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TPac: Dificuldade no processamento auditivo atinge cerca de 5% das crianças

Há uma subnotificação dos casos do TPAC, bem como dificuldade de fechar o diagnóstico correto já que os sintomas se confundem com os de outros transtornos, diz fonoaudióloga

Ádria Azevedo | Especial para O Liberal

O Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC) ocorre quando as vias centrais da audição, as áreas do cérebro relacionadas às habilidades auditivas, são afetadas, e há uma falha no processamento auditivo. A aprendizagem é particularmente afetada, já que o conteúdo auditivo é muito importante em sala de aula. Cerca de 5% das crianças em idade escolar apresentam o transtorno, de acordo com Associação Americana de Fala, Linguagem e Audição. Não há dados sobre o Brasil.

A consequência é que a criança tem dificuldades de compreender o que lhe dizem, sobretudo se for em um local com muito ruído; de manter a atenção; de memorizar nomes; de fazer um relato; de seguir ordens; e várias outras situações corriqueiras do nosso dia a dia, que podem se tornar um verdadeiro desafio.

image O diagnóstico do TPAC é realizado por meio de uma avaliação do processamento auditivo (Foto: Marx Vasconcelos | Especial para O Liberal)

A farmacêutica estética Márcia Guimarães, 45, conta que a filha, Helena Guimarães, de 10 anos, foi diagnosticada com TPAC porque tinha dificuldades com ruídos e alguns barulhos a incomodavam bastante. A condição afeta a maneira como uma pessoa interpreta as informações auditivas que chegam até ela. Isso significa que ela consegue ouvir bem os sons e não tem nenhuma perda auditiva, mas seu cérebro não sabe o que fazer com esses sons.

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“Isso foi percebido através de uma dificuldade de aprendizagem na escola. Ela apresentou essas dificuldades e logo fomos chamados para que nós procurássemos um profissional que realmente tratasse dessa questão do aprendizado em relação a audição”, diz.

Diagnóstico

De acordo com a fonoaudióloga Tatiana Graça, especialista em processamento auditivo central, o diagnóstico do TPAC é realizado por meio de uma avaliação do processamento auditivo.”É um exame auditivo, em que eu vou ver como é que estão as habilidades auditivas e a percepção auditiva do paciente. Essa avaliação é feita preferencialmente a partir dos sete anos de idade”, explica.

image Fonoaudióloga Tatiana Graça conversa sobre o tratamento com Márcia Guimarães e Helena Guimarães (Foto: Marx Vasconcelos | Especial para O Liberal)

A profissional afirma que há uma subnotificação dos casos do TPAC, bem como dificuldade de fechar o diagnóstico correto. “Os sintomas do TPAC se confundem muito com os de outros transtornos. Com relação à sensibilidade auditiva, é muito parecido com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). A questão da falta de atenção é muito confundida com o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). E muitas vezes, tem os dois juntos: TPAC e TEA, TPAC e TDAH”, detalha.

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A neuropsicóloga Débora Faro atua na avaliação de crianças que podem ter TPAC, ajudando a fechar o diagnóstico. “A avaliação neuropsicológica auxilia no diagnóstico e no tratamento, porque existem outros transtornos que têm uma sintomatologia parecida com a do TPAC, como o déficit de atenção e outros transtornos de linguagem, como dislexia, a descalculia. Então, a avaliação neuropsicológica, por avaliar as habilidades e as funções cognitivas como memória, atenção, função executiva, viso-construção, viso-percepção, entra para fazer esse diagnóstico diferencial”, esclarece.

Tratamento

“Quando a gente observa as habilidades auditivas alteradas em uma avaliação, a gente normalmente pede o treinamento auditivo, chamado de terapia de cabine ou treinamento auditivo acusticamente controlado. É uma terapia fonoaudiológica, com ênfase na audição, em que a gente tem um controle acústico melhor para, na verdade, mudar a via auditiva desse paciente”, pontua a fonoaudióloga Tatiana, sobre como tratar a condição.

“Eu sempre falo que não tem cura, porque não é doença. É como se fosse uma fisioterapia para audição. Então, a gente planeja as sessões em torno de 8 a 12 sessões. Fazemos as atividades, que são realmente desafiadoras para o cérebro, em que a gente trabalha atenção, concentração, memória, com ênfase na audição. Depois dessas sessões, a gente reavalia. Normalmente, elas normalizam e a gente dá alta para o paciente”, destaca.

Além desses exercícios, a parte educacional, que pode ser bastante afetada por conta do TPAC, também precisa ser trabalhada. Para esse tipo de intervenção, a psicopedagoga Gisele Mafra realiza atividades adaptadas, individualizadas de acordo com as dificuldades que a criança apresenta. “São dados comandos curtos e objetivos, com utilização de imagens, textos curtos sem utilização de palavras ambíguas ou metáforas, visualização de sequências ao envolver um cálculo matemático, por exemplo, criação de historinhas para desenvolver a sequência de fatos e comunicação, dentre outras possibilidades que possam servir de ferramentas para uma aprendizagem leve e compreensível ao paciente”, pontua.

Márcia Guimarães descreve que após as observações, procuraram a fonoaudióloga Tatiana Graça para diagnóstico. ”A Helena fez 20 sessões de ‘tratepac’ e realmente o resultado foi incrível”, afirma.

“Agora ela não se incomoda mais com determinados ruídos e barulhos como, por exemplo, altos ou de fogos. Além disso, ela tem uma maior concentração e a aprendizagem se tornou melhor”, conclui Márcia.

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