Lançamento do livro perdido de Paul Le Cointe resgata trajetória de cientista francês na Amazônia

O livro traz a transcrição e tradução de um diário inédito que Le Cointe criou para narrar sua viagem de barco no início do século XX, onde saiu de Óbidos, passando por Barbados, Jamaica, Panamá, descendo pela costa da América do Sul até a Bolívia, onde trabalhou como gerente de um seringal.

Igor Wilson
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Na virada do século XIX para o XX, Belém do Pará fervilhava com o brilho da borracha, atraindo aventureiros e pesquisadores de todas as partes do mundo, em busca de riquezas e conhecimento sobre a região. Entre eles, o francês Paul Le Cointe, cuja jornada fascinante pela Amazônia agora ressurge das páginas de um diário esquecido por décadas.

O Museu Paraense Emílio Goeldi se prepara para lançar oficialmente "A viagem circular de Paul Le Cointe" no seminário "Paul Le Cointe na Amazônia: colonialismo e ciência no contexto da economia da borracha, 1890-1920", no dia 1º de julho. A obra joga luz à trajetória deste francês para reviver um capítulo crucial da história amazônica.

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Uma viagem de descobertas

Formado pela Universidade de Nancy, na França, Le Cointe chegou ao Brasil em 1891, movido pelo desejo de aventura e de explorar a Amazônia. "Le Cointe chega para trabalhar em missão pelo ministério francês e quando chega em Óbidos descobre que a missão foi suspensa. Ele decide ficar aqui e é onde tudo começa", comenta a antropóloga Emilie Stoll, uma das pesquisadoras e editoras do livro, durante entrevista concedida a equipe de O Liberal.

image Legenda (Divulgação)

O livro traz a transcrição e tradução de um diário inédito que Le Cointe criou para narrar sua viagem de barco no início do século XX, onde saiu de Óbidos, passando por Barbados, Jamaica, Panamá, descendo a costa da América do Sul, subindo os Andes e chegando à Bolívia, onde trabalhou como gerente de um seringal. A segunda parte do relato descreve seu retorno para Óbidos e Belém pelo rio Madeira.

“Esses relatos se somam como mais um documento, um testemunho, de como era a região da América naquela época. Le Cointe é um autor que tem pesquisas lidas sobre a Amazônia até hoje, mas ainda havia algo para ser preenchido, que este livro agora trás”, diz a pesquisadora.

Uma obra resgatada do esquecimento

Descoberto em 2011, o diário do francês estava em posse de um familiar de uma ex-aluna de Le Cointe, que o manteve guardado por décadas até que, após seu falecimento, um familiar o descobriu e decidiu doar.

"Quando encontramos o caderno, foi como abrir uma janela para o passado", diz Stoll. "Após a redescoberta do diário, fomos buscar informações em acervos no Brasil e na França, descobrindo correspondências que revelam detalhes inéditos sobre sua vida e trabalho", conta Emilie.

As correspondências de Le Cointe, encontradas tanto no Brasil quanto na França, revelam seu papel ativo na Bolívia e suas conexões com figuras importantes da época. "Em Nancy, encontramos cartas que mencionam sua atuação na América do Sul, o que foi crucial para contextualizar sua obra", explica Stoll.

A vida na Amazônia e o legado de Le Cointe

Le Cointe chegou ao Pará após uma breve passagem por Paris, onde frequentou cursos noturnos de etnobotânica, motivado pelo auge do movimento colonialista francês. Desembarcou em Óbidos em um contexto de disputas territoriais entre a Guiana Francesa e o Brasil, que marcaram o início de sua longa permanência na Amazônia.

"Ao se casar com Maria, uma obidense de família prestigiada, ele 'casou-se com a Amazônia'", observa Stoll. "Ele se estabeleceu definitivamente na região, trabalhando como topógrafo e agrimensor, contribuindo significativamente para o desenvolvimento local.

Le Cointe também fundou a Escola de Química Industrial do Pará em 1920 e dirigiu o laboratório de análises do Museu Comercial do Pará. Apesar de seus esforços, ele enfrentou o isolamento e a frustração diante do fracasso das iniciativas de industrialização da Amazônia.

Em suas palavras, publicadas na imprensa da época, ele lamentou: "Infelizmente, em vez do desenvolvimento brilhante que eu pensava ser um futuro muito próximo na Amazônia, noto uma decadência real em todos os aspectos".

Apesar dos desafios e de posicionamentos marcados pela política colonialista francesa, as obras de Le Cointe sobre a Amazônia são ainda hoje referência para botânicos e pesquisadores. “O lançamento do diário promete resgatar sua contribuição e oferecer uma nova perspectiva sobre a história da região”, diz Emilie.

O seminário do Museu Goeldi, que contará com a presença de familiares de Le Cointe e de pesquisadores renomados. "Estamos muito felizes de trazer à sociedade esta obra inédita, que não só ilumina a trajetória de Le Cointe, mas também resgata a riqueza histórica da Amazônia durante o ciclo da borracha", diz a pesquisadora.

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