Pandemia impulsiona casos de mortalidade materna no Pará

Apesar da alta de 30%, o percentual de mães mortas durante a gravidez, no Estado, é inferior à média nacional, de 47%, segundo levantamento do Ministério da Saúde, relativo ao período entre 2019 e 2021

Camila Guimarães / Laís Santana

O índice de mortalidade materna vem crescendo no Pará, e no Brasil como um todo, nos últimos anos, conforme mostra o Painel de Monitoramento da Mortalidade Materna do Departamento de Análise em Saúde e Vigilância das Doenças Não Transmissíveis, do Ministério da Saúde (DASNT/SVS/MS). No Pará, os casos de morte materna subiram 30,51% entre 2019 e 2021.

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De acordo com o Ministério da Saúde, a morte materna é aquela em que uma mulher morre durante a gravidez ou em até 42 dias após o término da gestação, independentemente da duração da gravidez. Os dados do levantamento mostram que, em 2019, foram registrados 2.543 casos de morte materna no Pará. Cenário que piorou em 2020, com o registro de 3.004 mortes. No ano passado, o número chegou a 3.319.

Segundo o portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, esse tipo de morte é considerada uma das mais graves violações dos direitos humanos das mulheres, por ser uma tragédia evitável em 92% dos casos e por ocorrer principalmente nos países em desenvolvimento.

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No Brasil, a progressão dos casos vem aumentando exponencialmente. Em 2019, foram registradas 62.683 mortes maternas. No ano seguinte, foram quase 10 mil casos a mais, chegando a 71.879. Já em 2021, mais 20 mil mortes se somaram ao cenário, atingindo o número de 92.682 mortes maternas.

Os dados do Painel também revelam a forma como o problema afeta desigualmente as regiões brasileiras. A região norte é a terceira no ranking de mortalidade materna, atrás do sudeste (977) e do nordeste (747), enquanto as menores taxas estão nas regiões sul (364) e centro-oeste (268). Entre os estados da região Norte, o Pará lidera os números de morte materna, sendo, ainda, o sexto estado no ranking nacional em 2021.

Elyade Camacho, enfermeira obstetra e docente da Universidade Federal do Pará (UFPA), explica que um dos fatores que puxaram o aumento no número de casos nos últimos anos foi a covid-19. "Além da dificuldade de acesso no pré-natal, que já é uma dificuldade normal no Brasil, a pandemia se tornou um dos fatores que contribuiu para esse crescimento. A pandemia dificultou mais ainda esse pré-natal, muitas mulheres também adquiriram covid-19 junto com a gestação e muitas acabaram evoluindo a óbito porque o vírus da covid-19 é muito mais severo na mulher grávida e na puérpera por causa da possibilidade de formar trombos", afirma. 

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Além de regionalizado, o problema também é racializado. Os dados do Painel mostram que, no Pará, em 2021, foram 2.683 casos de morte materna de mulheres pretas e pardas, enquanto as de mulheres brancas foram de 578. No país como um todo, a discrepância permanece. Em 2021, faleceram 40.651 mulheres brancas, ao passo que foram registradas 49.345 mortes de mulheres pretas e pardas, dentro dos casos de morte materna.

A especialista destaca a importância do pré-natal para combater e prevenir o crescimento do número de casos. Segundo Camacho, os principais fatores que ocasionam a mortalidade materna são a qualidade do pré-natal, a covid-19 (no último ano) e a hipertensão arterial. "No Brasil, o campeão da mortalidade materna é a hipertensão arterial, o mesmo vale para o Estado do Pará. De novo volta lá no pré-natal, como não é feito com qualidade as vezes uma alteração da pressão, por exemplo, quando a pressão está em 12/8 e consideram que está normal, só que para aquela gestante, em particular, não é normal. São discretas alterações que ocorrem lá no pré-natal que daria para investigar, prevenir e tratar, mas não é o que acaba acontecendo", acrescenta Elyade Camacho. 

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