Guerra entre Israel e Hamas desencadeia diversas tensões na região

Oriente Médio vivia situação de relativa estabilidade até outubro do ano passado, mas tudo mudou à cerca de 100 dias, com o ataque dos terroristas do Hamas ao território israelense

Gustavo Freitas
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Nesta semana, a guerra entre Israel e Hamas completou 100 dias. O amanhecer do último dia 7 de outubro alterou todas as atenções globais, que estavam voltadas para a Ucrânia e passaram a temer as consequências do ataque terrorista protagonizado pelo Hamas em solo israelense. As imagens correram o mundo, dando o início a uma escalada de tensões que culminaram na guerra da Faixa de Gaza.

A contraofensiva israelense veio através de grande incursão no território palestino, com intensos bombardeios e mais de 23 mil mortos em quase quatro meses de conflito, segundo o ministério da Saúde em Gaza. Israel recebeu apoio internacional no seu direito de responder aos ataques cometidos pelo Hamas, mas passou a ser criticado pela forma como está lidando com a situação.

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Passados 100 dias, o governo de Benjamin Netanyahu vem sofrendo pressão interna pelo retorno dos reféns, enquanto é cobrado pela comunidade internacional - incluindo os Estados Unidos - por mais cautela nos ataques. O governo de Joe Biden alertou reiteradas vezes que o número de civis mortos é "demasiadamente elevado", e passou a exigir dos israelenses uma solução mais efetiva. O primeiro-ministro insiste que os ataques não vão cessar até que consigam eliminar o Hamas.

image Primeiro-ministro de Israel insiste que os ataques não vão cessar até que consigam eliminar o Hamas  (HATEM MOUSSA / ASSOCIATED PRESS / AE)

Fronteira com o Líbano

O conflito desencadeou diversas tensões na região, principalmente no sul do Líbano. O Hezbollah, grupo paramilitar de xiitas libaneses que domina o território, vem ameaçando Israel com ataques na fronteira entre os dois países desde outubro, e tem intensificado as ameaças ao governo israelense.

O Hezbollah é o principal grupo apoiador do Irã no Oriente Médio, é detentor de um poderio bélico muito superior ao Hamas e só age em comum acordo com a teocracia em Teerã. O aumento dos confrontos fronteiriços vem afastando as oportunidades de uma solução diplomática e aumentando a possibilidade de uma segunda frente no confronto.

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No Iêmen, os Houthis também passaram a agir em protesto. Financiados pelo Irã, inicialmente, buscaram provocar com ataques de drones e mísseis lançados diretamente contra Israel, que eram facilmente interceptados, mas as ofensivas agravaram quando decidiram atacar todos os navios e cargueiros ligados aos americanos e aos israelenses no Mar Vermelho.

A sensação de insegurança culminou em uma crise marítima global, reduzindo em 60% o tráfego de cargueiros na região e, consequentemente, gerando aumento de custos nas cargas para o mundo inteiro. O esgotamento das vias diplomáticas deu vida a uma coalizão ocidental, liderada pelos Estados Unidos e o Reino Unido, que bombardeou diversos armazéns de armamentos dos Houthis no Iêmen. A ação, entretanto, não cessou os ataques aos navios e cargueiros.

O líder dos Houthis, Abdul Malik Al-Houthi, disse que os confrontos diretos com os Estados Unidos são "grande honra", e que as ações de Washington "não nos assustam, não nos afetam e nem pertubam". Os Houthis insistem que os frequentes ataques estão acontecendo em solidariedade ao Hamas e à Faixa de Gaza.

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Tanto os Houthis quanto o Hezbollah, estão agindo em conformidade com o Irã. No Oriente Médio, Irã e Israel são as duas forças antagônicas, potências militares regionais que frequentemente se provocam através de terceiros para evitar um confronto direto.

Recentemente, um atentado terrorista vitimou mais de 90 civis no Irã. Sem provas, o governo iraniano prontamente acusou Israel de estar envolvido na tragédia, mas, horas depois, o Estado Islâmico assumiu a autoria do ataque.

Na última quarta-feira, o Irã realizou uma série de ataques contra alvos no Iraque. A Guarda Revolucionária iraniana (IRGC) afirmou ter atingido "centros de espionagem" pertencentes à agência de espionagem de Israel, o Mossad, em Erbil, no norte do Iraque, com mísseis balísticos, conforme relatado pela agência de notícias Tasnim.

As autoridades do Governo Regional do Curdistão (KRG) no Iraque, no entanto, rejeitaram a versão iraniana, afirmando que os mísseis atingiram a residência do magnata Peshraw Dezayee, que foi morto juntamente com outras três pessoas, incluindo sua filha de um ano de idade. Dezayee era um dos homens mais ricos do Iraque e um dos responsáveis pela exportação de petróleo do país para Israel.

No Iraque, o primeiro-ministro tem pressionado a coalizão americana a deixar o território, ocupado desde a invasão em 2003. O governo alega que não há mais motivos para a presença militar no país, mas o Pentágono nega qualquer iniciativa de retirada total de tropas do país. Ao mesmo tempo, milícias iraquianas pró-Irã têm feito ataques às bases dos Estados Unidos em Bagdá e na Síria, em retaliação ao apoio dado a Israel na guerra em Gaza.

O Oriente Médio vivia situação de relativa estabilidade até outubro do ano passado. A China mediou a retomada das relações diplomáticas entre Irã e Arábia Saudita, Israel e Líbano chegaram a um acordo histórico de partilha da fronteira marítima, a Síria retornou à Liga Árabe após 11 anos de exclusão e, em 2020, os Emirados Árabes Unidos e Bahrein retomaram as relações com Israel.

Agora, passados pouco mais de 100 dias dos ataques, a região volta a viver sob a tensão de pequenos conflitos, em consequência da guerra em Gaza. Qualquer decisão errada, pode agravar o conflito para um nível regional.

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