Caso dos corpos encontrados em barco em Bragança completa três meses sem respostas

O caso gerou repercussão mundial por evidenciar o desespero dos refugiados, que tentaram fugir de seus países rumo ao continente europeu por uma rota que liga a África à Europa

O Liberal
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Mais de três meses após um barco à deriva com nove corpos ser encontrado no litoral do município do Bragança, no nordeste paraense, nenhuma das vítimas foi identificada. As investigações do caso estão sob a tutela da Polícia Federal.

O caso gerou repercussão mundial por evidenciar o desespero dos refugiados africanos, que tentaram fugir de seus países rumo ao continente europeu por uma rota que liga a costa africana às Ilhas Canárias, na Espanha. A embarcação, uma das milhares que partem mensalmente de países como Mali, acabou perdendo-se da rota original, atravessando o oceano Atlântico para ser encontrada no Pará. 

O barco foi encontrado em 13 de abril por pescadores da região bragantina. A embarcação foi levada para a comunidade do Castelo, na zona rural de Bragança, município distante pouco mais de 200 quilômetros de Belém.  

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Conforme a Marinha, o barco, fabricado com fibra de vidro e com cerca de 13 metros de comprimento, foi encontrado sem motores ou quaisquer sistemas de propulsão e direção.  

Corpos sem identificação

Durante a perícia foi apurado que ao menos 25 pessoas estavam na embarcação encontrada na região de Bragança. Esse número é estimado conforme a quantidade de capas de chuva (23 verdes idênticas e duas amarelas) que estava no barco, segundo a perícia da Polícia Federal.

O caso, federalizado assim que chegou ao conhecimento da Polícia Federal, culminou em uma força-tarefa, com equipes saindo de Brasília (DF) até Belém, onde se concentraram os trabalhos inicialmente. 

Na primeira semana, a PF identificou que eram nove corpos, em estado avançado de decomposição. A causa da morte ainda não foi confirmada, mas a Polícia Federal acredita que tenha sido falta de água e comida. 

Alguns documentos e objetos foram encontrados juntos aos corpos e apontam que as vítimas eram migrantes do continente africano, da região da Mauritânia e Mali, mas, mesmo com a documentação, a PF anda não conseguiu identificar nenhuma vítima devido aos estados dos documentos encontrados. 

“Encontramos 25 capas de chuva no barco e 23 idênticas, isso evidencia a organização que existe por trás disso, com certeza. Para colocar um barco, mesmo que precário, com custo alto, existe uma organização”, disse à CNN em abril José Roberto Peres, superintendente da PF no Pará. 

“Alguém ali organizou, colocou esse barco no mar e com certeza vendeu algumas vagas para as pessoas vulneráveis que pretendiam buscar uma vida melhor”, completou o delegado. 

A PF segue também no trabalho de identificação das vítimas com base nas digitais e nos celulares que foram encontrados dentro do barco, mas a deterioração prejudica a análise, no Instituto Nacional de Criminalística (INC). 

O trabalho realizado pelas instituições segue os protocolos de identificação de vítimas de desastres da Interpol (DVI). A PF espera que nas próximas semanas já haja identificação das vítimas para que as famílias sejam comunicadas. 

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