Produção agrícola no Pará deve crescer, mas rede de armazenagem enfrenta desafios

Em entrevista exclusiva ao Grupo Liberal, Superintendente da Conab no Pará, Rosanna Costa, destaca a necessidade de reforma e reabertura de armazéns para garantir o abastecimento e a competitividade dos agricultores.

Jéssica Nascimento
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Apesar da expectativa de crescimento na produção agrícola do Pará, com aumento anual de até 700 toneladas de alimentos, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) do estado enfrenta sérios desafios ligados à infraestrutura no estado. Em entrevista ao Grupo Liberal, a superintendente Rosanna de Angelis Vallinoto Costa destacou a liderança paraense na produção de açaí, abacaxi, mandioca e cacau, além do avanço de grãos, mas alertou para a precariedade dos armazéns públicos, dos quais restou apenas um em Ananindeua, em condições precárias. 

Rosanna Costa também detalhou os impactos das mudanças climáticas no calendário agrícola, o fortalecimento de políticas públicas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) — que já beneficiou mais de 3.500 agricultores familiares — e os esforços para garantir alimentos a preços acessíveis com o uso de estoques reguladores e programas como o ProVB, programa de vende milho balcão.

image Rosanna Costa. (Foto: ADRIANO NASCIMENTO | Especial para O Liberal)

Qual a avaliação da Conab sobre a atual produção agrícola no estado do Pará e o seu impacto no abastecimento nacional?

Então, aqui no estado do Pará nós temos alguns produtos de referência, começando pelo açaí, que é o nosso carro-chefe, que hoje nós temos cerca de 90% da produção nacional. Seguido, nós temos o abacaxi, também um produto bem de destaque aqui no estado, com 21% da produção, a mandioca representando 20%. Isso tudo nós estamos liderando com esses produtos.

E a gente vem disputando com a Bahia a produção do cacau, que hoje aqui no Pará tá em torno de 46%. E já fomos também em primeiro lugar na pimenta do reino.  Hoje a gente está em segundo lugar com cerca de 30%. Então esses são os produtos de maior peso aqui no estado. 

Quais são as projeções da Conab para a produção agrícola no Pará em 2025, especialmente em relação aos principais produtos da região?

Então, a nível de superintendência a gente não projeta assim, não temos projeção sobre a produção local, mas a gente fornece informações e subsídio para tomada de decisões governamentais. A gente realiza avaliação e acompanhamento da safra de grãos anualmente. A safra anual é num período de 12 meses.

A gente faz levantamentos mensais e já estamos no sexto levantamento. Temos uma projeção de aumento constante tanto de área de produção como também de área de produtividade. A gente tá esperando uma produção em torno de 700 toneladas anuais de aumento de produto para este ano.

Quais seriam os produtos de destaque para esta projeção de 2025? 

Geralmente grãos, principalmente arroz, milho, soja, que também está se destacando. O nosso levantamento é em cima de produtos, grãos.

Quais as condições de armazenamento do Pará?

A nível de Conab, nós estamos com uma deficiência muito grande. No governo passado, foram encerrados dois armazéns em pontos estratégicos do estado, um em Marabá e outro em Santarém. Atualmente, nós só temos um armazém, que é em Ananindeua, em estado bem precário. 

A gente tá tentando fazer uma reversão nesse estado, com reforma. Agora, o estado também tem a iniciativa privada, que já vem sendo ocupada pela produção local. Então, eu acho que nós, assim, a nível de armazenamento, ainda estamos devendo. Precisamos reformar principalmente as nossas estruturas.

Como o fechamento desses armazéns impactou o abastecimento da companhia? 

Na época em que ele foi fechado, como a produção e o desempenho da Conab estavam muito pequenos,  não teve grande impacto. Mas atualmente com a retomada de estoque reguladores que o governo quer fazer e de programa que beneficiem o produtor, principalmente o produtor agrícola, nós estamos com uma carência muito grande e a necessidade nesses pontos estratégicos é importante porque serve de apoio de saber que nós temos aquela estrutura para poder armazenar uma possível safra maior como está se esperando.  

Para 2025, a Conab espera uma melhora de estrutura com abertura de possíveis novos armazéns?

O que nós temos por parte da diretoria é um incentivo muito grande que eles estão buscando recursos para fazer essas reformas das nossas estruturas.  Aqui no estado, no momento, a gente tá trabalhando fortemente. A diretoria tá muito voltada para a recuperação desse nosso armazém.

Como são três armazéns, dois dos maiores estão totalmente deteriorados, impedidos de colocar qualquer coisa dentro, o valor a ser investido é significativo. Então estão correndo atrás.

Sobre novos armazéns a gente ainda não tem essa perspectiva, mas tem tem negociações, sim, de fazer permutas de imóveis para ver se atende, pelo menos, numa condição menor de armazenamento, mas que não deixe determinadas áreas sem essa guarda de produto, sem essa estocagem necessária.

Como a Conab avalia o impacto das mudanças climáticas e das questões ambientais nas perspectivas da produção agrícola do Pará para este ano?

A gente tem observado uma diminuição do período chuvoso e um aumento logicamente da estiagem. Isso com certeza interfere no período de plantio do produtor. Então ele tem que ficar atento às condições climáticas para saber ‘olha, eu já vou poder plantar determinado produto ou não’. Tem um atraso normalmente numa janela de plantio que normalmente é chamada.

Com certeza, se passar daquele período de plantar determinado produto, pode ter uma quebra de produtividade. Então, as questões climáticas realmente tem que ser observadas pelo agricultor para que não tenha tanta interferência assim no no resultado da produção dele.

Quais políticas públicas a Conab tem desenvolvido ou apoiado para que os agricultores familiares do Pará possam melhorar a produção e ampliar a competitividade?

Neste ponto, a Conab tem contribuído bastante, principalmente com o programa de aquisição de alimentos, que é o carro chefe aqui do estado. Com a retomada em 2023 desse programa, a gente alcançou números históricos nunca conseguidos antes.

Só em 2023 e 2024, o governo federal injetou aqui no estado mais de R$ 48 milhões de recursos que vieram beneficiar tanto o pequeno agricultor, levando renda para em torno de 64 municípios dos 144 que tem no estado. A gente ainda tá menos da metade, mas já com uma parte bem significativa dos municípios.

A gente conseguiu 140 projetos, mais de 3.500 produtores foram beneficiados. Conseguimos adquirir em torno de 7.200 toneladas de alimentos, que foram beneficiar esses alimentos genuinamente do campo, foram entregues diretamente às pessoas com insuficiência alimentar.

A gente beneficiou mais de 1.200.000 pessoas que ainda sofrem de carência alimentar e nutricional. Então, é um programa realmente que a gente tem o maior prazer em divulgar, inclusive, tá aberto hoje o sistema para as propostas de 2025.

A gente fez até uma live para divulgar. Tá sendo uma uma ampla divulgação e mais uma vez junto aos movimentos sociais, agricultores, todos esses segmentos agrícolas para que apresentem as suas propostas para que possam se beneficiar tanto o agricultor familiar com o aumento da sua renda, como as famílias carentes com o alimento saudável para suas mesas.

Além desses, nós temos o ProVB, que é o programa de venda de milho em balcão, onde a CONAB leva milho dos polos de produção para os polos onde a produção não atende a necessidade, principalmente do segmento criador - criadores de frango, bovinos e suínos. E aí o preço da venda é mais barato do que normalmente é o preço de mercado. Isso faz com que o criador, né, possa manter o seu plantel sem aumentar os seus custos. Também é um benefício. 

Outro que a gente também tá trabalhando é o PA Semente. Em 2023 nós compramos cerca de 6 toneladas de sementes crioulas - arroz, feijão e milho  com R$ 119.000 também injetado para cá só para compra de sementes.

Em 2024, nós temos um projeto aprovado também dessas sementes, que além do arroz, feijão, milho, tem a maniva. Mais de R$ 914 mil trazendo cerca de 900 toneladas de sementes para serem distribuídas aqui. Isso também fomenta a produção local.

Quais as expectativas da Conab para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) neste ano para 2025?

Toda melhor possível. A gente tá sim com a expectativa de atingir mais princípios que a gente não chegou. Se eu for assim ser bem otimista, eu quero dobrar o que nós fizemos ano passado. O único problema é a gente ter perna para conduzir tudo isso, porque aqui a nível de estrutura funcional nós estamos assim com muita deficiência de pessoal, mas vamos correr atrás. 

image Rosanna Costa mostra os locais no Pará mais beneficiados pelo programa PAA. (Foto: ADRIANO NASCIMENTO | Especial para O Liberal)

Como a Conab acompanha a inflação dos alimentos e que estratégias podem ser tomadas para tentar minimizar esses aumentos? 

Nós não acompanhamos a inflação. A gente não tem nenhuma estrutura para isso. Mas a gente tem ações que podem contribuir para que esses alimentos tendem pelo menos a estacionar seus preços. 

Primeiro, com a reforma dos armazéns que é importante, porque o governo tá falando em voltar a ter os seus estoques reguladores, que é uma coisa que a gente pretende fazer, comprar excedentes de produção, manter lá o estoque armazenado, para quando tiver uma entressafra o preço aumenta, o governo joga o produto no mercado e aí tende-se a equilibrar o preço.

Então a reforma do armazém é importante. A formação de estoque para regular preço de mercado é importante. A venda do milho em balcão também contribui para que o alimento, as carnes consigam chegar a preços mais diferenciados ou pelo menos assim manter o frango, o ovo e a carne suína.

Agora também o governo tá lançando o programa Arroz da Gente, que é para tentar estimular aquelas regiões onde já foram tradicionais na produção do arroz a voltar a ter um plantio significativo para que a gente não sofra as consequências de uma calamidade como aconteceu no Rio Grande do Sul, em que a produção principal de lá e comprometeu todo o mercado nacional.

Hoje, se eu não me engano, são uns 17 estados que estão envolvidos no programa Arroz da Gente com estímulo a crédito para o pequeno e médio agricultor adquirir ferramentas, máquinas, equipamentos para poder ter uma produção maior de arroz e beneficiar para colocar no no mercado local.

Como está o andamento do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) aqui no Pará? 

A gente ainda está executando algumas propostas de 2023 e de 2024. Estamos com o sistema aberto para 2025. Então as organizações Conab só trabalham com pessoa jurídica, que são cooperativas e associações, estão todas estão avisadas que o nosso sistema está aberto.

A gente espera receber o máximo de proposta porque o Norte é uma das áreas que com certeza vai ser mais atendida em termos orçamentários, porque infelizmente a gente ainda vive em uma região com carência alimentar e essa vai ser a prioridade para que o PAA possa chegar até essa essas áreas. 

Em qual etapa está o acordo com o BNDES  para trocar nove armazéns que já não servem mais? 

Essa é uma parte que, aqui a nível de Pará, a gente não tem conhecimento. Normalmente, é a nossa diretoria em Brasília que está fazendo essa seleção de armazéns, inclusive acordos com o BNDES. Aqui no Pará nós estamos com uma unidade de armazém e já é um custo significativo. A nível de Brasil, que tá praticamente todo mundo na mesma situação, deve ter algum recurso significativo para poder investir nessas reformas, mas nós aqui no Pará não temos conhecimento disso.

Como funciona a estrutura da Conab? Quantos funcionários a companhia tem hoje?

Hoje nós estamos com uns 65 funcionários. Lá na nossa unidade armazenadora tem uns 10 funcionários.  É, infelizmente, também um corpo funcional já antigo, principalmente na unidade onde precisa de serviços, de maior assim desempenho físico e os nossos já estão bem antigos.

Então, aqui a Conab está prometendo fazer um concurso talvez no decorrer deste ano, mas pelo volume de operações que nós estamos tendo, o nosso corpo funcional tá bem pequeno.

Somente aqui a nossa superintendência no Pará conta com três gerências: gerência administrativa, gerência operacional e gerência jurídica.

Cada gerência administrativa com dois setores, o administrativo e o contábil financeiro, ou a gerência de operações funciona com o setor de operações e o setor de logística. E temos a gerência jurídica que dá apoio e suporte, tanto para as questões administrativas, cível e tudo mais.  Além dessas, temos a nossa unidade armazenadora, que é essa única em Ananindeua, com extrema carência de pessoal e de estrutura física. 

 

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