Atendimentos por ansiedade aumentam em diferentes idades; veja hobbies para ajudar com o problema

Praticar habilidades manuais e tocar instrumentos são saídas para diminuir os sintomas e ganhar qualidade de vida

Camila Guimarães

A ansiedade não é apenas um dos destaques da sequência do filme Divertida Mente, lançado no Brasil no último dia 20, que se tornou o primeiro lugar entre os filmes em cartaz, com uma bilheteria de R$ 96,62 milhões, segundo o portal Omelete. O transtorno psicológico e emocional também tem chamado atenção nos balanços em saúde no país. Registros de atendimentos médicos por ansiedade aumentaram no último ano, de 2022 para 2023, em diferentes faixas etárias, conforme dados do Ministério da Saúde. No recorte por crianças de até 9 anos, o aumento foi de 84,6%, entre jovens de 15 a 19 foi de 13,5% e em adultos entre 30 e 39 anos foi de 46,4%.

A pasta sinaliza que os números não são referentes ao total de pessoas atendidas, mas ao número de procedimentos realizados, uma vez que o mesmo indivíduo pode ter feito mais de um procedimento ou internação. Ainda assim, o balanço do Sistema de Informações Hospitalares e Ambulatoriais do Sistema Único de Saúde (SUS) alerta para um problema que tem se espalhado por públicos de diferentes idades.

De acordo com a psicóloga Caroline Cavalcante, de Belém, a ansiedade é um problema multifatorial e sofre bastante influência do fator ambiental. No caso das crianças, ela diz que a dinâmica familiar, a situação de segurança que essa criança pode sentir ou não, de acordo com os vínculos estabelecidos, tem potencial de gerar ou não ansiedade. "Se os estilos parentais são disfuncionais (como por exemplo, pais super protetores ou muito rígidos), a dinâmica familiar pode gerar na criança uma sensação de insegurança, de instabilidade. Então ela não se sente segura e isso pode culminar em um transtorno de ansiedade".

image Ansiedade é um transtorno que afeta todas as faixas etárias, sugerem dados do Ministério da Saúde. (Foto: Divulgação)

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Ainda sobre crianças, a especialista enfatiza que elas são seres em processo de construção da identidade e precisam ter suas necessidades (expressas verbal ou comportamentalmente) ouvidas e atendidas. Além disso, o uso indiscriminado de telas é um risco.

"A criança com menos de 2 anos não deve ter acesso a telas. Com três anos ou mais os pais devem supervisionar e limitar o uso. As telas proporcionam um corte da realidade que é muito rápido, com muitos estímulos, por isso, pode influenciar na ansiedade".

No caso dos adolescentes e jovens, a psicóloga também pontua a relação com a tecnologia, especificamente as redes sociais: "A relação entre a saúde emocional e as redes sociais pode ter cunho negativo quando está relacionada a alguma pressão. Tudo que é mostrado nas redes sociais, mas não condiz com a realidade da maioria da população, como em relação a atividades, trabalho, condições de lazer, qualidade de vida e até questões estéticas, por exemplo, pode gerar conflito quando as pessoas acabam se comparando, gerando uma pressão que pode ser gatilho de ansiedade".

Caroline Cavalcante também salienta outros estímulos à ansiedade mesmo na faixa etária dos mais maduros - pessoas de 30 a 39 anos: "A ansiedade nos adultos pode ter influências sobre as questões culturais do que se espera em determinada faixa etária, como ter estabilidade no emprego, ganhar bem, comprar casa e constituir família. Até mesmo as pressões relacionadas ao trabalho, dificuldade no relacionamento interpessoal, baixa remuneração, precárias condições de trabalho, violência podem influenciar".

image Alexandra Soares encontrou no crochê uma forma de lidar com a ansiedade. (Wagner Santana / O Liberal)

Exercer habilidades e talentos são estratégia contra a ansiedade

Para lidar com o transtorno de ansiedade, a psicóloga Caroline Cavalcante menciona a importância de praticar atividades físicas e exercer hobbies como dançar, escutar música, aprender algo novo ou se aprimorar naquilo que gosta: "[essas práticas] nos permitem recarregar as energias, aliviar o estresse, auxiliando na qualidade de vida, no se sentir útil, no desenvolvimento da criatividade, do senso de pertencimento, e no estabelecimento de laços sociais", pontua.

A orientação é comprovada, na prática, na vida da empreendedora Alexandra Soares, de 29 anos de idade. Ela, que teve crises de ansiedade entre 2019 e 2020, à época da pandemia de covid-19, conta que conseguiu driblar os sintomas e retomar a qualidade de vida a partir do crochê - habilidade que ela já conhecia desde a adolescência, mas não praticava mais.

"No começo da pandemia, a gente não sabia a gravidade da situação. Quando as coisas começaram a ficar ruins, a gente perdeu uma vizinha e foi quando a gente viu a gravidade do que estava acontecendo. Comecei a ter preocupação excessiva com a minha mãe e o meu filho. Eu comecei a sentir muito aperto no peito, eu achei que era algum problema de coração ou até pneumonia, porque era muita falta de ar e dificuldade para dormir. Fui ao hospital, fiz exames, mas estava tudo normal", relata Alexandra.

image De um hobby, o crochê passou a ser fonte de renda, diz Alexandra. (Wagner Santana / O Liberal)

Foi depois de uma conversa com uma colega de trabalho, que sugeriu que ela poderia estar com ansiedade, que Alexandra buscou outros caminhos para tratar os sintomas. "Naquele tempo a gente estava muito privado, não podia sair, tinha que ficar resguardado e aí eu vi uma reportagem na televisão sobre as pessoas começando a praticar alguns hobbies. E foi aí que voltei com o crochê".

Alexandra conta que, desde então, começou a produzir diversos itens com base na técnica que, aos poucos, foi atraindo clientes. Hoje, o hobbie, que ajudou a retomar sua saúde, também é uma fonte de renda. "Eu tive que sair do trabalho para ficar com o meu filho, mas eu não fiquei desamparada. Eu só tenho a agradecer por esse dom que foi Deus que me deu".

Semelhantemente acontece com o músico Leonardo Giller, de 30 anos. Há cerca de dois anos, após passar por problemas pessoais, ele se viu com sintomas de ansiedade que o afastaram de atividades do dia a dia e afetaram, inclusive, suas relações interpessoais. "Eu tinha muitas crises. Eu ficava muito acelerado, queria muito alguma coisa que eu não sabia o que era, ficava com medo de algo que poderia acontecer a qualquer momento. Era muito difícil também para quem estava ao meu redor, para os meus familiares. Mas, por sorte, eu consegui vencer isso com apoio profissional e por meio da música".

image Leandro Giller voltou à prática de música para diminuir os sintomas de ansiedade. (Wagner Santana / O Liberal)

Por incentivo de amigos, Leonardo voltou a estudar música, inicialmente, três vezes na semana, e foi um santo remédio: "Eu comecei a perceber a melhora da ansiedade. Porque a gente acaba aprendendo coisas novas. Além disso, estar num grupo, numa classe, faz a gente ter o mesmo objetivo. As pessoas se apoiam, principalmente quando não estão se sentindo bem. A gente segue juntos por um objetivo maior".

Hoje em dia, com os sintomas controlados, Leonardo conta que tem planos de voltar a tocar na noite: "Música sempre foi minha paixão e, quando eu comecei a retomar os estudos, foi que eu comecei a retomar aquele aspecto melhor, meus amigos e familiares me olhavam e diziam que viam no meu rosto que eu estava melhor. Agora, a partir do segundo semestre, eu pretendo retornar a tocar na noite que é, realmente, a minha paixão".

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