Fé sobre as águas: veja como foi o Círio de Caraparu neste domingo
Em canoas a remo e caiaques, devotos prestaram suas homenagens no 106º Círio Fluvial de Nossa Senhora da Imaculada Conceição do distrito de Caraparu, no município de Santa Izabel do Pará
Em canoas a remo e caiaques, e com a maior parte do tempo nublado, milhares fiéis participaram do 106º Círio Fluvial de Nossa Senhora da Imaculada Conceição do distrito de Caraparu, no município de Santa Izabel do Pará, na região metropolitana de Belém, na manhã deste domingo (8). O tema do Círio Fluvial deste ano foi “Com Maria, adorando e servindo”. Devotos relatam que é uma das mais belas manifestações religiosas do município. As canoas não podem ser a motor por causa do barulho, para não atrapalhar a programação musical do Círio. A festividade começou no último dia 7 e segue até segunda-feira, 14 de dezembro.
Círio Fluvial:
Como foi a programação?
Logo cedo, às 5 horas, houve a alvorada e, em seguida, a imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição foi conduzida até a orla, de onde desce o rio Caraparu, por volta das 6 horas, até a comunidade do Cacau. Foi quando começou o traslado da imagem. Às 7 horas, momento de acolhida, com uma pequena celebração, e escuta da palavra na capela dessa comunidade. Pouco depois das 8 horas, começou o percurso de volta, dando início à procissão fluvial até Vila de Caraparu. Encerrado o Círio Fluvial, começou a romaria pelas ruas da Vila de Caraparu. Em seguida, uma missa. A programação do domingo encerrou na igreja da vila.
Procissão pelas ruas após o Círio Fluvial:
Redescoberta da beleza
O padre Rúzevel do Socorro Lourinho Ferreira, pároco da Paróquia Santa Izabel de Portugal, vinculada à Diocese de Castanhal, disse que, inspirada nas palavras do Papa Francisco, a Diocese assumiu a responsabilidade de dedicar este ano para tentar responder à pergunta de Jesus por meio da “redescoberta da beleza, que é a vivência do amor fraterno, que tem sua fonte no amor a Deus. E o amor a Deus se vive concretamente nestes dois movimentos: adoração e serviço”.
O religioso também falou do tema da festividade deste ano. E de celebrar a solenidade à Nossa Senhora da Conceição com o compromisso de, por meio da oração, “nos configuramos a Cristo e, no serviço, fazer o que Ele nos pede. E assim nossa festividade, seja expressão do serviço verdadeiro, que se doa sem reservas em vista do bem de todos. Um serviço gratuito e discreto, simplesmente por amor”.
Emoção que cresce a cada ano
Ana Cláudia Farias, membro da organização do Círio e devota de Nossa Senhora da Conceição, contou que o evento é um momento de muita emoção. "O Círio de Caraparu é conhecido nacionalmente, sendo acompanhado por muitos devotos", disse. “Então é muito gratificante saber que o nosso Círio traz essa emoção, tem esse toque familiar. É um Círio que nos traz união, paz. A gente pede a Deus e a Nossa Senhora proteja nossas famílias”, afirmou. “O Círio de Caraparu é um dos mais emocionantes de que participo durante os meus 55 anos de vida. A gente começa a arrumar as nossas casas, pintar e coloca a maniçoba no fogo, para esperar nossos convidados”, acrescentou.
Ela disse que estima que, somando o público do traslado nas ruas e do Círio Fluvial, mais de 10 mil pessoas devem acompanhar a programação no domingo. E disse que, a cada ano, surgem mais canoas e caiaques. "A gente estava preocupada com a questão da água. Como o verão foi muito forte, o rio secou bastante. Mas, graças a Deus, deu umas chuvas e deu uma crescida na água", disse Ana Cláudia.
Tradição
O pedreiro Valdeci Gomes de Farias, 44, participa há 25 anos. Atua na ornamentação. Ele sai vestido de marinheiro, uma tradição deste Círio. "Eu via os mais antigos e tinha vontade de vir", contou. "Como sou do interior, raiz mesmo, cresci vendo esse Círio", afirmou.
"É uma satisfação muito grande acompanhar e não deixar essa tradição morrer", disse, afirmando que sua família (três irmãos, filha e sobrinha) participam da programação. "É uma emoção muito grande pra gente que é nativo do Caraparu", acrescentou.
A empresária Graziela Cardoso, 30 anos, disse que participa desde "pequena". "Sou daqui de Caraparu", contou. Ela falou de sua fé à Nossa Senhora da Conceição e destacou a disposição das pessoas de, a cada ano, participa desse Círio das águas. "É a renovação da fé", disse, destacando que a procissão pelas águas escuras do rio permite completar a natureza em volta. Mas Graziela chama a atenção para a necessidade de se preservar a natureza. "Tá bem devastada em relação ao que era antes. Mas a natureza é muito bonita. É a nossa riqueza", afirmou.
A dona de casa Ana Rita Silva, 36 anos, foi na canoa com sua família. "Tenho um motivo especial para participar. É pela minha filha, Maria Clara, de 13 anos", contou. "Quando nasceu, ela foi dada como morta. E eu disse pra Nossa Senhora que, se ela salvasse a minha filha, eu colocaria o primeiro nome dela de Maria. E ela tá ali (aponta para o fundo canoa), com 13 anos, graças a Deus ", afirmou.
Ela disse que ninguém trazia ela para acompanhar o Círio. "Hoje meu marido me trouxe. Se Deus e Nossa Senhora permitirem, a partir de agora estaremos aqui todos os anos", afirmou ela, levando, na canoa, uma imagem de Nossa Senhora.
O enfermeiro Deivison Carvalho, 38 anos, participa do grupo Romeiros de Benevides. "Há 8 anos saimos de Benevides e vamos até a localidade de Feijoal. E, de canoas, vamos até a comunidade do Cacau", disse. "Para acompanhar essa manifestação de fé e louvor a Deus e à Nossa Senhora, nossa padroeira. Esse Círio das águas, uma das maravilhas do Pará, acontece há mais de 100 anos", afirmou.
O grupo começou com seis amigos. "Fizemos a promessa de, todo ano, trazer pessoas que não conheciam o Círio Fluvial. Este ano trouxemos quatro pessoas. Somos 14 no grupo", afirmou
Qual a história do Círio em Caraparu?
A devoção à Virgem da Conceição iniciou na Vila de Caraparu em 1905. Mas o primeiro Círio foi realizado somente em 8 de dezembro de 1918. E já é tradição do povo izabelense e de outras comunidades ribeirinhas ao longo do rio Guamá. Moradores de Belém também acompanham essa procissão fluvial.
Os primeiros Círios eram feitos em canoas chamadas “reboque”, passando, depois, a ser conduzido por gôngola puxada por escaler (embarcação pequena) a remo, por homens vestidos de marinheiros. Eles eram acompanhados por diversas irmandades, em suas embarcações, todas enfeitadas com bandeirinhas e banda de música composta por elementos da localidade, tocando hinos sacros.
Diz ainda a organização da festividade: “era a mais brilhante e colorida festividade religiosa, permanecendo até nossos dias. É uma procissão fluvial, plena de simplicidade e beleza, numa demonstração popular de fé”.
Segundo a Igreja Católica, a solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, celebrada no dia 8 de dezembro, é uma das festas mais significativas do calendário litúrgico católico. Essa solenidade não apenas exalta a pureza e a santidade de Maria, mas também destaca o papel fundamental que ela desempenha na história da salvação.
A Igreja ensina que Maria foi concebida sem pecado original, um privilégio que a preparou para ser a mãe do Salvador. Este dogma, definido pelo Papa Pio IX em 1854, reflete a crença de que, desde o momento de sua concepção, Maria foi cheia de graça, tornando-se um modelo de virtude e fé para todos os cristãos.Ainda segundo a Igreja Católica, a Imaculada Conceição de Nossa Senhora é um convite à reflexão sobre a natureza do pecado e a necessidade de redenção.
"Através de Maria, a humanidade recebe não mais a promessa de salvação, mas sua concretização. A vida de Maria Santíssima é um testemunho da resposta generosa ao chamado de Deus", afirma a Igreja.
A celebração da Imaculada Conceição é uma oportunidade para fortalecer a devoção mariana. “Ao honrar Maria, os cristãos são levados a aprofundar sua relação com Cristo, reconhecendo que ela é um caminho seguro para chegar a Ele. A oração e a meditação sobre a vida de Maria podem inspirar os fiéis a viverem com mais amor e compaixão, seguindo o exemplo da Mãe de Deus em suas interações diárias”, explica a Igreja.
“Em suma, a solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora não é apenas uma celebração da pureza de Maria, mas um convite à santidade, à fé e à confiança em Deus, que continua a agir na história da salvação”, afirma comunicado da Igreja.
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