais distante da orla e hoje ocupa cerca de mil quilômetros quadrados, divididos em 70 bairros, já incluindo os distritos de Icoaraci, de Outeiro e de Mosqueiro.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA