Nova onda migratória de Rondon do Pará aos Estados Unidos

Migração ainda é cheia de incertezas, e os viajantes pagam de 15 a 18 mil dólares aos coiotes

João Carlos Oliveira/ Especial para O Liberal
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A imigração de brasileiros para os Estados Unidos é um tema bastante popular. E no caso de Rondon do Pará, município do Sudeste paraense, essa popularidade se deve principalmente a experiência do cotidiano das pessoas, que comumente se deparam com os relatos de parentes, amigos e conhecidos que decidem partir para os EUA em busca de uma vida melhor. Isso acontece há décadas. É um fenômeno social comum em Rondon. Há períodos em que essa frequência migratória aumenta e outros em que diminui. Nos últimos 12 meses, a migração direta de Rondon do Pará para os Estados Unidos cresceu.

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As especulações, em alta na cidade, passam essa impressão, e os números confirmam. A correspondente da Rádio França Internacional no México, Larissa Wernek, divulgou em sua coluna em dezembro de 2021, que o Departamento Americano de Segurança Interna registrou a prisão de mais de 47.800 brasileiros que tentavam atravessar a fronteira com os Estados Unidos de forma ilegal, entre janeiro e setembro de 2021. No mesmo período de 2020, foram 9.147. O jornal O Globo também deu destaque para a prisão de imigrantes em Tijuana, no México. Eles estavam sem o visto. Eram brasileiros que tinham os EUA como destino.

Mas conseguir melhorar de vida na américa do norte continua sendo o sonho de muitos moradores de Rondon. É o caso de uma mulher, que aceitou conceder entrevista para o Rondon Notícias, desde que não tivesse sua identidade revelada. A jovem rondonense diz que sempre quis ir embora da cidade em direção ao exterior. Já chegou a acertar sua saída algumas vezes, e até hoje não deu certo. Mas está confiante que antes do fim do ano consiga a tão sonhada viagem. Ela diz que sua principal motivação é a questão financeira, e a oportunidade de dar uma vida melhor para os filhos. “A questão do emprego, na nossa cidade é bem difícil. Eu sei que será bem difícil. Já ouvi relatos e sei que a travessia não vai ser fácil, mas vou tentar”, afirma a jovem.

Ao ser questionada sobre os planos de estabilização em um outro país, ela diz ter tudo planejado. Já tem emprego e moradia encaminhados e acredita que em cinco meses as coisas já estejam equilibradas. Mas, diferente do padrão que muitos seguem, nossa fonte não pretende simplesmente fazer economias e voltar, mas fixar residência nos Estados Unidos.

Para entender melhor esse sistema, entrevistamos um rapaz que é uma espécie de intermediário entre as pessoas que desejam fazer a viagem e os famosos coiotes, que organizam todo o esquema. Ele explica que com a flexibilização imposta pelo novo governo americano em relação a política de imigração, a estratégia de travessia vem mudando. “Antigamente tinha que ‘furar a fronteira’, indo pelo deserto, correndo muitos perigos. Poucos conseguiam atravessar. Mas hoje, quem tem família vai pra Mexicali, de lá vai pra fronteira, com o visto de turista (tem de 30 a 60 dias pra ficar no México), e se entrega na imigração americana. ” O período da estadia no setor da imigração leva de dois a três dias. O governo americano identifica os imigrantes, e lhes concede um visto de seis meses. Após esse período, se permanecer no país, a pessoa cai na ilegalidade. O método muitas vezes inclui uma etapa curiosa. A probabilidade da concessão visto para famílias é maior do que para pessoas solteiras. Isso tem feito pessoas que planejam ir para a américa do norte, procurarem solteiros que tenham filhos _e os mesmos interesses_ para se casarem, visando se enquadrarem no perfil aprovado pelo setor americano de imigração. Solteiros, tem uma probabilidade maior de não serem liberados pelo setor de imigração e pagam 15 mil dólares aos coites, já os casais pagam 18 mil.

Os atravessadores dão em média um prazo de dois meses  para que os imigrantes comecem a pagar a dívida. Essa estratégia tem sido bastante utilizada ultimamente. A mulher que pretende ir para os EUA e nos concedeu a entrevista, irá adotar esse método. O intermediário explica que atualmente, a maior dificuldade dos imigrantes é a adaptação. O custo de vida nos Estados Unidos tem aumentado bastante. “Apartamentos que antes tinham um valor de aluguel fixo de mil dólares, hoje custa mil e setecentos e logo deve chegar aos dois mil.”

Ele diz que a situação dos imigrantes brasileiros vem se complicando a cada dia. Mas ainda assim, continua a ver a prática como uma possibilidade de melhorar de vida. As pessoas que o procuram geralmente têm poucos recursos financeiros, com uma renda bem pequena e sem casa própria. Mas de acordo com o intermediário, se a pessoa fizer economias durante um tempo e voltar para o Brasil para fazer investimentos, é possível melhorar de vida.

(João Carlos Oliveira , aluno de jornalismo, com orientação das professoras Elaine Javorski e Janine Bargas) 

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