Frutas e legumes estão menos nutritivos, apontam pesquisas; entenda
A agricultura sustentável contribui para redução de doenças em seres humanos e desequilíbrio ecológico. Tratamento do solo com matéria orgânica melhora sua estrutura e dá origem a produtos com maior valor nutricional
Frutas e legumes estão menos nutritivos do que costumavam ser há 70 anos, apontam estudos apresentados em uma reportagem da revista National Geographic. As pesquisas indicam que a origem do problema está nos processos agrícolas modernos, que aumentam o rendimento das colheitas, mas perturbam a saúde do solo. Esses problemas ocorrem no contexto das mudanças climáticas e dos altos níveis de dióxido de carbono. Neste cenário, a agricultura sustentável contribui para diminuição de doenças em seres humanos e desequilíbrio ecológico.
Os impactos ambientais interferem intimamente na produção e qualidade dos alimentos com a redução de nutrientes essenciais para saúde, afirma a nutricionista Beatriz Garcia, especialista imunonutrição, nutrigenômica e fitoterapia. Na Amazônia, esses impactos como degradação do solo, uso de recursos naturais, perda da biodiversidade, poluição do ar, água e solo têm intensificado. “Temos uma agricultura mercantilista com métodos artificiais, uso de hormônios visando a demanda, mas acima de tudo o lucro, o lado negativo nisso tudo são os impactos ambientais e na saúde”, comenta a especialista.
Beatriz explica que os alimentos orgânicos possuem um papel importante por proporcionar um modelo de agricultura sustentável e saudável, ao usar estratégias ecológicas para produção. De acordo com a nutricionista, eles não possuem agrotóxicos, que são substâncias artificiais capazes de proporcionar doenças às pessoas e desequilíbrio ecológico, que é o caso do nitrato, composto cancerígeno que contamina o solo e água. A especialista diz que há diversas medidas ambientais que ajudariam a reduzir os impactos ambientais e destaca a importância da conscientização do que comemos e as consequências que são geradas no meio ambiente.
Os benefícios da agricultura familiar agroecológica
A produtora rural Ana Conceição, 21 anos, é participante da Associação de Mulheres da Agricultura Familiar do Curuçambá e Região (AMAFCR). Há dois anos, ela vive na propriedade que herdou do pai, em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém (RMB), onde produz chicória, alface, cheiro verde, cebolinha e alfavaca. Lá também são plantados feijão verde de corda, jambu e couve. “Desde quando meu pai trabalhava na roça, ele não usava esses venenos, ele dizia que tinha medo. A gente também não usa. Se você for ali, você vê um monte de couve furada, tem lesma, tem bicho, porque a gente não usa”, comentou.
O cuidado que ela tem é proteger da chuva, “porque a chuva mata mesmo”, diz a produtora. Se não tiver plásticos para colocar sobre a produção, tudo morre. Ele falou sobre a importância da utilização do adubo natural. “A gente se preocupa com a qualidade desse adubo. A maioria do adubo que vem mata as verduras. Às vezes vem mais serragem, do que merda de galinha. A gente não usa muito adubo químico, só de galinha mesmo. Tem uma diferença no resultado final, ele fica bonito e saudável”, garantiu.
“O comer não é só um ato fisiológico, é agrícola, político, ecológico e social. Devemos estar atentos ao que colocamos na mesa, ao nosso consumo, à origem e/ou produção do alimento, nos tornar mais críticos na escolha do que vamos comer e reduzir os impactos ambientais. E também exigir que nossos representantes políticos cobrem dos produtores de alimentos que respeitem as leis ambientais, que sigam uma produção ecológica. Além de apoiar a agricultura familiar e o consumo de alimentos orgânicos e as propostas de produção de alimentos regionais que minimizam o desperdício de energia e transporte”, afirmou Beatriz Garcia.
Ana conta que as consultas e orientações da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) têm sido importantes para o desenvolvimento adequado de sua produção. Segundo Wanderley Ribas, técnico em agropecuária da Emater, a principal queixa da produtora era referente à adubação química, que ela argumentava matar ou não dá a resposta necessária para a hortaliça, além de possuir preço elevado e aumentar a concentração de pó de serra. Foi então que o especialista a orientou para uma outra alternativa.
“Isso, com a relação de carbono e nitrogênio, termina o carbono consumindo o oxigênio da planta. E ao invés de contribuir com a nutrição da planta, vai matando. A solução foi fazer o composto orgânico, pegando essa mesma cama de frango e transformá-la, deixando que os microrganismos se transformassem. E leva um tempo para elas adequarem o ciclo do composto ao ciclo da cultura. Aqui elas ainda vão começar”, explicou o técnico em agropecuária. Wanderley diz que os produtores rurais atendidos pela Emater usam mais a matéria orgânica que o adubo químico. Esse último só é utilizado em caso de extrema urgência.
Ao ser perguntado ser perguntado se os produtos da produção familiar podem ser mais nutritivos que os da indústria, o especialista respondeu:
“Conseguimos produtos com maior valor nutricional porque a forma de tratamento do solo é com matéria orgânica, que vai melhorar a estrutura do solo. Por exemplo, essa matéria que a gente tá vendo aqui, como cama de frango, vai ser transformada com a ação dos microorganismos, daqui a um ou dois meses, vai trazer toda a propriedade que a planta precisa. Diferente do sistema mais industrializado, que você vai estar passando para o produto de forma química, como se fosse uma injeção na veia. Aqui não, aqui é como se fosse uma vitamina. Então, seguramente, se você pega uma cultura daqui e consome, e pega uma industrializada, com o tempo você vai perceber que quem está utilizando do sistema tradicional vai ter mais benefícios”, concluiu o especialista.
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