Jean Wyllys: fake news fazem sucesso por causa do preconceito
Vivendo na Alemanha, professor fala sobre a vida na Europa e o autoexílio do Brasil
Em entrevista à GQ Brasil, o professor e ex-parlamentar Jean Wyllys fala como é sua vida na Europa (ele vive na Alemnha), e como vê o Brasil de longe. Para Jean, que tem uma bolsa de estudos e dá palestras sobre notícias falsas, as fake news, diz que essas notícias encontram credibilidade porque já existe o preconceito nas pessoas que acreditam.
Jean conta que é bolsista da Open Society Foundation, que financia os estudos dele sobre a articulação das fake news com discursos de ódio, “e faço muitas conferências a convite deles. Sou hoje visto como um brasilianista que analisa o Brasil tendo a América Latina como pano de fundo. É essa a minha imagem pública na Europa, é esse o meu trabalho”.
O professor baiano explica que, passados seis meses do autoexílio devido a ameaças de morte, a experiência continua duríssima. “Não deixei o Brasil para fazer uns estudos e voltar. Deixei porque eu não podia continuar no país e faço questão de dizer para as pessoas que isso se deu por causa das ameaças que chegavam por telefone, por e-mail, pelas redes sociais, mas também pelas agressões que o cidadão comum fazia contra mim. É uma experiência dolorosa demais você deixar um lugar que é seu, em que você viveu toda a vida, porque sua permanência ficou insustentável. Se trata da destruição da minha imagem e da minha reputação junto à população do meu país.”
Jean Wyllys foi recentemente envolvido em nova onda de fake news, circulando que ele teria vendido o mandato para David Miranda, que era seu suplente, e que é marido de Glenn Greenwald, editor do Intercept Brasil, site que vazou mensagens de procuradores e juízes. Jean explica: “As fake news são compostas de elementos da verdade tirados de seu contexto original e usados em outro. Elas são construídas de forma a produzir um todo coerente feito sob medida para interpelar o preconceito que já existe na maioria das pessoas. Dito de maneira simples: as fake news não fariam sucesso se as pessoas já não tivessem preconceito.”
À GQ Brasil, Jean Wyllys exemplifica: “Essa fake news sobre Glenn Greenwald e David Miranda, por exemplo, trabalha com elementos da verdade. É um fato que eu decidi não investir no meu mandato por causas das ameaças de morte. O meu suplente era o David Miranda. Por coincidência, nós dois somos do mesmo partido, somos gays e temos o mesmo domicílio eleitoral; por coincidência, David Miranda é casado com Glenn, que é o editor do The Intercept. Pegaram esses elementos da verdade e os recontextualizaram na fake news, interpelando a homofobia como elemento importante para que as pessoas façam adesão à ela. Em primeiro lugar, são três veados. E se são três veados já vamos suspeitar! Um deixou o país, o outro assumiu o lugar desse que deixou o país e é casado com o jornalista que está denunciando Bolsonaro e o Moro, então provavelmente esse que está na Europa vendeu o mandato para esse, que é casado com aquele, que é sustentado por um bilionário russo que é o dono do Telegram... Para quem tem preconceito, essa história faz todo o sentido.”
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