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Sob ameaça de invasão israelense, libaneses lotam as praias no verão em Beirute

Líbano tem histórico de invasões ao seu território, levando os cidadãos libaneses a ter cautela com reações precipitadas

Gustavo Freitas / Especial para O Liberal
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Na última semana, Israel lançou um ataque a Beirute, eliminando um comandante do Hezbollah no bairro de Dahieh, área de muçulmanos xiitas. Esta foi a primeira vez que as tensões envolvendo o governo israelense e o grupo chegaram à capital libanesa, aumentando as expectativas de um conflito direto entre os dois países.

Apesar das tensões, o país vive uma realidade de completa normalidade, com bares lotados e praias cheias de libaneses que tradicionalmente visitam o país durante o verão. O histórico de invasões ao território no passado, deram ao povo libanês familiaridade ao estado de iminência de guerra.

Nas últimas semanas, caças israelenses sobrevoaram a capital quase todos os dias para intimidar o país. Uma paraense de origens libanesas vivendo no Líbano, em anonimato, relatou a reação ao ouvir o barulho pela primeira vez: "Fiquei assustada, o vidro da casa até tremeu, mas depois entendi que é normal. Agora escuto e sigo a vida. As pessoas claramente não desejam uma guerra total e muitos não acreditam que ela realmente ocorrerá, então, o conselho aqui é simples: evite assistir os jornais", disse.

No dia do ataque israelense a Beirute, um Instagram de divulgação de festas na cidade fez uma publicação sobre o momento político: "para as pessoas que estão nos perguntando se as festas de hoje continuarão abertas, sim, estarão funcionando normalmente".

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A pouco menos de duas horas da capital, no Vale do Bekaa, as ruínas de Baalbeck abrigam resquícios do império romano em uma cidade de maioria xiita e dominada pelo Hezbollah. Em 2024, Baalbeck já foi alvo de dois ataques israelenses, mas os riscos não afastaram os turistas de esgotarem os ingressos do festival My People no mês de julho.

Em 1982, durante a guerra civil do Líbano, forças israelenses invadiram o sul do país para combater a Organização para Libertação da Palestina(OLP) e lá se estabeleceram por anos. Na mesma época surgiu o Hezbollah, financiado pelo Irã com três objetivos: atender aos interesses do Irã, defender xiitas marginalizados no sul e se tornar uma ameaça a Israel na fronteira.

Embora o Hezbollah atue como uma força militar de dentro do território libanês, o grupo não representa os interesses oficiais do Estado. As sucessivas crises políticas e econômicas enfraqueceram as instituições no Líbano e, atualmente, as Forças Armadas têm um poderio inferior ao Hezbollah, que também tem representação política no parlamento e no governo.

"Em relação ao Hezbollah, existe um debate contínuo sobre se atende às demandas do Líbano ou age como um proxy iraniano. Muitos acreditam que o Hezbollah transforma o Líbano em um campo de batalha de interesses estrangeiros, utilizando a Palestina como forma de instrumentalizar seus interesses. Por outro lado, há uma parcela que reconhece e apoia o grupo porque os vê como uma forma de resistência legítima que consegue defender o Líbano", comentou a paraense de família libanesa.

A fronteira entre o sul do Líbano e Israel é alvo de conflitos há décadas, e após o fim da guerra civil libanesa em 1990, Israel voltou a invadir o sul no ano de 2006, em um conflito que durou 34 dias e vitimou 1200 civis.

O atentado terrorista do Hamas em território israelense no ano passado levou o governo de Israel a invadir a Faixa de Gaza, ocasionando um elevado número de civis mortos. Desde então, o Hezbollah tem realizado ataques rotineiros na fronteira, prometendo defender a Palestina até um cessar-fogo.

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Há seis meses, a região vive a expectativa de um iminente conflito direto para que Israel consiga reduzir as ameaças e afastar o Hezbollah da fronteira. Os Estados Unidos tem buscado dialogar com as partes para evitar uma escalada a um conflito regional, que forçaria o governo americano a participar para defender os interesses de Israel.

Diferente do Hamas, o Hezbollah possui um aparato militar robusto, com mais de 100 mil mísseis e 100 mil combatentes, além de ser o principal aliado do Irã na região. Um conflito direto seria mais difícil e trabalhoso que a batalha contra o Hamas em Gaza, e levaria a região a um nível de instabilidade ainda mais grave.

“É um conflito que tem o potencial de criar uma situação que nunca vimos nesta região: uma grande guerra regional, que poderá atrair o Golfo”, disse David Muller, membro do Carnegie Endowment for International Peace. Ele alerta que isso também poderá levar a um confronto direto entre os Estados Unidos e o Irã.

A extensão do conflito para o Líbano também acabaria com as chances de um cessar-fogo nos próximos meses, um cenário desfavorável para a Casa Branca, que busca chegar a um acordo antes das eleições presidenciais marcadas para o dia 5 de novembro.

Na última quinta-feira (08.08), Joe Biden esteve em ligação com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, cobrando o líder israelense para que as tensões não escalem para um conflito regional. No dia seguinte, o Pentágono informou que havia enviado cruzadores, destróieres e caças adicionais para o Oriente Médio, caso fosse necessário defender Israel de um ataque coordenado do Hezbollah e Irã.

Enquanto houver incerteza, os libaneses continuarão vivendo a vida normalmente sob a sensação de que as ameaças não irão escalar para uma guerra total, evitando instaurar o caos civil até que a segurança de todos esteja, de fato, em risco. "Essa desconexão entre a normalidade social e as questões geopolíticas reforça a dualidade da experiência de viver aqui - uma mistura de otimismo resiliente e consciência constante", finalizou a paraense.

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