Infecções por HIV em Ananindeua crescem e cidade é a 9º com mais casos no Brasil

Ananindeua aparece na 9ª posição do ranking, com índice de 6,319 casos da doença por 100 mil habitantes no período de 2014 a 2018

Igor Wilson
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Até hoje Ricardo Tavares (nome fictício) não sabe descrever o que sentiu quando recebeu o resultado do exame que o atestou com o vírus HIV. Ele havia emagrecido bastante num curto espaço de tempo, seus amigos da igreja já tinham percebido. Alguns perguntavam se ele estava bem, se tinha ido ao médico. Durante alguns meses, ele ignorou os sinais. Achava que estava com alguma coisa no estômago, talvez uma bactéria, mas nada grave, até que um dia aquele incômodo passou a ser uma dor insuportável e Ricardo precisou ir a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Cidade Nova. Era apenas o início de um longo martírio envolvendo negligência, displicência e demora nos atendimentos que quase lhe custaram a vida.

"A primeira vez que fui o médico disse que não era nada, que era alguma infecão alimentar ou excesso de vermes, me passou um remédio, me mandou comprar mais alguns e me mandou para casa.  A dor voltava e eu ia lá pra ele me mandar pra casa. Até que um dia a dor era tão insuportável que não conseguia andar. Foi quando ele enfim passou uns exames e descobri que estava com tuberculose pleural", conta.

O jovem de 22 anos lembra que a descoberta da tuberculose era apenas o início do drama. Após uma outra longa espera para saber o que tinha causado uma doença tão incomum, Ricardo descobriu que era portador do vírus HIV e que a doença estava se manifestando em seu corpo há meses. A tuberculose havia sido um efeito causado pelo HIV.

“Eu tinha 19 anos, não havia me relacionado com muitas mulheres. Lembro que no dia comecei a tentar puxar da memória tentando perceber qual delas havia transmitido o vírus pra mim, foi uma paranóia, pois também pensava que poderia ter contaminado outras parceiras que transei sem proteção. Você se desespera na hora”, conta, lembrando em seguida que nunca chegou a saber de qual parceira contraiu o vírus HIV e nem se havia contaminado outras pessoas. “Não tive coragem de avisar ninguém com quem havia transado”, diz. 

 

O drama de Ricardo é o mesmo de milhares de moradores de Ananindeua. O município está entre os 10 com maior incidência de casos do vírus HIV entre os municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes, de acordo com as informações que constam no Boletim Epidemiológico HIV elaborado pelo Ministério da Saúde em 2019. Ananindeua aparece na 9ª posição do ranking, com índice de 6,319 casos de HIV por 100 mil habitantes no período de 2014 a 2018.

Marituba, com 6,663 registros de HIV para cada grupo de 100 mil habitantes, e Belém, com 6,581, estão no 3º e 4º lugar, respectivamente, só perdendo para a capital Rio Grande do Sul (índice 8,434) e Novo Hamburgo (6,739). A falta de desevolvimento de políticas públicas de prevenção e o sucateamento do sistema municipal de saúde deixam tudo ainda mais desanimador em Ananindeua. 

HIV: DRAMA ENTRE OS MAIS JOVENS

Apesar do desenvolvimento de campanhas e medicamentos que servem para combater a proliferação do vírus HIV, o número de casos cresce vertigisinosamente em Ananindeua e no país. O número de casos no Brasil dobrou nos últimos 20 anos, sendo considerado um problema de saúde pública grave. Em Ananindeua existe o apoio do governo federal no envio de medicações retrivirais para o tratamento de infectados, mas a distribuição municipal ainda conta com gargalos que atrapalham vidas como a de Ricardo.

image Remédios para o controle da doença são repassados aos municípios para chegar aos pacientes (Divulgação)

"Eu achei que faltou mais apoio, até mesmo no momento que recebi a notícia. Depois só disseram pra eu fazer um cadastro e ir recebendo os medicamentos num local longe da minha casa. Eu moro no Aurá, pra chegar lá é um sofrimento, e as vezes o remédio está em falta e não avisam. É difícil", conta.

Para a prefeitura de Ananindeua, a situação não é tão ruim como os pacientes relatam. "Ainda faltam muitas coisas, mas nós temos hoje serviços que conseguem identificar, diagnosticar e tratar no mesmo local as vezes. Nos últimos anos ampliamos a rede e fizemos diversas capacitações com os profissionais da rede básica e da rede de urgência, voltado para o tratamento e testagem desses pacientes”, explica Dra. Samia Borges, diretora técnica da Secretária Municipal de Saúde de Ananindeua (Sesau). 

Onde fazer teste para e tratamento para HIV em Ananindeua

 

Segundo a prefeitura de Ananindeua, o teste para detectar o vírus HIV pode ser encontrado em todas as 62 Unidades Municipais de Saúde da cidade. Após a confirmação, caso seja positivo para o vírus, é realizada uma testagem de confirmação. Em seguida a pessoa é encaminhada para o Serviço de Atendimento Especializado e Centro de Testagem e Aconselhamento -SAE/CTA, localizado na Estrada do Maguari. É no SAE que o paciente tem acesso a consultas médicas e encaminhamento para receber a medicação, além da realização de exames. 

“Os profissionais de todas as 62 unidades de saúde estão capacitados para testagem rápida de sifílis, hepatite B e HIV. Com isso, conseguimos identificar mais rapidamente. Também temos ações onde vamos aos bairros com maior incidência e fazemos a testagem. As pessoas com HIV recebem tratamento, percebem que o tratamento possibilita uma vida normal. Elas são acompanhadas pelo nosso SAE/CTA de forma permanente”, diz a enfermeira Sâmia Borges, enfatizando a importância de procurar a testagem o mais rápido possível. É no SAE que Ricardo vai frequentemente pegar seus medicamentos. Seu corpo recuperou da tuberculose pleural grave que lhe acometeu. Sua vida está, aos poucos, voltando ao normal.  

PEP ANANINDEUA 

Desde março Ananindeua conta com o serviço de profilaxia pós exposição de risco ao HIV, a chamada PEP. Esse atendimento é um tipo de medicação ministrada em pessoas que tiveram relações sexuais sem proteção. Seu objetivo é reduzir a chance do vírus se espalhar pelo corpo. 

De acordo com a prefeitura, o serviço de PEP está disponível 24 horas nas Unidades de Pronto Atendimento – UPAs do município de Ananindeua e de segunda a sexta no SAE/CTA Ananindeua. 

A PEP – Profilaxia Pós-Exposição de Risco é uma medida de prevenção de urgência para ser utilizada em situação de risco à infecção pelo HIV, existindo também profilaxia específica para o vírus da hepatite B e para outras infecções sexualmente transmissíveis (IST). 

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