Relatório aponta 'no mínimo' 4,8 mil vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica em Portugal

Conclusão é de uma comissão independente formada a pedido da própria igreja para investigar as denúncias. Crimes teriam ocorrido nos últimos 70 anos.

O Liberal
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Relatório de uma comissão indepentende formada no ano passado aponta que, em 70 anos, "no mínimo" 4.815 crianças foram vítimas de abuso sexual na Igreja Católica em Portugal. Segundo Pedro Strech, que preside a comissão, não é possível definir a quantidade dos crimes "porque a maioria das crianças foi abusada mais do que uma vez". O grupo foi criado a pedido da própria Igreja, para investigar suspeitas de abuso que vinham sendo denunciadas nos últimos anos. 

As conclusões do trabalho realizado ao longo de 2022 foram divulgadas na manhã desta segunda-feira (13), na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. O documento foi entregue este domingo à Conferência Episcopal Portuguesa.

De acordo com informações divulgadas pelo Portal Sic Notícias, de Portugal, mais de 600 queixas foram recebidas pela comissão, principalmente do território português, em especial de cinco distritos: Lisboa, Porto, Braga, Santarém e Leiria. 

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Quase todos os abusadores das vítimas que contactaram a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica eram homens e maioritariamente padres,

O antigo ministro da Justiça, Álvaro Laborinho Lúcio, informou que a maioria dos casos enviados para o Ministério Público já prescreveu. Para ele, no entando, a Comissão Independente não podia "ficar com estes de dados na mão e não enviar ao Ministério Público" e existe “um dever” moral do clero de denúncia em relação a este tipo de crimes. Ele destacou ainda a importância da alteração à lei da prescrição dos crimes de abuso sexual, considerando que só devem prescrever depois de vítimas fazerem 30 anos.

Veja o que diz o relatório

  • A maioria das vítimas tinha entre 10 e 14 anos
  • O maior número de casos de abuso sexual na Igreja Católica em Portugal ocorreu nas décadas de 1960, 70 e 80 do século XX.
  • Os abusos estão espalhados por todos o país, mas principalmente nos distritos de Lisboa, Porto, Braga Setúbal e Leiria. Além disso, 52,7% das vítimas são homens, 47,2% são mulheres.
  • Dos abusados, 53% continuam a afirmar-se católicos e 25,8% são católicos praticantes. A percentagem de licenciados é de 32,4%, enquanto 12,9% são pós-graduados.
  • Os homens sofreram principalmente "sexo anal, manipulação de órgãos sexuais e masturbação", enquanto as mulheres sofreram, na maior parte dos casos, de "insinuação".
  • Os locais onde a maior parte dos abusos ocorreu foi nos seminários (23%), na igreja, em diversos locais, inclusive no altar (18,8%), no confessionário (14,3%), na casa paroquial (12,9%) e em escolas católicas (6,9%).
  • Os abusos ocorreram principalmente entre os 10 e os 14 anos de idade (a média era de 11,2 anos, sendo de 11,7 no caso dos rapazes e de 10,5 no das meninas).
  • 57,2% foram abusados mais do que uma vez, e 27,5% referiram que o caso dos abusos de que foram vítimas durante mais de um ano.
  • 97% dos abusadores eram homens e em 77% dos casos padres, além de que em 47% dos casos o abusador fazia parte das relações próximas da criança.
  • Em 52% dos casos a vítima só revelou o abuso de que foi alvo em média 10 anos depois de ocorrido e em 43% dos casos essa denúncia aconteceu apenas quando contactaram a comissão.
  • Em 77% dos casos a vítima nunca apresentou queixa à igreja e só em 4% dos casos houve lugar a queixa judicial.
  • No que diz respeito aos locais, 23% dos abusos aconteceram em seminários, 18,8% na igreja (há um relato de um abuso cometido no altar), 14,3% no confessionário, 12,9% na casa paroquial e 6,9% numa escola católica.
  • Em 57,2% dos casos os abusos ocorreram mais do que uma vez.
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