‘Apologia ao crime’; ‘Repugnante’; dizem deputados paraenses sobre filme com Gentili e Porchat
Três deputados e três deputadas usaram tempo de discussão para manifestar repúdio contra o filme ‘Como se tornar o pior aluno da escola’, disponível em plataformas de streaming
O deputado Martinho Carmona (MDB) aprovou, na manhã desta terça-feira (15), durante a sessão ordinária da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), uma nota de repúdio ao filme “Como se tornar o pior aluno da escola”, lançado em plataformas de streaming. Porém, uma polêmica foi criada no último domingo sobre uma das cenas do longa, produzido em 2017 e inserido no catálogo da Netflix no mês de fevereiro, quando o ministro da Justiça, Anderson Torres, postou em suas redes sociais comentários classificando o trecho do filme como “asqueroso” e determinando que vários setores da pasta adotem as providências cabíveis sobre o caso.
A cena em questão apresenta o momento em que dois jovens são levados para a direção da escola e o inspetor, vivido por Porchat, tenta molestar os garotos, pedindo que eles o masturbem. Não há encenação explícita do ato. A classificação do filme, alvo de outras críticas à época de lançamento, por mostrar outras cenas de bullying entre adolescentes no ambiente escolar, é de 14 anos, e foi a recomendação etária do próprio Ministério da Justiça – naquele ano comandado pelo ministro Torquato Jardim, que atuou durante a gestão do então presidente Michel Temer.
“É uma apologia à pedofilia, uma verdadeira afronta a qualquer pai, mãe, tio, tia. O filme mostra sem nenhuma maquiagem, e vem com o objetivo de desestabilizar adolescentes que estão numa fase de definição da sua própria personalidade, na hora que estão moldando o caráter, vem um filme que afronta os professores”, diz Martinho Carmona. “É uma violência contra a família e querem dizer que isso é cultura. É uma cultura destruidora, avassaladora e covarde, porque a postura daquele pseudo professor intimida de forma aviltante aqueles dois adolescentes que ficam perplexos e atônitos sem saber o que fazer”, declarou o deputado.
O parlamentar critica os limites da liberdade de manifestação da cultura e que a sociedade paraense deve se mostrar aberta, mas com limites sobre as ações. “E eles ultrapassaram e muito os limites. É uma covardia sem precedentes e que se não for atacada no sentido de dizer ‘pare com isso’, se querem fazer isso com os filhos de vocês, nem com eles vocês têm direito, dirá com os filhos dos outros, quem tem neto e neta não fique calado, porque os seus filhos estão na escola, seus netos, sobrinhos. E olha o nome do filme, se isso não é uma apologia à desgraça. Um cara desse não sabe o que é ser pai, tio, avô, não sabe o que é carinho e afeto”, concluiu.
O deputado Fábio Figueiras (PSB) também aproveitou o tempo de discussão para se manifestar sobre o assunto. O político disse que assistiu parte do filme e não conseguiu enxergar um contexto onde possa ser encaixada a cena, que classificou como uma apologia à criminalidade. “É um ponto, até onde pode ir a liberdade artística? Devemos estar discutindo sempre, na sociedade, a intenção deles, e é justamente chocar a sociedade. O filme anterior é justamente o que trata Jesus Cristo como homossexual, a estratégia é chocar valores, e tenho a cabeça muito aberta, mas tem limite. O meu direito termina quando começa o do próximo. Sou ativista de esquerda, mas também fiquei chocado com o que foi colocado lá”, declarou.
Indignação foi a palavra que o deputado Dr. Galileu (PSC) definiu sobre o que sentiu ao acompanhar a polêmica sobre a cena do filme. “Eu tenho filhos, mas não só porque tenho filhos. Nosso mandato defende a liberdade de expressão, mas ela teve o limite ultrapassado. Proponho que essa Casa faça uma nota de repúdio, solicitando a retirada desse conteúdo da Netflix”, ressaltou.
Também se posicionou sobre o assunto o deputado Hilton Aguiar (DEM), que afirmou não ter desligado o filme na cena por sentir nojo enquanto cidadão. “Falta de respeito com as crianças. Nos deixa revoltado, a gente espera, a nível nacional, um movimento muito grande para reprimir. Nós que somos servos de Deus não aceitamos esse comportamento do ser humano. Deixo minha indignação”, finalizou.
Sobre a classificação do filme, o deputado Fábio Freitas (Republicanos) questiona que a pedofilia vira piada com o filme. “Como se tornar o pior aluno da escola? Vocês acreditam nisso? Olha o que o nome do filme induz, induz o jovem o adolescente a muitas coisas erradas, e gostaria que os pais ficassem atentos, porque eles querem normalizar, satirizar essa situação. É uma piada de mau gosto. Se os atores querem fazer sátira de coisa séria, façam com outra coisa, não com isso. É uma palhaçada tirar a calça e falar para uma criança pegar no órgão genital do tio, e isso está no filme, isso é brincar com coisa séria”, disse.
As deputadas professora Nilse (Republicanos) e Renilce Nicodemos (MDB) também se manifestaram sobre a polêmica. “Como educadora, como professora, mãe e avó assino a nota de repúdio do deputado Martinho Carmona, porque não podemos aceitar, e realmente conclamamos essa Casa e as demais Casas de Lei do Brasil, para se pronunciarem e assinarem a nota, até a Comissão de Defesa da Primeira Infância e Adolescência, que se coloque contrária a esse tipo de apologia. Como nós, parlamentares, como defensores do direto da criança e adolescente, podemos permitir que essa situação se perpetue ou se expanda ainda mais, como uma verdadeira desconstrução de valores”, disse a parlamentar republicana.
Reforçando que não importa a ideologia política de cada parlamentar, Nilse foi complementada pela deputada Renilce Nicodemos, que considerou inadmissível utilizar a arte do cinema como espaço para divulgar comportamentos pedófilos. “A cena do filme que já vem aí deixando a família brasileira indignada, com idealizadores, financiadores e atores que submetem a essa ridicularidade. Como podem fazer um filme tão ridículo quanto esse para servir de exemplo dentro das escolas e para as nossas crianças? Pergunto eu a esses atores e para essa empresa que patrocina esse filme como criar um filme tão ridículo ensinando as crianças algo que jamais passará por um ensinamento de uma mãe ou um pai”, questionou.
Por fim, também se posicionou sobre o assunto o deputado delegado Toni Cunha (PTB). O “Simplesmente deplorável”, disse o parlamentar, que afirmou não importar o momento de disputa ideológica para avaliar a cena. “É revoltante, um acinte, um texto criminoso, porque é evidente a apologia à pedofilia, que é doença, são sevícias, abusos sexuais em face de crianças, e ficou muito evidente na cena daquele filme. É nojento que pessoas a pretexto de se julgarem artistas e da livre manifestação cultural venham a expor nossas crianças, incentivando uma prática tão repudiosa que todos nós condenamos com extremo vigor. A liberdade não justifica a apologia ao crime. Defendo, inclusive, a investigação para apurar responsabilidades civis e criminais em fase das pessoas que interpretaram esses fatos sob o manto da liberdade cultural da liberdade de expressão”, concluiu.
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