'Mulheres que Semeiam': projeto ajuda mulheres com distribuição de produtos de higiene pessoal
Grande parcela da população, principalmente de mulheres, não possui acesso a produtos de cuidados básicos
Qual é a mulher que não gosta de estar arrumada, perfumada, hidratada, cabelos sedosos e brilhantes, unhas feitas e ainda tem aquelas que não abrem mão dos cílios postiços. São tantos os cuidados voltados para a beleza feminina que a indústria de cosméticos sabe explorar muito bem isso.
De acordo com o Sebrae, em 2021 o Brasil conquistou o terceiro lugar do mundo no ranking de gastos com cosméticos. E mesmo assim ainda temos uma grande parcela da população, principalmente de mulheres, que não tem acesso aos cuidados básicos como o uso de um shampoo, condicionador, desodorante e absorvente.
Por causa desta triste realidade, duas amigas de Castanhal, a Jéssica Jamiles e a Beatriz Nascimento, resolveram criar o projeto “Semear em mulheres”, que tem por objetivo ajudar com cestas básicas de cuidados de higiene pessoal, mulheres que não tem acesso aos produtos. O projeto nasceu no coração das amigas ao mesmo tempo, mas sem uma saber da vontade da outra.
Jéssica Jamiles percebeu a necessidade de uma amiga e resolveu ajudar. “Eu senti que ela estava precisando e perguntei: amiga você está precisando de alguma coisa e ela disse que estava precisando de tudo. Então fiz uma lista de produtos de higiene e pedi a ajuda das irmãs da igreja e sem dizer quem era. Foi então que lembrei da Beatriz. Mandei mensagem e ela não visualizou e depois vi no status dela que ela estava pedido ajuda para ajudar mulheres que estavam precisando de produtos de higiene. Foi então que nos unimos com esse mesmo propósito”, contou.
E a partir desse momento nasceu o Semear em mulheres. “Nós criamos uma página no Instagram e fomos atras do povo para ajudar. Vontade a gente tem, mas só não temos condições de fazer sozinhas e por isso pedimos a ajuda de outras mulheres”, explicou Jéssica Jamiles.
Beatriz Nascimento desde criança já sentia a vontade de ajudar e no ano passado montou duas cestas com produtos de higiene para doar. “Foi quando senti mais necessidade de olhar para essas mulheres. Eu sou uma e já passei por algumas situações de necessidades básicas que toda mulher. Então desde julho eu estava com isso na cabeça e creio que foi o próprio Espírito Santo que me impulsionou e também a Jéssica”, contou
A princípio as meninas do projeto estão semeando na vida de mulheres do Fonte Boa, que é um dos bairros mais populosos de Castanhal e também com muitas famílias carentes. Na lista de produtos básicos estão escova e creme dental, sabonete, shampoo e condicionador, desodorante, hidratante de corpo, algodão, absorvente, acetona, base e lixa de unha.
Uma das primeiras mulheres a semear foi a Irlanda Silva, de 34 anos, que soube do projeto pelo Instagram. “Eu vi nos stories que elas estavam pedindo ajuda e explicando o projeto e na mesma hora disparou um gatilho em mim. Eu vivi 100% essa falta de produtos de higiene. Meu pai nos deixou passar por muitas dificuldades. Eu lembro que fazia meu próprio absorvente. Cortava os panos e também uns pedaços de plásticos pra colocar em baixo do pano para não vasar. Eu escovava os dentes com sabão grosso e nosso único cheiro era o desse sabão. A gente não tinha um sabonete e nem shampoo. Minha mãe era muito doente e não trabalhava e nosso pai era bom de saúde, mas só queria ficar esperando a ajuda das pessoas da igreja”, relembrou.
O Instagram do projeto é @projetosemearemmulheres
Pobreza menstrual
Embora a ONU (Organização das Nações Unidas) considere o acesso à higiene menstrual um direito, que deve ser tratado como uma questão de saúde pública, não é isso que ocorre na prática. No Brasil, uma em quatro adolescentes não possui um absorvente no seu período menstrual. O dado é do relatório Livre para Menstruar elaborado pelo Girl Up, um movimento global para promoção de lideranças femininas.
Dignidade
Lançado em maio de 2021, pelo UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas é a agência de desenvolvimento internacional da ONU que trata de questões populacionais), em parceria com o UNICEF, o estudo “Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos”, jogou luz ao problema no país e evidencia que 713 mil meninas vivem sem acesso a banheiro ou chuveiro em seu domicílio e mais de 4 milhões não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas.
Conheça os pilares da pobreza menstrual, conforme a pesquisa “Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos”
• falta de acesso a produtos adequados para o cuidado da higiene menstrual;
• questões estruturais como a ausência de banheiros seguros e em bom estado de conservação, saneamento básico (água encanada e esgotamento sanitário), coleta de lixo;
• falta de acesso a medicamentos para administrar problemas menstruais e/ou carência de serviços médicos;
• insuficiência ou incorreção nas informações sobre a saúde menstrual e autoconhecimento sobre o corpo e os ciclos menstruais;
• tabus e preconceitos sobre a menstruação que resultam na segregação de pessoas que menstruam de diversas áreas da vida social;
• questões econômicas como, por exemplo, a tributação sobre os produtos menstruais e a mercantilização dos tabus sobre a menstruação com a finalidade de vender produtos desnecessários e que podem fazer mal à saúde;
• efeitos deletérios da pobreza menstrual sobre a vida econômica e desenvolvimento pleno dos potenciais das pessoas que menstruam.
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