Sem salva-vidas, segurança é precária em rios e igarapés de Rondon do Pará
Diversos casos de afogamentos no rio, o mais importante do município, já foram notificados
O Rio Ararandeua, que passa pelo Município de Rondon do Pará, a 155km de Marabá, oferece vários locais de lazer. Muitos desses pontos, frequentados por centenas de pessoas e que até cobram taxas pela entrada, não proporcionam segurança de profissionais de resgate, os salva-vidas. Esse também é um problema em clubes e parques aquáticos.
Diversos casos de afogamentos no rio, o mais importante do município, já foram notificados. A falta de fiscalização e a não obrigatoriedade de contratação desses profissionais é o que faz com que a empresária Marli Pereira acabe não priorizando esse investimento em seu balneário. “A gente mesmo que presta atenção quando têm crianças. Eu não sei se temos profissionais aqui em Rondon, mas quando precisar a gente vai chamar”. Proprietária do Rio dos 10, que recebe cerca de 300 pessoas por dia nos finais de semana de verão, diz nunca ter tido instruções sobre a presença dos profissionais de salvamento.
Ela lembra que já vivenciou um trauma por afogamento quando perdeu seu sobrinho no balneário Cai na Água, conhecido também por Beira Rio ou Rio da Ponte. Por um tempo, Marli redobrou os cuidados. “Antigamente, tinha um homem que ajudava a gente aqui, mas como as coisas começaram a ficar difíceis financeiramente, tivemos que dispensar”.
No ano de 2020, foi aprovado na Câmara Municipal de Rondon do Pará o projeto de Lei Nº 796/2020 que dispõe sobre a criação do cargo bombeiro municipal e disciplina as atividades dos profissionais para atuarem em estabelecimentos ou eventos de grande concentração. O projeto sugere a necessidade de salva-vidas nos balneários da cidade, mas não determina a obrigatoriedade. Segundo o documento, “a administração de parques, clubes e áreas de recepção que possuam piscinas, áreas de rios, lagos, praias naturais e artificiais para uso recreativo ou esportivo, deverão de acordo com as suas necessidades disponibilizar salva-vidas ou guardiões de piscina de forma preventiva e educativa”.
Embora os moradores da cidade tenham conhecimento de vários casos de afogamento, nos dados cedidos pela delegacia de Polícia Civil de Rondon do Pará não há registros específicos nos últimos três anos. “Têm casos que são registrados como desaparecidos, e neste caso o corpo só é encontrado três dias depois. Então, para se dar um número exato precisaria fazer um levantamento de categoria por categoria”, diz o delegado Thiago Santos.
A falta de registro de ocorrência também acontece pela falta do Instituto Médico Legal na cidade, já que quando um corpo é encontrado em um rio ele tem que ser encaminhado para Marabá. De lá, muitos deles vão direto para o sepultamento e não passam pelo registro oficial em Rondon.
Os dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSus) mostram que, entre os anos de 2010 e 2019, foram registrados 3.144 afogamentos no Pará . A maior frequência é de jovens entre 20 e 29 anos e depois crianças de um a quatro anos.
O bombeiro civil municipal, Carlos Carvalho, afirma que equipamentos de salvamento também são essenciais para garantir a segurança dos banhistas “Os balneários não possuem equipamentos para serem utilizados em situações de resgate de afogamento. Também não é feita uma demarcação dos locais de risco. Mesmo com as pessoas sabendo dos riscos, é importante realizar um trabalho de sinalização e conscientização”, ressalta.
Carvalho afirma, ainda, que, mesmo com a Lei 795/2020, os proprietários não contratam os profissionais e também não há fiscalização nos locais. “Ainda se zela muito pouco pela parte preventiva aqui na cidade. Não falo só da parte aquática, mas também de eventos”, observa.
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