Trabalho realizado no Hospital Materno-Infantil zera mortalidade materna em Barcarena
Novo método de trabalho é recomendado pela OMS e outras técnicas já testadas e aprovadas
A dedicação na prestação do serviço público das equipes multiprofissionais do Hospital Materno-Infantil de Barcarena, na região do Baixo Tocantins, vem mudando a realidade para a maioria das gestantes daquele município: nos últimos 12 meses, o hospital não registrou nenhum óbito materno. O índice de mortalidade é em cerca de 0,05%.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) relaciona a morte materna às complicações gestacionais que acontecem entre o parto e puerpério, que é o período de 42 dias após o término da gravidez. Os óbitos maternos são compreendidos como aqueles desencadeados ou agravados pelo processo gestacional. Portanto, não têm relação com outras causas, como os acidentes e violências.
“Esse é um processo aberto, mutável, então, o que conseguimos foi melhorar e dar mais segurança a um processo de atendimento que preserva a saúde da mulher em um momento extremamente crítico”, pondera Joice Vaz, diretora assistencial do Hospital Materno-Infantil.
Esse caminho envolveu a implantação de um método de trabalho preconizado pela própria OMS, conhecido como “Near Miss”, um conjunto de diretrizes e orientações voltados aos profissionais que, se seguidas corretamente, tendem a identificar vários tipos de complicações que podem comprometer a saúde da gestante. O método também indica o que os profissionais devem fazer diante dessas complicações.
“Quando é identificada a complicação materna, já seguimos uma recomendação pré-definida. É um método padronizado que a equipe assistencial segue à risca. Dessa forma, conseguimos impedir que ocorra uma situação de quase óbito, pois agimos na prevenção das principais causas de mortalidade materna com uma boa condução obstétrica”, ela acrescenta. Ainda assim, “se não for aplicada a abordagem corretamente, o protocolo Near Miss irá apontar quais condutas não foram realizadas”, explica Mary Maia, diretora técnica do hospital..
Protocolo "Near Miss" tem aprovação da OMS
O coordenador de enfermagem do Materno-Infantil, Geovanny Magalhães, afirma que há diversas complicações, tanto no parto quanto no puerpério, que representam situações de risco para a gestante. Entre as mais comuns estão a hipertensão, pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia, hemorragias e infecções graves, complicações no parto, sepse e abortos, que precisam de uma abordagem especializada pautada em protocolos assistenciais.
Para cada complicação grave identificada na paciente, há uma medida de cuidado padrão e um indicador que mostra se o atendimento está alcançando o resultado esperado. Entre os protocolos implementados e avaliados pelo Near Miss estão a atenção à hemorragia pós-parto, síndrome hipertensiva da gravidez, infecções maternas graves e de parto e nascimento seguro, todas consideradas pela Organização Mundial da Saúde como boas práticas assistenciais.
“Estudos e pesquisas apontam que as complicações maternas também podem estar relacionadas às dificuldades do atendimento no ambiente hospitalar. Então, com Near Miss, nós conseguimos fazer o rastreio dessas dificuldades”, explica o coordenador de Enfermagem.
Esse rastreio inclui avaliar todo o caminho percorrido pela paciente no hospital, quais procedimentos foram aplicados e se a abordagem correta no atendimento foi seguida. "Para isso, capacitamos nossos profissionais para o atendimento às emergências obstétricas. O protocolo Near Miss permite monitorar esses atendimentos, em tempo real, 24 horas por dia”, garante Geovanny.
Hospital Amigo da Criança e Amigo da Mulher
Segundo a Coordenadora de Saúde da Criança da Sespa, Ana Cristina Guzzo, desde o ano de 2020 o Hospital Materno-Infantil está sendo preparado para ser um Hospital Amigo da Criança, certificado pelo Ministério da Saúde.
“Dentre os quesitos exigidos pelo Ministério, além de trabalhar os dez passos para o sucesso do aleitamento materno, o hospital também precisa cumprir os critérios amigos da Mulher, que nada mais é que um incentivo às boas práticas de parto e nascimento. Esse é um ponto importante na melhoria da qualidade desses serviços às mulheres” avalia a coordenadora.
Pertencente ao Governo do Estado do Pará, o Hospital Materno-Infantil de Barcarena é gerenciado pela Pró-Saúde — uma das maiores entidades filantrópicas de gestão de serviços hospitalares do país — desde o início das atividades.
O êxito alcançado com o Near Miss é um indicador importante da articulação que existe entre os profissionais que atuam no Materno-Infantil e o modelo de gestão. Desde o início, a aplicação de cursos e outras capacitações vêm sendo práticas internas consolidadas no hospital.
“Os treinamentos para identificar as complicações graves fazem parte da nossa rotina”, diz a enfermeira obstetra Roberta Silva. “Com o Near Miss, enxergamos os caminhos da situação e sentimos mais segurança para conduzir esses atendimentos de alto risco”, acrescenta.
600 mil mães morrem durante o parto ou puerpério a cada ano
No mundo, estima-se que ocorram 600 mil mortes de mulheres durante o parto ou puerpério por ano, ou seja, um óbito a cada minuto. Cerca de 92% dessas mortes, conforme afirma a OMS, estão relacionadas a causas evitáveis, que podem ser diagnosticadas precocemente no pré-natal.
Em 2018, a mortalidade materna no Brasil foi de 59,1 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos. Em 2020, dados do Ministério da Saúde mostram que 996 mães morreram de causas diretamente relacionadas ao período gravídico-puerperal. Na região norte do País, dos 148 casos registrados, 68 aconteceram no Pará.
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