Câncer de mama: quantidade de mamografias realizadas no Pará já é 64% do total contabilzado em 2021
Procedimento é uma das principais formas de prevenir a doença, que cada vez mais tem afetado mulheres em idades mais baixas
O exame de mamografia é considerado um dos principais meios para detectar o câncer de mama. De janeiro a outubro de 2022, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) contabilizou 32.411 procedimentos realizados no Pará. O número já corresponde a 64% totalizado pela pasta em 2021. Belém também tem registros animadores. Até agosto deste ano, a capital atingiu 73,29% do que é preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), quando o mesmo período de 2021 fechou com apenas 57,48% da meta. O mecanismo de rastreio, quando feito periodicamente e aliado a uma rotina saudável, tende a diminuir as chances da doença e aumenta a qualidade de vida.
Porém, a preocupação dos especialistas é com a regressão da idade em que a doença tem incidido: um levantamento da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) mostrou que, nos últimos dois anos, o percentual passou de 2% das mulheres com 35 anos diagnosticadas com câncer de mama, para 5%. O estilo de vida adotado pelas novas gerações pode estar relacionado com essa mudança etária. Outro aspecto observado é a forma agressiva em que os tumores surgem devido um fator genético e hereditário, relacionados, ainda, com essa diminuição. A atenção primária, que consiste na prática de atividades físicas e hábitos saudáveis, previne, ainda, problemas crônicos.
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A SBM indica que a mamografia seja realizada anualmente a partir dos 40 anos. Juliana Nicolau, médica oncologista, explica que o exame pode ser realizado mais cedo, caso a paciente tenha condições específicas. “Este é um exame de imagem, não invasivo, que utiliza um aparelho chamado mamógrafo, que vai emitir pequenas porções de radiação para obter uma espécie de raio-x das mamas. Se a paciente for de alto risco, com uma mutação genética comprovada, é indicado que ela realize a mamografia a partir dos 30 anos. E, se ela tiver um histórico familiar positivo para câncer de mama, esse rastreamento deve se iniciar 10 anos antes da idade que o familiar tinha quando teve o diagnóstico”, diz a doutora.
Outros métodos de diagnóstico por imagem podem ser utilizados para fazer o rastreio. Ressonância magnética das mamas é uma opção. Quando questões ligadas à genética estão envolvidas, é fundamental aumentar os cuidados e a atenção. “Uma paciente portadora de mutação genética pode vir a desenvolver o câncer de mama em idades mais precoces. Podem ser tumores mais agressivos, podem ser tumores bilaterais e a presença de um fator genético também pode incluir o aumento do risco de aparecimento de tumores em outros órgãos”, destaca Juliana.
Prevenção
Atenção primária e secundária andam juntas para evitar o aparecimento de câncer de mama. Tendo em vista que o consumo de álcool e o tabagismo são elementos que colaboram para essa realidade ser vista ainda mais cedo nas mulheres, é necessário manter melhores hábitos. “Uma boa alimentação, a prática de atividades físicas regulares, evitar hábitos nocivos e ter um controle de obesidade. Isso faz parte da prevenção primária: ter um bom estilo de vida. E, também, a prevenção secundária, que é a realização periódica de exames de rastreamento. Frequentar o mastologista, fazer a mamografia anualmente a partir dos 40 anos ou mesmo você ter o hábito de examinar suas mamas”, finaliza.
Diagnóstico precoce aumenta chances de cura
Prevenção sempre foi o foco da Karina Coroa, de 41 anos. Fisioterapeuta, o dia a dia é envolvido em exames de rastreio e cuidados com a saúde. A primeira mamografia realizada foi aos 35 anos e, na terceira vez que realizou o procedimento, veio a surpresa: câncer de mama. A expectativa de vida dada era de seis meses e a doença foi extremamente agressiva. “Já fazia ultrassonografia, mas resolvi fazer mamografia. Eu ainda estava na faculdade na época, então, sempre me preocupei com o diagnóstico precoce. Foi na imagem, ainda não apalpava. Eu descobri no final de maio de 2019 e no final de setembro, quando eu ia iniciar as quimioterapias, eu já estava apalpando ele. Ele media milímetros e, de repente, ele chegou a 8 centímetros”, relembra.
Karina faz parte da estatística de mulheres que desenvolvem o tumor de forma precoce. Porém, isso não foi motivo para desânimo. A família foi o ponto de partida para que as forças necessárias fossem somadas: ela queria ver a filha, na época com 15 anos, crescer. “Dizem que eu sou uma pessoa de muita coragem e eu realmente enfrento os desafios. Então, quando eu descobri, meu pai ainda estava vivo, eu me preocupava muito mais com meus pais pela possibilidade de morrer e meus pais perderem a filha, do que com o tratamento, porque a dor a gente suporta. Então isso, pensar no outro, que sempre foi uma característica minha, me fez levar com naturalidade”, relata.
Quimioterapia, mastectomia (retirada da mama) e radioterapia foram os métodos de combate usados no processo. Um mapa genético para localizar o gene que pode ser o causador da doença foi feito, mas o resultado foi inconclusivo. Atualmente, Karina enfrenta dez anos de tratamento oral com bloqueador hormonal para evitar a incidência de metástases. “A cada três meses eu vou na médica, ela pede todos os exames, reavalia e eu vou seguindo. Aí, eu faço suplementação de vitaminas e comecei atividades físicas. Eu vivo essa esperança, porque não é só o físico. É a possibilidade de mostrar pras pessoas que a gente tem dentro da gente forças pra superar. Os momentos difíceis passam”, afirma.
A fé ajudou a enfrentar os momentos de dificuldade
Em 2020, a médica que acompanha o caso suspeitou de uma metástase no ovário da Karina. Foi, então, que ela fez uma promessa à Nossa Senhora: se o resultado desse negativo, ela iria para uma caminhada da fé e, em 2022, para o Círio. “A minha médica me ligou e disse que o exame chegou, que não ia precisar operar, deu tudo certo. O ovário diminui, mas não era tumor, aí eu fui na caminhada da fé em 2020, 2021 e esse ano fui na procissão com a minha imagem de Maria com um pano rosa envolta”, finaliza.
O pano rosa usado de adereço na imagem da santa é o mesmo que Karina usava quando os cabelos caíram, durante o tratamento, representando a força encontrada para seguir adiante nos caminhos.
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