Alta dos juros: 'Missão do BC é importante no combate à inflação', diz Campos Neto no LIDE
Ele afirmou que a alta dos juros durante as eleições evitou recessão no Brasil
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi um dos participantes do 2º dia do Lide Brazil Conference, realizado em Londres. Reunindo representantes de países europeus, ministros, ex-ministros, senadores e empresários, o evento debateu economia, desenvolvimento social, meio ambiente e agronegócio. Em seu pronunciamento, Campos Neto destacou a independência do Branco Central, afirmando que o órgão fez a maior alta de juros em ano de eleição na história do Brasil e do mundo. "Inclusive, se a gente olhar quinze meses da eleição, nunca teve nada parecido. Então, mostra que o Banco Central atua de forma bastante independente durante o processo de eleição, e isso tem várias vantagens, porque na política monetária, quando você atua antes o custo é menor", declarou.
De acordo com o presidente do BC, se os juros não tivessem subido em ano de eleição, a inflação não seria 5,8%, mas de 10%. "A inflação esperada no outro ano seria 14% e, se isso tivesse acontecido, basicamente a gente teria que estar com juros de 18,75% pra ter o mesmo objetivo. E teria, muito provavelmente, que subir o juros pro ano que vem, colocando o país numa recessão, alguma coisa entre 3% e 4%, que foi a última coisa que aconteceu da última vez que o Brasil tentou 'cair' o juros", argumentou.
No dia anterior, quinta-feira (20), durante sua participação no mesmo evento, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pediu a Roberto Campos Neto uma redução imediata das taxas de juros no Brasil. Pacheco afirmou que o Senado concedeu autonomia à instituição financeira, mas é necessário ter "sensibilidade política" nas decisões e argumentou que a redução das taxas é fundamental para não sacrificar o trabalho que foi feito ao longo do tempo.
Nesta sexta-feira, Campos Neto comparou a inflação do Brasil com a média do mundo desenvolvido, destacando que a brasileira está abaixo dos outros países. "A missão do Banco Central é tão importante no combate à inflação e precisa persistir. Tem vários estudos que mostram que as empresas se adaptam rapidamente à inflação mais alta. Os ricos, as pessoas que têm recursos, se adaptam mais rapidamente, mas os pobres não. Então, a inflação é um grande instrumento de desigualdade e aumento de pobreza", completou.
Campos Neto falou ainda sobre as cobranças de ações para estimular o crédito. "O juros só funciona no credito se tiver credibilidade, porque o juros atua no que a gente chama condições financeiras, que são as condições gerais de liquidez da economia", argumentou. Ele afirmou que em outros momentos, apesar da queda dos juros, o crédito diminuiu. "Porque não existe credibilidade naquele momento para fazer o movimento. Lembrando que o juros que o Banco Central decide é de um dia. Todo o resto dos juros quem decide são as pessoas e empresas que emprestam para o governo e elas fazem de acordo com o risco que elas entendem que o governo tem".
De acordo com o presidente do BC, a preocupação do órgão é ter crédito barato, mas de forma sustentável. Por isso, o BC focou no cooperativismo e fez um programa voltado a esse setor.
"O Banco Central é um órgão técnico, que toma decisões baseadas em critérios técnicos e transparente. O timing técnico é diferente de timing político e por isso que a autonomia é importante, para dar à sociedade a garantia de que a gente tem funcionários técnicos tomando decisões técnicas sem viés político. O custo de combater à inflação é alto, nesse sentido, primordialmente, no curto prazo. Mas o custo de não combater a inflação é muito mais alto e perene", completou Campos Neto.
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Ao ouvir de um empresário no Lide Brazil Conference que o elevado patamar da taxa de juros atrapalha o Brasil a crescer, Campos Neto afirmou que só 20% do crédito é ligado à Selic; o restante é relacionado a taxas longas. “Obviamente, o Banco Central quer cair o juro”, disse, afirmando que se o BC não conseguir fazer um movimento na Selic com credibilidade, a taxa longa não cai. “O que move o Brasil não é a taxa de juros de um dia, é a taxa de juros de três, cinco, dez anos. Para fazer que a queda da Selic gere um movimento de queda prolongada de juros, precisa ter credibilidade. O Banco Central está esperando o melhor momento para fazer para que isso tenha um ganho real para as pessoas. A economia não gira na Selic”.
Sobre o arcabouço fiscal, Campos Neto afirmou que o Congresso Nacional pode fazer alguns reparos no texto, mas que o projeto está na “direção certa” e que é preciso melhorar a comunicação para tranquilizar os mercados e balizar as expectativas econômicas. Para ele, o texto final das novas regras discais, se aprovado, tem critérios realistas de manejo das contas públicas, e elimina o “risco de cauda” de explosão da dívida pública.
“A gente precisa avançar e explicar melhor para que isso consiga permear através dos mercados, para que a expectativa de inflação melhore e para que abra espaço para a gente fazer o nosso trabalho de queda de juros”, declarou.
O Lide, grupo de líderes empresariais, teve como foco, nesta sexta-feira, temas relacionados a regras fiscais, finanças e alimentação. Além de Campos Neto, participam dos debates Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado; Davi Alcolumbre, senador e ex-presidente do Senado; Simone Tebet, ministra do Planejamento; Carlos Fávaro, ministro da Agricultura e Pecuária; e Fred Arruda, embaixador do Brasil no Reino Unido.
O governador do Pará Helder Barbalho, que se apresentou na quinta-feira (21), acompanha as discussões nesses segundo dia de evento.
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