Cerol proibido: verão aumenta acidentes com aves no Pará
Cerca de 100% das espécies não fica em condições de voltar para a natureza
O registro de animais vítimas de acidentes envolvendo cerol em linhas costuma aumentar durante o período de veraneio. Os atendimentos são feitos no Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Selvagens (Cetras), da Universidade Federal Rural do Pará (Ufra), e cerca de 100% das espécies não retornam para a natureza. Desde maio, o uso da mistura de cola e vidro moído, que dá o aspecto cortante, está proibida no estado, medida que visa evitar imprevistos que possam colocar em risco a vida.
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Os números são frequentes entre junho e setembro. Geralmente, os animais que chegam na Ufra são rapinantes, como corujas e gaviões. Isso porque eles costumam frequentar o ambiente urbano, ficando mais propensos a acidentes. Em entrevista publicada no portal da instituição, a professora Ana Silvia Ribeiro, coordenadora do Cetras, explica a dificuldade que as espécies encontram durante o tratamento.
“Se não forem a óbito, o trauma é tão grande que ficam com uma mutilação definitiva, que provoca amputação da asa ou fratura. E mesmo que essa fratura se consolide, isso dificulta o voo”, diz Ana.
Os problemas não ocorrem apenas quando as aves estão em voo. O que fica para trás, como as linhas enroladas em árvores, podem causar estrangulamento e mutilação dos pés. “No Cetras, já foram recebidos animais com lesão grave nas asas e nos pés, traumas definitivos ou que chegaram somente para serem eutanasiados, diante do sofrimento que passavam. Um desses animais recebidos é um gavião, encaminhado à universidade e que precisou ter parte da asa retirada”, destaca a especialista.
“Ele se enrolou em linha de pipa quando estava em pleno vôo, com isso caiu e teve uma fratura. Em tratamento ele teve que fazer a amputação parcial da asa, por isso é um animal que não tem mais chance de voltar para a natureza. Para rapinantes isso impede a sobrevivência, pois são animais topo de cadeia alimentar e que precisam caçar e ter todas as suas habilidades e condições biológicas íntegras para exercer sua função”, explica Ana.
O uso de cerol em linhas não prejudica apenas os animais. De janeiro a maio desde ano, acidentes com pipas já causaram 2.284 interrupções no fornecimento de energia, como aponta a Equatorial Pará. Já são mais de 25 mil casos contabilizados desde 2017, quando a empresa começou a realizar o balanço.
Decreto
A publicação, em maio, da Lei 9.597/2022 determina a proibição do uso, armazenamento, fabricação e comercialização de linhas cortantes no Pará. Os materiais que não poderão mais ser vendidos e usados são: linha chilena, cerol e similares cortantes.
A multa estabelecida para pessoas físicas é de R$ 50. Já pessoas jurídicas, que possuam estabelecimentos, se flagradas comercializando os produtos, poderão pagar R$ 5 mil, além de ter a inscrição estadual cancelada. No caso de menores de idade, os pais ou responsáveis responderão pelo descumprimento da lei.
De acordo com o texto publicado no DOE, entende-se por linha cortante "a que tem sua composição alterada na origem de sua industrialização por outros produtos químicos, ou pó de vidro, limalha de ferro, quartzo, óxido de alumínio ou outro componente, com a finalidade de conferir atributo cortante ao fio, direto em sua composição".
O cerol é considerado, segundo a lei, a mistura de cola com vidro moído. Já a linha chilena é a mistura de madeira com quartzo moído, e a linha indonésia, a mistura de cola cianoacrilato — conhecida popularmente como superbonder — com carbeto de silício ou óxido de alumínio.
Serviço
Quem encontrar animais selvagens nas vias públicas deve entrar em contato imediato com a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) ou o Batalhão de Polícia Ambiental. Esses órgãos fazem a destinação à Ufra ou a outras instituições.
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