Dia do Médico: atuação feminina na área cresce e se destaca por cuidado humanizado

Em janeiro de 2024, as mulheres já representavam 49,92% dos médicos e devem se tornar maioria ainda este ano, conforme a Demografia Médica

Eva Pires

O Dia do Médico, comemorado nesta sexta-feira, 18 de outubro, destaca a crescente presença feminina na medicina. Em janeiro de 2024, as mulheres já representavam 49,92% na profissão, e a expectativa é que esse número ultrapasse o de homens ainda este ano, segundo a Demografia Médica, pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Nesse cenário, Ariana Pinheiro, médica de 30 anos, e Amanda Loureiro, estudante do 11º semestre de medicina, compartilham suas experiências e os desafios de equilibrar carreira, estudos e vida pessoal, além de refletirem sobre impacto da participação feminina na área, marcada pela liderança, dedicação e um olhar mais humanizado à saúde.

Médica de Belém exalta o diferencial das mulheres para a medicina

Ariana Pinheiro, especialista em clínica médica e professora universitária, atua na área de urgência e emergência em Belém, realizando o sonho de infância de ser médica. Ela compartilha as inspirações que impulsionaram sua trajetória. "Lembro que aos sete anos de idade, fazia meu consultório com uma mesinha e cadeiras de plástico. O receituário era um bloco de notas do escritório do meu pai. Ali eu atendia minhas bonecas, ursos e, por vezes, arrastava minha mãe ou pai para as consultas. No segundo ano do ensino médio, participei de um debate sobre pesquisa com células tronco junto aos colegas de sala, quando li sobre uma geneticista brasileira, a Dra. Mayana Zatz. Ela me inspirou muito por ser uma das pioneiras e mais respeitadas cientistas no campo da genética, tendo feito a diferença na vida de muitas pessoas", relembra.

Para Ariana, as mulheres desempenham um papel fundamental no mercado de trabalho, seja na medicina ou em outros segmentos. Ela enfatiza que, em uma época em que a medicina era proibida às mulheres, as primeiras que desafiaram essa norma enfrentaram grandes obstáculos. Graças a essas pioneiras, hoje as mulheres podem ocupar diversos espaços acadêmicos e exercer livremente a profissão que escolhem. Nesse espírito, Ariana destaca a importância de sempre dar o melhor de si e lutar persistentemente pelos sonhos.

"Acredito fortemente na igualdade de gênero, não acho que existam trabalhos ou áreas mais adequadas para homens ou mulheres. Ideais e objetivos são os que devem nortear a escolha da profissão. A presença crescente das mulheres em uma área anteriormente dominada por homens está aí para provar que podemos estar onde quisermos. Ademais, acredito que algumas características femininas podem agregar e muito no ambiente de trabalho. De uma forma geral, somos dedicadas, atentas aos detalhes, organizadas e talvez tenhamos maior sensibilidade diante de algumas situações cotidianas dos nossos pacientes. Nos cargos de liderança, muito se tem a ganhar com a postura ponderada e a habilidade feminina em lidar com 'mil coisas' ao mesmo tempo", opina.

image Ariana Pinheiro, 30 anos, médica (Foto: Thiago Gomes | O Liberal)

 

Ela conta que, ainda hoje, muitas médicas enfrentam dificuldades no ambiente de trabalho, como assédio, desrespeito, salários mais baixos que os dos homens para a mesma função e dificuldades em conciliar trabalho e vida pessoal, especialmente pela carga horária extensa e a falta de apoio institucional em questões como licença-maternidade. Com poucos serviços hospitalares regidos pela CLT, muitas precisam planejar financeiramente as pausas durante a gravidez para não ficarem desamparadas. Além disso, a ascensão na carreira é mais desafiadora, já que, após o trabalho, muitas ainda cuidam dos filhos e das tarefas domésticas.

Como esposa e mãe atípica de um filho autista de seis anos, Ariana enfrenta a realidade de conciliar a profissão com a maternidade diariamente. Para ela, equilibrar tudo é uma rotina intensa, dividida entre trabalho, levar o filho para a escola e terapias e manter a rotina de estudos, já que, além da rotina de plantões hospitalares, ela pretende realizar mestrado e subespecialidade em endocrinologia. Com o esposo como principal rede de apoio, eles planejam juntos as tarefas da semana e dividem as responsabilidades.

"A maternidade me ensinou resiliência e principalmente que eu não tenho controle sobre todas as coisas. Tem dias em que dá tudo certo, tem dias em que sai tudo mais ou menos e está tudo bem. A questão é que, depois de ser mãe, você ainda é mulher e uma profissional que tem sonhos. Isso não deve morrer, pelo contrário, se a maternidade traz muitos desafios, traz também maturidade. Longe de mim romantizar esses desafios, mas com rede de apoio, a gente consegue equilibrar. Hoje eu tento não trabalhar à noite e fazer poucos plantões aos finais de semana, o que me possibilita ter maior equilíbrio e mais tempo livre com a família", relata.

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Graduanda de medicina da UFPA discute sobre desafios no meio acadêmico e profissional

image Amanda Loureiro, formanda de medicina da UFPA (Foto: arquivo pessoal)

Amanda Loureiro está a menos de um ano de realizar o sonho pelo qual lutou arduamente, após três anos de cursinho para entrar na faculdade de medicina da Universidade Federal do Pará (UFPA). Com grande interesse em pediatria e dermatologia, ela se prepara para começar a trajetória na profissão que sempre desejou e reflete sobre o papel das mulheres na medicina.

"O papel das mulheres tem sido de crescente destaque e notoriedade, tanto no mercado de trabalho como no meio acadêmico. Acredito que, como futura médica, isso me inspira e me motiva a alcançar cada vez mais espaço nessa profissão. Na faculdade conheci muitas médicas inspiradoras, mas em especial a Dra. Silvia Nascimento, médica da família e comunidade, que foi minha professora e hoje é minha amiga. Nela sempre tive exemplo de coragem e empatia na profissão que vou exercer", relata.

Ela acredita que os principais desafios de gênero na graduação de medicina estão ligados à constante subestimação da capacidade intelectual e física das mulheres por muitos profissionais do meio, frequentemente questionando e limitando a atuação feminina. Apesar dos obstáculos, Amanda defende que a presença de mulheres médicas está transformando a abordagem e a oferta de cuidados na saúde, caracterizando uma medicina mais resolutiva.

Para ela, a escuta atenta e a empatia, predominantes entre essas profissionais, promovem uma abordagem que compreende melhor os problemas dos pacientes e atende as necessidades de tratamento de maneira mais direcionada.

"Eu pretendo que minha atuação traga mais sensibilidade ao lidar com a dor das minhas pacientes, para que sejam vistas como pessoas e não apenas como um ser doente. Quanto às minhas colegas de profissão, eu espero trazer mais solidariedade nesse meio que muitas vezes é marcado pela competitividade", conclui.

(Eva Pires, estagiária sob supervisão de Fabiana Batista, coordenadora do núcleo de Atualidade)

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