Familiares de pessoas com autismo recebem apoio psicológico em centro estadual do Pará
Serviço ampara principalmente mulheres que acompanham familiares em seus tratamentos
Cuidadores de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), especialmente as mães - chamadas mães atípicas - enfrentam uma jornada exigente e, muitas vezes, de sobrecarga, que pode levar ao adoecimento não apenas físico, mas também mental. No Pará, o Programa de Atenção ao Cuidador (Proac), do Governo do Estado, por meio da Coordenação de Políticas para o Autismo (Cepa), oferece apoio psicológico para esse público.
A coordenadora da Cepa, Nayara Barbalho, explica como surgiu essa iniciativa, que é executada por meio do Núcleo de Atendimento ao Transtorno do Espectro Autista (Natea).
"Ao longo do trabalho de construção de uma política pública voltada à pessoa com autismo, nós fomos entendendo sobre a importância de dar atenção também à família, não apenas para capacitá-la no manejo do cuidado com o seu filho ou seu familiar, mas de dar a atenção também à sua própria saúde. O Proac faz parte do projeto dos núcleos que nós estamos inaugurando através do Governo do Estado, com apoio do governador Helder Barbalho, por meio da Secretaria de Saúde do Estado, e é voltado ao atendimento multidisciplinar dessas famílias, com rodas de conversas, palestras e reuniões", detalha.
De acordo com Nayara Barbalho, a maior parte dos cuidadores de pessoas neurodivergentes são mulheres: "Nós temos um dado científico que diz que, em 70% das famílias de pessoas com autismo, o homem abandona o lar. Então o que nós temos de realidade são mulheres cuidadoras, na sua grande maioria, que estão adoecidas, sobrecarregadas, necessitando urgentemente de políticas públicas de atenção à sua saúde mental".
VEJA MAIS
Nayara também enfatiza que é urgente que serviços de amparo à saúde de cuidadores sejam ampliados e fortalecidos. "Nós, que somos mães atípicas, já temos uma sobrecarga maior do que as irmãs típicas. A gente se pergunta quem vai cuidar dos nossos filhos quando nós não estivermos mais aqui. Então a gente trabalha para que a gente não adoeça".
Para ter acesso ao serviço, Nayara explica que é importante que a pessoa com autismo esteja incluída na rede de apoio e reabilitação, já recebendo tratamento, uma vez que as atividades voltadas para os cuidadores ocorrem no momento de espera dos atendimentos de seus familiares. Além disso, a coordenadora da Cepa orienta: "É preciso que as pessoas entendam que existe uma rede de atenção psicossocial, que são os Caps, nos bairros, que devem ser procurados".
Nayara também estende a responsabilidade de apoio aos cuidadores para além do Estado: "Às vezes a rede de apoio está numa vizinha, num vizinho... É óbvio que o Estado precisa ampliar o acesso a políticas públicas de saúde mental para a população em geral, mas a responsabilidade por ser rede de apoio para as pessoas não pode ser só do Estado. Ela é de toda a sociedade".
Auxílio
O Centro Especializado em Transtorno do Espectro Autista (Cetea) é parte de uma série de medidas tomadas pelo Governo do Pará, através da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) e da Coordenação de Políticas Para o Autismo (Cepa), em prol das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (Tea) e suas famílias.
A mãe atípica Líbia Martins Alves acompanha diariamente o filho, José Matheus Alves, que é jovem com autismo, aos tratamentos realizados no Cetea. Ela relata ser perceptível o avanço da interação do filho.
“Foi uma porta que Deus abriu. Como ele já tem 17 anos e é adolescente, é mais difícil o acesso ao tratamento em outros locais. Mas aqui, ele está sendo bem assistido e acolhido. Meu filho estava regredindo e, após começar o tratamento com os especialistas do Natea, fazer as terapias, ele já fica mais calmo, interage mais. As pessoas aqui são maravilhosas, nos tratam bem e oferecem todo o suporte para que ele continue progredindo cada vez mais. Temos vários recursos aqui, de tratamento e pessoas, que são difíceis de encontrar em outros locais”, afirma Líbia.
Além de José Matheus, a mãe também recebe apoio psicológico e emocional dos profissionais do Natea. “Todas as mães recebem esse apoio da equipe. Temos um psicólogo que conversa e escuta o que sentimos também. Fazemos aulas teóricas e tem o treino parental que é de quinze em quinze dias, onde aprendemos como lidar com nossos filhos em casa e em outras situações do dia a dia. O que eu aprendi aqui levei para casa, para aplicar com ele. Percebo que tem sido bom, eu consigo agir melhor”, declara.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA