Denúncias de poluição sonora aumentam mais de 30% no Pará; problema pode prejudicar a saúde mental
Ruídos do trânsito, volume alto na música do vizinho e outros barulhos estão por trás do problema
Buzinadas e outros ruídos no trânsito, volume alto na música do vizinho, carros de som anunciando serviços – esses são apenas alguns exemplos de poluição sonora que comprometem a tranquilidade e a saúde mental de muita gente. A prática é crime ambiental pela Lei Federal nº 9.605/1998, que prevê prisão de até três anos. No Pará, o número de denúncias aumentou 30,20% nos três primeiros meses deste ano, comparado ao mesmo período do ano passado.
Em 2023, de janeiro a março, foram computadas 1.765 denúncias por esse motivo. Já em 2024, no mesmo período, o número saltou para 2.298. Os dados são de balanço divulgado pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup), a partir dos registros do canal do Disque Denúncia 181.
Em Belém, no bairro da Pedreira, os moradores convivem com alguns desses problemas. É o caso do administrador Kotario Kuji, de 57 anos, que mora na cidade há oito anos. Antes disso, ele viveu no Japão por 26 anos e comenta que sentiu muito a diferença do ambiente ao retornar à capital paraense. Para ele, os sons do trânsito, das buzinas, a música alta e outros ruídos em excesso, em Belém, prejudica toda a população e gera transtornos à vida em sociedade:
“Os principais problemas que acarretam são o estresse, a impaciência e a falta de cordialidade. Colocar um som alto é falta de respeito com o próximo - se você não respeita, você não vai ter respeito, aí se torna uma cidade extremamente agressiva, indisciplinada”.
Já a secretária do lar Marlene Rosa, que mora há cinco anos no mesmo bairro, reclama das festas com som alto na vizinha, sobretudo aos finais de semana. “A gente trabalha a semana toda, não consegue dormir direito no fim de semana por causa do som alto. Dá muita dor de cabeça por causa do barulho. O trânsito também incomoda, por causa de muito carro e moto e tem moto que faz muito barulho”.
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Problemas de saúde relacionados à poluição sonora
A dor de cabeça, o estresse e a irritabilidade não são percepções exclusivas de Kotario e Marlene. Segundo a psicóloga Christiane Macedo, esses problemas estão ligados aos prejuízos que a exposição exagerada ao barulho pode causar à saúde mental:
“O ruído pode provocar episódios de fadiga, estresse, depressão e ansiedade. O nosso cérebro fica em alerta como se estivéssemos expostos a um perigo. Isso aumenta a secreção do cortisol, que é o hormônio do estresse, que defende nosso organismo”, explica Christiane Macedo.
Existe também um tipo de transtorno específico que, para quem vive com essa condição, determinados sons provocam incômodo intenso. É a misofonia - ou síndrome da sensibilidade seletiva a sons, mesmo não sendo altos. Quem tem misofonia costuma apresentar “uma reação emocional negativa e desproporcional quando exposta a ruídos acima de 85 decibéis (um liquidificador ou um secador de cabelos, por exemplo) causando sentimentos como raiva, irritabilidade e ódio”, detalha a psicóloga.
Além dos prejuízos pessoais, a convivência com o barulho pode destruir a convivência social. “Uma coisa é acontecer esporadicamente, mas, a partir do momento em que se torna recorrente, todos os dias, a mesma coisa, isso causa uma irritabilidade coletiva. Acaba afetando a comunidade, as relações sociais, as pessoas acabam a não querer mais interagir umas com as outras e o outro segue achando que pode fazer o que quiser porque está dentro de casa”, diz Christiane Macedo.
A psicóloga orienta que, nos casos em que o barulho é provocado por um vizinho, o diálogo é a melhor forma de tentar resolver o problema: “é melhor conversar antes de tomar qualquer decisão. Em casos mais graves e recorrentes, é possível acionar a polícia para que sejam tomadas as medidas cabíveis e legais”.
Confira a lista de denúncias mais recorrentes no Disque Denúncia em 2023 e 2024 no Pará
Janeiro a março de 2023
- Tráfico de entorpecentes - 2.181
- Poluição sonora - 1.765
- Maus-tratos contra animais - 845
- Abandono de animais - 216
- Porte de entorpecente - 188
- Jan a Mar de 2024
- Poluição sonora - 2.298
- Tráfico de entorpecentes - 2.090
- Maus-tratos contra animais - 998
- Abandono de animais - 345
- Porte de entorpecente - 326
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