Diário perdido de francês que viveu no Pará é lançado e surpreende especialistas

O livro "A viagem circular de Paul Le Cointe" foi lançado durante seminário no Museu Emilio Goeldi. Obra é a tradução e transcrição de um diário que permaneceu esquecido por décadas e que foi redescoberto em 2011

O Liberal

Na segunda-feira (1/7), foi realizado o seminário "Paul Le Cointe na Amazônia: colonialismo e ciência no contexto da economia da borracha, 1890-1920", no auditório do Centro de Exposições Eduardo Galvão, no Parque Zoobotânico do Museu Emilio Goeldi, em Belém. O evento marcou o lançamento do livro "A viagem circular de Paul Le Cointe", uma obra que resgata a trajetória deste francês que viveu em Óbidos, no Pará, no final do século XIX até meados do século XX, contribuindo para retratar a história política e econômica da Amazônia.

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O livro traz a transcrição e tradução de um diário inédito que Le Cointe criou para narrar sua viagem de barco no início do século XX, onde saiu de Óbidos, passando por Barbados, Jamaica, Panamá, descendo pela costa da América do Sul até a Bolívia, onde trabalhou como gerente de um seringal.

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O livro é a tradução e transcrição de um diário que permaneceu esquecido por décadas com um familiar de uma ex-aluna de Le Cointe, que o entregou ao museu paraense. Suas páginas revivem o período de transição do século XIX para o XX em Belém, uma época em que a cidade fervilhava com a prosperidade e a posterior decadência trazida pela borracha, atraindo aventureiros e pesquisadores de todo o mundo. Entre esses exploradores estava Paul Le Cointe, cuja jornada pela Amazônia é agora resgatada do esquecimento.

Emilie Stoll e Nelson Sanjad, pesquisadores que se debruçaram sobre a obra de Le Cointe desde a redescoberta do diário, em 2011, participaram do lançamento. "Quando encontramos o caderno, foi como abrir uma janela para o passado. É um relato fidedigno daquela época que em muito pode ajudar nos caminhos de hoje", afirmou Emilie. "Após a redescoberta do diário, buscamos informações em acervos no Brasil e na França, descobrindo correspondências que revelam detalhes inéditos sobre sua vida e trabalho", completou a pesquisadora.

image O pesquisador Nelson Sanjad se aprofundou nos escritos do francês (Foto: Carmem Helena | O Liberal)

A obra revela a chegada de Le Cointe a Óbidos, no Pará, em 1891, motivado pelo desejo de explorar a Amazônia a serviço do colonialismo francês. Le Cointe pediu para ao Estado francês para explorar a Amazônia, mas descobriu que sua missão foi cancelada assim que chegou a Óbidos. A partir de então o francês decide, mesmo assim, permanecer no Pará, onde viveu o resto de sua vida, pesquisando sobre a natureza, especificamente sobre a cultura de cacau e seringueiras.

“A produção intelectual de Le Cointe foi profícua, teve repercussões nos campos da ciência, educação, economia e administração pública. A profundidade disso tudo ainda não foi investigada, é um primeiro passo, apenas começamos”, diz Sanjad.

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Elisabeth Grunvald, presidente da Associação Comercial do Pará (ACP), também esteve presente no evento. "Sinto-me muito honrada em participar deste momento. Deixo o arquivo da ACP aberto aos pesquisadores, pois Le Cointe foi membro da associação e um entusiasta dela, ele já falava de bioeconomia naquela época, portanto, estamos aqui resgatando uma memória de nossa vida econômica e política e temos a oportunidade de aprender mais", declarou.

image Nelson Sanjad e Emilie Stoll, pesquisadores e co-autores da obra, Clarisse Corrêa Pinto, familiar da esposa de Le Cointe, e Elisabeth Grunvald, presidente da Associação Comercial do Pará (Foto: Carmem Helena | O Liberal)

De explorador a morador

A vida de Paul Le Cointe na Amazônia dividiu-se em várias fases, desde seu início como explorador colonialista, preocupado em atrair investimentos de empresários franceses, até seu engajamento em mostrar o potencial da região para os brasileiros, liderando estudos sobre agricultura, topografia e outros setores.

"O lançamento do diário promete resgatar sua contribuição e oferecer uma nova perspectiva sobre a história da região. Mais de cem anos depois, algumas coisas que Le Cointe falava sobre nosso potencial inexplorado ainda seguem tão atuais", destacou Sanjad.

O seminário reuniu familiares da esposa de Le Cointe e pesquisadores renomados, celebrando a importância histórica e científica da obra. "Estamos muito felizes de trazer à sociedade esta obra inédita, que não só ilumina a trajetória de Le Cointe, mas também resgata a riqueza histórica da Amazônia", concluiu a pesquisadora.

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