Gilmar Mendes defende vínculo político de Bolsonaro com ataques às instituições no 8 de Janeiro
Ministro do STF afirma que ataques ocorreram devido à 'intimidação' direcionada à Justiça durante as eleições
Às vésperas de completar um ano desde os ataques protagonizados por apoiadores de Jair Bolsonaro às sedes dos Três Poderes em Brasília (8 de janeiro), o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), enfatiza a responsabilidade política do ex-presidente nesses eventos.
Em entrevista à AFP em seu gabinete no STF, Mendes afirmou que “a responsabilidade política [de Bolsonaro] é inequívoca”, enquanto, ao mesmo tempo, pondera sobre a responsabilidade jurídica do líder da extrema direita, que ainda está em julgamento.
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Investigado no STF como possível instigador e autor intelectual dos ataques, Bolsonaro, inelegível até 2030, nega qualquer envolvimento. Contudo, Gilmar Mendes alega que o governo Bolsonaro “incentivava algum tipo de anarquia, especialmente no que diz respeito às forças policiais”.
O ministro, ocupante de uma cadeira no plenário do STF desde 2002, destaca as "falhas de avaliação" que ocorreram durante os tumultos em Brasília, ressaltando que o sistema de inteligência estava ocupado por pessoas do governo anterior, contribuindo para a falta de prevenção das invasões.
Os ataques, considerados por muitos como o maior desafio à democracia brasileira desde a ditadura militar, estão relacionados à "intimidação" sofrida pela Justiça durante as eleições, conforme alega Mendes. Bolsonaro, ao questionar a transparência das urnas eletrônicas, buscou um pretexto no caso de um resultado desfavorável, afirma o ministro.
O STF, alvo de críticas por parte de Bolsonaro devido a investigações contra ele, continua enfrentando uma imagem negativa entre os apoiadores do ex-presidente. A reprovação chega a 65%, segundo o Datafolha. A sede do STF foi o prédio mais vandalizado pelos invasores em 8 de janeiro.
Das 2.170 pessoas detidas pelos atos, 30 foram condenadas, e 66 permanecem presas por crimes como golpe de Estado.
Gilmar Mendes destaca que o sistema político está mais alerta para evitar eventos violentos, mas enfatiza a necessidade de reformas, especialmente no papel das forças armadas e na politização ocorrida durante a gestão Bolsonaro, com a ocupação de cargos civis por militares.
Ao longo de sua campanha, o então presidente Bolsonaro questionou sem provas a confiabilidade das urnas eletrônicas, uma atitude que lhe rendeu, em junho do ano passado sua inelegibilidad, em virtude de uma reunião com embaixadores de vários países.
“Eles sabiam e tinham informações suficientes de que o sistema é imune a fraude, não obstante, nós sofremos toda a coação que sofremos durante a presidência do ministro [Edson] Fachin à frente do TSE por conta do ministro da Defesa Paulo Sérgio, que toda manhã escrevia uma carta sugerindo algum tipo de medida”, afirmou o ministro, um dos poucos do Supremo que manteve diálogo com Bolsonaro durante seu mandato.
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