Prefeitura gasta mais de R$ 4 milhões com novas paradas, mas até agora apenas cinco estão prontas
Prefeitura gastou quase R$ 400 mil contratando empresa para instalação de novos abrigos. Quase quatro meses após início do contrato, apenas cinco unidades foram entregues.
Elas estão por todos os lugares de Ananindeua. Guanabara, Jaderlândia, Júlia Seffer, Águas Lindas, Icuí ou Cidade Nova. Ao percorrer os bairros da cidade, o que se vê são paradas de ônibus que mais parecem esqueletos de metal abandonados pelas vias. Tetos quebrados, assentos danificados ou impróprios, escuridão. A maior parte dos pontos já nem sequer serve de abrigo aos passageiros, que se protegem do sol e da chuva como podem, em marquises aleatórias ou até mesmo à sombra dos postes de energia elétrica.
Esse é o retrato do sistema de transporte de Ananindeua há vários anos tortura gerações de moradores do município. Muitos não sabem responder o que é pior, se os veículos sucateados ou os abrigos abandonados em todos os cantos da cidade. Como na BR-316, no trecho que compreende os bairros da Guanabara e Jaderlândia, porta de entrada de Ananindeua.
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Em frente a antiga fábrica de refrigerantes Garoto, o ponto de ônibus está abandonado há muitos anos. E nem quando foi inaugurado serviu aos moradores. A escuridão e a insegurança do local fez com que os próprios passageiros criassem um outro ponto de ônibus, improvisado há anos em frente a um supermercado.
“Muita gente já foi assaltada nessa parada, tanto quem pega ônibus do lado da Guanabara como quem pega ali no Jaderlândia. De dia as pessoas se protegem do sol embaixo da passarela e quano chove é aquele alagamento, uma coisa humilhante, muita gente vai se proteger nos toldos dos vendedores. Esse problema persiste há mais de dez anos, entra prefeito e sai prefeito e nada. Tanto é que a parada oficial está só de enfeite, pois as pessoas criaram a parada do Líder BR, porque é mais seguro. Os próprios motoristas já param direto na frente do supermercado”, diz Rafael Rodrigues, morador da rua 1º de Maio, no bairro da Guanabara.
O drama de quem mora nos bairros nas proximidades da BR-316 é o mesmo de quem mora na Cidade Nova. O último dia 2 não foi fácil para o senhor André Nunes, morador da Cidade Nova 6. O aposentado, que mora próximo à avenida SN 24, precisou ir até a casa de familiares para pegar um dinheiro emprestado. Quando começou a caminhar até o ponto de ônibus mais próximo de sua casa, olhou para o céu. As nuvens carregadas anunciavam o tamanho do ‘toró’ que viria. Pensou em desistir e voltar para casa, mas lembrou-se que precisava do dinheiro para o dia seguinte, então continuou. Antes de chegar na parada, que fica próxima ao Corpo de Bombeiros da cidade, a chuva desabou de uma vez só. Correu até a parada em busca de proteção, mas esqueceu que a mesma já estava sem cobertura há anos. O jeito foi atravessar a rua e se proteger na marquise de uma fruteira, já todo molhado.
“Eu me sinto desconfortável, pegando sol e chuva toda vez que preciso pegar ônibus. As vezes, como aconteceu nesse último toró que caiu, temos que nos proteger nas marquises das casas ou em alguma coberta. O prefeito diz que está trabalhando bastante, mas ele esqueceu das paradas. Não tem uma com cobertura aqui na SN24 na hora da chuva tem que se molhar, isso sem falar nos assentos inadequados, quebrados. Ele tem que olhar pra essas coisas, porque que tem crianças, idosos, deficientes que precisam disso diariamente, aí não pode ser assim”, diz o aposentado.
Precisar de ponto de ônibus pela avenida SN 24, aliás, é um martírio. A equipe de reportagem de O Liberal Ananindeua constatou que todos os abrigos dessa que é uma das principais vias da Cidade Nova estão sucateados. Além de não atenderem a alta demanda de passageiros, principalmente nos horários de alto fluxo, os pontos estão com tetos e assentos quebrados, deixando a todos expostos a imtempérie. “Me sinto humilhado todos os dias”, diz senhor André.
ATRASO NA ENTREGA DE PARADAS NOVAS
A prefeitura de Ananindeua contratou uma empresa para construção de novos abrigos/paradas para a cidade. Segundo o contrato firmado entre as partes no dia oito de setembro, a empresa Avantti Indústria e Comércio de Mobiliários Urbanos, Esportivos e Lazer recebeu R$ 4.279.699,00 para instalar 200 abrigos novos (Serão dois tipos de abrigo) em todos os bairros do município. Cada um custa aos contribuintes algo em torno de R$ 27.000,00. Passados quase quatro meses após o início do serviço, apenas cinco pontos foram entregues, todos na avenida SN 3.
A demora na instalação das demais unidades está deixando os moradores irritados, principalmente os que dependem do transporte público diariamente. No contrato entre prefeitura e a empresa, uma cláusula determina que as primeiras vinte unidades deveriam ser entregues 45 dias após a instalação do primeiro abrigo, o que não ocorreu até o momento.
“Essas paradas novas só aqui na frente do supermercado mesmo, mas e nos demais bairros? Ananindeua é grande menino. Se uma empresa já começa errando no prazo, o que esperar do restante? Serão 200 paradas, mas até agora só tem cinco, uma vergonha. Pra onde foi todo esse dinheiro?”, diz Zenita Marques, moradora do bairro 40 Horas, bastante afetado com a falta de paradas também.
A reportagem de O Liberal entrou em contato com a Secretaria Municipal de Transporte e Trânsito (Semutran) na última terça-feira (6), que informou que "A empresa contratada para o fornecimento dos abrigos seguiu todos os critérios de licitações públicas, estando no Portal de Transparência e no site da Prefeitura".
A Semutran ressaltou ainda que é "realizado um estudo de direcionamento para que os abrigos sejam instalados, levando em consideração o espaço adequado, ruas pavimentadas e sinalizadas. Todas as vias que estão recebendo esses serviços, serão contempladas com os novos abrigos", diz a nota.
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