'Arco-Íris da Justiça' é arma contra a violência doméstica

Em 2022, a Lei Maria da Penha - principal ferramenta que vigora atualmente no Brasil no enfrentamento à violência contra a mulher - completou 16 anos de criação. E o Arco-Íris da Justiça, um grupo de mulheres engajadas que atua em Marabá e municípios vizinhos, no sudeste do Pará, pode se orgulhar de ser um ferrenho defensor da causa. Criada há 18 anos, a associação nasceu da observação em outros trabalhos realizados junto às comunidades dos bairros Liberdade e Laranjeiras.

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“A gente fazia um trabalho pela Pastoral da Criança. E isso envolvia visitas regulares às famílias. Nessas visitas, nós identificamos que diversas dessas mulheres eram vítimas de violência. Naquela época, o machismo era muito grande, ainda maior do que é hoje. As mulheres, mães das crianças que a gente visitava, sofriam muito dentro de casa”, lembra a fundadora da associação, Rosalina Izoton.

Várias das atividades desenvolvidas pelo Arco-Íris da justiça foram idealizadas para sanar problemas que as voluntárias sentiam na pele. Atualmente, uma das vertentes do grupo é um cursinho preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). As aulas são gratuitas, abertas à toda a comunidade e beneficiam tanto os jovens que tentam uma vaga no ensino superior, quanto mulheres que têm vontade de voltar a estudar.

“Me casei muito nova, com 14 anos, e não tive essa oportunidade. Então, depois que meus três filhos estavam mais crescidos, eu voltei a estudar. Com muita dificuldade, porque o marido não queria deixar. Até que um dia eu resolvi enfrentar. Aí voltei à sala de aula, terminei o ensino fundamental, fiz ensino médio e depois fiz uma faculdade. Graças a Deus, hoje, eu sou pedagoga e passei no concurso público há sete anos”, comemora Rosalina.

Entre as atividades do grupo, estão aulas de ginástica, cursos de costura criativa e panificação (Tay Marquioro/ O Liberal)

Entre as atividades oferecidas pelo grupo, estão aulas de ginástica, cursos de pintura em tecido, costura criativa, panificação e salgados. As mulheres atendidas pelo Arco-íris da Justiça também têm acesso a consultas médicas e apoio psicológicos com profissionais que atuam de forma totalmente voluntária, além de promover palestras e encontros que discutem as diversas formas de violência praticada contra a mulher.

“Nós tínhamos mulheres que não faziam ideia do que era o artesanato. E nós vimos, pelo incentivo e pelas oficinas, que eram coisas que elas tinham vontade de fazer, mas achavam que elas nunca iam conseguir. Hoje, essas mulheres estão comercializando e vendendo os seus produtos, vivendo da sua renda no artesanato”, conta a professora de costura criativa, Deuzimar Matos.

Adriana Cavalcante lembra que foi vítima de violência e relacionamento abusivo, mas hoje tem sua autoestima restaurada (Tay Marquioro/ O Liberal)

Adriana Cavalcante é catadora de material reciclável e é um exemplo de mulher que teve a vida transformada pelo apoio que recebeu da associação. Ela encontrou a ajuda que precisava para deixar o relacionamento abusivo no qual vivia e, hoje, usa a sua experiência para ajudar outras mulheres que precisam abandonar o ciclo da violência dentro de casa. “Eu era uma vítima. Hoje, eu posso dizer que sou uma sobrevivente de violência doméstica, de relacionamento abusivo, e tenho minha autoestima restaurada”, revela Adriana. “Agora, eu tenho muito gosto de ajudar a restaurar a autoestima das companheiras que estão ou que saíram dessa situação, mas ainda se sentem desorientadas. Aqui, no grupo, a gente tá disposta a ajudar no que ela precisar”.