Tradição à prova do tempo: comércios históricos resistem no coração de Belém
Lojas centenárias e mercearias tradicionais ainda mantêm viva a memória do antigo centro comercial da capital paraense, enfrentando a modernidade com fidelidade de clientes e histórias que atravessam gerações.

No entorno do Complexo do Ver-O-Peso, em meio ao vaivém intenso do centro comercial de Belém, sobrevivem estabelecimentos que resistem ao tempo. São lojas e mercearias que testemunharam a transformação urbana da cidade, mas que preservam a essência graças à dedicação de donos e à fidelidade de clientes que atravessam gerações. Em tempos de concorrência com shoppings e lojas online, eles mantêm viva a tradição e a memória de um comércio à moda antiga.
Memórias de uma panela: Casa Laura mantém tradição há quase seis décadas
Raimundo Antônio Veloso conhece cada centímetro da loja que administra há quase 60 anos. A Casa Laura, tradicional ponto de venda de panelas e utensílios domésticos na Boulevard Castilho França, é mais do que um negócio: é parte da história viva do centro comercial de Belém.
“Eu trabalho aqui desde os 14 anos”, relembra Raimundo, com um olhar nostálgico. “Conheci todos os portugueses e italianos que estavam aqui na época. Era tudo diferente.”
Ele conta que começou como empregado em um supermercado no bairro da Cidade Velha, até conseguir comprar o próprio ponto comercial.
O comércio, segundo Raimundo, sobrevive por causa da honestidade e do esforço das gerações anteriores. “O pessoal que trabalhava aqui era honesto. Os portugueses que estavam por aqui eram muito trabalhadores”, recorda.
Apesar dos anos de resistência, os desafios se intensificaram nos últimos tempos, especialmente com a chegada das lojas online. “Esses chineses vieram pra cá e estão estragando o movimento. Vendem coisa que nem original é. Dizem que o balde é de 100 litros e só tem 90!”, critica, lamentando a deslealdade na concorrência.
A força da mercearia centenária e o elo com o passado
Poucos metros adiante, outra história de resiliência se mantém firme. Claudenir Rodrigues de Souza comanda uma mercearia que já ultrapassa um século de existência, localizada também no centro comercial da capital paraense. Ele assumiu o negócio após anos como funcionário de uma das donas portuguesas da loja.
“Trabalho aqui há 22 anos. Ela nos deixou a mercearia como um legado, e eu e outro rapaz que ficou 40 anos por aqui seguimos com a tradição”, conta Claudenir.
Ele acredita que a longevidade do negócio se deve ao esforço dos fundadores e ao vínculo com os fregueses fiéis. “Tem gente que compra aqui há décadas. São os pais, depois os filhos, agora até os netos. Isso mantém a gente de pé”, disse.
Para continuar no mercado, ele também precisou se adaptar. “A gente vai mudando a mercadoria, ajustando o que vende, sempre tentando manter a loja ativa. O segredo é resistir e se reinventar”, revela.
Fidelidade como resposta à modernidade
Enquanto os shoppings se multiplicam e as vendas online ganham força, a resistência dos estabelecimentos tradicionais de Belém se apoia em relações pessoais, confiança construída ao longo dos anos e, acima de tudo, em uma clientela que valoriza o atendimento humano e a memória afetiva de comprar no mesmo lugar de sempre.
Em meio às calçadas movimentadas e à arquitetura histórica, essas lojas são mais do que comércios: são marcos vivos da identidade belenense, que seguem resistindo ao tempo com dignidade, trabalho e amor pelo que fazem.
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