Gravações de marido que drogava mulher para ser abusada permitiram identificar suspeitos

Ao todo, 51 pessoas são acusadas de cometer os crimes, que ocorreram principalmente na cidade de Mazan

David Courbet / AFP
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Os 51 acusados de estuprar uma mulher que era drogada pelo próprio marido para que fosse abusada nunca teriam sido descobertos sem a atitude do cônjuge, que registrava as imagens dos agressores que ele mesmo havia contatado e convidado pela Internet, declarou um policial francês nesta quarta-feira (4/09).

Os réus, incluindo o marido, Dominique P., aposentado de 71 anos, começaram a ser julgados na última segunda-feira (2/09). As sessões do júri se estenderão até 20 de dezembro, em Avignon (sul da França), e os réus deverão responder por estupro qualificado. Os crimes foram cometidos entre 2011 e 2020, principalmente na cidade de Mazan, para onde o casal havia se mudado após a aposentadoria. Se condenados, eles poderão ser sentenciados a até 20 anos de prisão.

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Os cerca de 200 estupros contra Gisèle P., atualmente com 72 anos, são atribuídos a 72 indivíduos, dos quais, após dois anos de investigações, 54 foram identificados inicialmente pela polícia. Dois foram liberados por falta de provas e um terceiro morreu.

"Escolhi formar uma equipe muito restrita de quatro investigadores", relatou o comissário Jérémie Bosse Platière no tribunal. "E escolhi pessoas suficientemente fortes para enfrentar as imagens", acrescentou, sublinhando que as investigações foram longas e tediosas.

O trabalho foi facilitado pelas milhares de imagens, vídeos e fotos, gravadas pelo marido. Os materiais foram registrados em um disco rígido e depois meticulosamente descritos com nome, idade e até o número de telefone dos indivíduos e classificados em um arquivo chamado "abusos".

O marido também mantinha um material específico para cada um dos homens que estuprava sua esposa. "Uma lista foi elaborada para cada indivíduo, de acordo com o número do arquivo", precisou o comissário. O objetivo era então identificar "Chris, o bombeiro", "Quentin", "Gaston" ou "David".

Os policiais usaram vários registros de ligações telefônicas e conversas entre o marido e os agressores de sua esposa. Essas conversas começavam online, no site de encontros Coco.fr, e depois eram transferidas para uma sala privada do mesmo site, fechado desde junho pela justiça por ser um "local de predadores". Daí em diante, os contatos seguiam, então, pelo Skype ou por telefone.

Reconhecimento facial

Uma primeira lista de 11 contatos do Skype foi identificada após solicitações à Microsoft para que revelasse os endereços IP.

O mesmo procedimento foi usado para os telefones: "Partimos dos números (nas faturas telefônicas de Dominique P.) e verificamos em cada data se havia relação entre a chamada feita e o que se via" nas imagens, disse Bosse Platière. Para chegar à identidade desses homens, os investigadores recorreram às operadoras de telefonia.

Outro método consistiu em extrair imagens encontradas, com ajuda do reconhecimento facial, através de um programa utilizado pela polícia francesa. "Após a extração da foto, obtém-se uma taxa de semelhança. E isso facilitou a identificação de um terço dos autores", apontou o comissário.

Dada a quantidade de pessoas envolvidas, os policiais tiveram que realizar cinco operações, entre o final de 2020 e setembro de 2021, para fazer todas as detenções. Vários dos acusados afirmam que apenas participaram dos fetiches sexuais de um casal libertino.

Mas a vítima nunca aparece "consciente" e "não manifesta nenhum gesto" nas milhares de imagens registradas, sublinhou Bosse Platière.

A maioria dos acusados apenas compareceu uma vez à residência. Dez foram em várias ocasiões, até seis noites em alguns casos. O homem não pedia dinheiro em troca e, segundo ele, "todos sabiam" que sua esposa estava drogada e que não havia consentido.

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