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Quarta vítima oficializa denúncia de violência obstétrica contra médico no Marajó

Mulher diz que sofreu esterilização cirúrgica quando deveria apenas ter retirado uma hérnia

Camila Guimarães e Bruna Lima
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Outra mulher, que não terá a identidade revelada, entrou em contato com a redação integrada de O Liberal, para denunciar violência obstétrica cometida contra ela pelo médico Celso Luiz Cardoso Lobato, inscrito no CRM 7392-PA, que atuava no Hospital Municipal de São Sebastião da Boa Vista, no Marajó. Nesta sexta-feira (28), a denúncia foi oficializada pelo Conselho Regional de Medicina (CRM) do Pará, de acordo com a denunciante. 

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Este é o quarto caso que chega ao conhecimento da reportagem e, de acordo com a vítima, também já foi denunciado ao CRM, ainda na quinta-feira. Neste caso, a mulher afirma que sofreu esterilização cirúrgica quando a sua necessidade era a operação de uma hérnia.

A vítima relata que sofreu a violência em 2021, mas estava muito abalada e não registrou imediatamente o caso. No entanto, ontem, tomou coragem depois que outras vítimas decidiram se manifestar. Até quinta, 20, o CRM confirmou que apurava três processos de sindicância já abertos contra Celso Lobato, todos por violência obstétrica. A redação integrada de O Liberal solicitou nova nota à entidade para confirmar a quarta denúncia e aguarda retorno.

Segundo o relato da quarta vítima, ela buscou atendimento médico no hospital municipal de São Sebastião da Boa Vista no dia 14 de dezembro de 2021 devido a dores causadas por uma hérnia próxima ao umbigo. "No hospital, o doutor Celso Lobato olhou os exames que eu tinha feito em Belém, no Hospital Jean Bitar, encaminhada pelo SUS de São Sebastião da Boa Vista. Aí ele disse pra eu voltar no outro dia 'cedo' que ele ia fazer a cirurgia. Voltei no dia 15 de dezembro e, à noite, ele disse que não ia poder me operar e remarcou para o dia seguinte".

A mulher conta que retornou ao hospital em 16 de dezembro e foi operada por volta das 19h. Foi quando começou a série de violências.

"Na sala lembro que o doutor falava alto. Ele me aplicou anestesia. Acho que nem pegou direito [a anestesia] porque eu estava sentindo tudinho a dor e sentindo o movimento dos cortes que ele estava fazendo em mim. Doeu muito mesmo. Eu pedi para o doutor parar e ele falava assim: 'Cala a boca, cala a boca. Ou vão falar que eu estou te agredindo aqui'. E botava a música bem alta."

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"Quando terminou a cirurgia eu perguntei para o enfermeiro que estava com o médico na cirurgia se o doutor Celso tinha tirado a hérnia. Aí o enfermeiro falou que não, que 'o médico não me operou para tirar a hérnia, mas que ele me operou para eu não ter filho'. Aí que eu me desesperei e comentei com a minha mãe, que tentou me acalmar."

No dia seguinte, 17 de dezembro, o médico chegou a dar informações desconexas sobre o procedimento que havia feito na paciente na noite anterior. "A minha tia, que tinha passado a noite comigo, perguntou para ele o que ele tinha feito em mim. Aí o doutor Celso respondeu que não operou porque eu estava com uma inflamação perto do umbigo e não me operou. Mas depois ele voltou e confirmou que tinha, sim, 'tirado a hérnia na cirurgia'".

Entretanto, a vítima relata que, mesmo após vários dias, ela continuou sentindo a hérnia no mesmo local e que a marca da cirurgia feita por Celso Lobato era muito abaixo do local da hérnia. "O corte foi feito no local que 'tira filho'. Continuo sentindo dores e tenho feito exames para poder me operar dessa hérnia, que, no último exame, mostrou que já está com 28 milímetros", diz a denunciante. "Nem eu e nem meu esposo demos autorização para o doutor  Celso fazer cirurgia para eu não ter mais filhos. Como mulher, eu deveria escolher quantos filhos quero ter", lamenta.

A redação integrada de O Liberal aguarda nova nota do CRM sobre esta, que seria a quarta denúncia. A reportagem entrou em contato com o médico Celso Luiz Cardoso Lobato, que declarou que até o momento não recebeu nenhum tipo de notificação do CRM e está atuando normalmente na profissão. Ele diz também que durante 30 anos de profissão é a primeira vez que passa pelo tipo de situação.

"Sou médico há 30 anos. Já trabalhei em Goiânia, Rio de Janeiro, São Paulo e nunca passei por esse tipo de situação. Essas acusações são difamatórias. Eu jamais vou exercer a profissão da forma  que estão me acusando. Trato as minhas pacientes com respeito e carinho. Estou vivendo um momento de terror na minha vida", declara o médico.

Ele acrescenta ainda que pediu exoneração do hospital de São Sebastião da Boa Vista em decorrência das acusações. "Não consegui dar continuidade no trabalho, pois a minha imagem ficou desgastada com essas acusações. Mas eu faço questão de me defender", acrescenta o médico.

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