Preço do leite cai, mas queijo e manteiga continuam caros em Belém
Varejo e indústria dão explicações diferentes para o fenômeno, que impacta diretamente o bolso dos consumidores
Apesar da queda no preço do leite, percebida no último ano, derivados como queijo e manteiga continuam caros. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o leite longa vida barateou 8,2% em Belém e região metropolitana entre março de 2023 e março de 2024; no mesmo período, o preço do queijo recuou apenas 3,09%, e o da manteiga subiu 7,63%. O setor industrial diz que o barateamento dos derivados laticínios está sendo convertido em lucro para o varejo que, por sua vez, afirma o mesmo com relação à indústria.
Nesse cenário, consumidores belenenses continuam gastando consideravelmente com queijo e manteiga. A comerciante Wilainny Lopes (34) possui uma venda de cafés da manhã na travessa Perebebuí, ao lado do Bosque Rodrigues Alves, bairro do Marco, na capital paraense. Em busca de economia, ela tem feito pesquisas de preço em diferentes mercados quando precisa abastecer seu empreendimento. “A manteiga oscila muito: tem tempo que está um pouco mais cara e, às vezes, a gente consegue pegar uma promoção. O queijo é a mesma situação. E o leite realmente deu uma abaixada”, diz.
Wilainny costuma comprar pacotes de um quilo de leite em pó, e já pagou entre R$ 40 e R$ 50 no produto que, nos últimos dois meses, tem custado em média R$ 28. Por dia, ela investe R$ 350 para comprar itens, como: café, pão, gomas de tapioca e recheios dos lanches, que incluem ovos, queijos, manteiga e presunto. “Eu não costumo mudar a marca dos meus produtos, mas eu mudo de mercado. Mesmo que eu tenha que pagar um transporte, às vezes vale a pena comprar mais em conta”, revela.
“Eu já paguei R$ 47 no quilo do queijo. A manteiga está em torno de R$ 50, o quilo também. De todos, eu acho que a manteiga é o mais caro”, avalia Wilainny.
O que dizem indústria e varejo
Fábio Scarcelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (Abiq) e membro do conselho da Viva Lácteos (associação que representa as maiores empresas de laticínios do país), responsabiliza o varejo pelos altos preços dos derivados laticínios. "Nós ajustamos o preço para baixo [em 2023]. O preço dos queijos caiu significativamente, porque sempre trabalhamos com planilhas de custos – a partir do momento que o preço do leite baixa, imediatamente nós baixamos nossos produtos", disse à BBC Brasil.
Scarcelli argumenta que os supermercados não consideram o queijo como sendo um produto "de alto giro" – consumidos quase diariamente e comumente escolhidos pelo melhor preço. "Por conta disso, eles mantêm margens [diferença entre custos e preços praticados ao consumidor] mais elevadas no queijo do que em outros produtos", acrescentou, justificando que essa seria uma forma de compensação de perdas em produtos vendidos com margens mais apertadas, como arroz e feijão.
No cenário local, a Associação Paraense de Supermercados (Aspas) explica que houve um crescimento na oferta de leite no último ano, o que contribuiu para o barateamento do produto. Por outro lado, “a indústria não abaixa o preço do queijo e continua embolsando a diferença no lucro”, declara Paulo de Oliveira, vice-presidente da Aspas.
Segundo o representante do setor, o varejo não tem lucrado da mesma maneira: a margem operacional – que indica o percentual de ganho obtido em relação à receita bruta – no comércio de derivados laticínios tem ficado em 25% nos supermercados paraenses, dos quais: 18% representam o custo operacional; e 7% se referem aos lucros líquidos.
Dieese
“A gente está vivendo um momento no qual a indústria e os produtores estão trabalhando com taxas diferenciadas, e o consumidor final está sentindo o impacto dessa relação que não está harmoniosa no momento, pagando mais caro. Não necessariamente quem está produzindo leite também produz queijo, e o mesmo se aplica à demanda”, explica Everson Costa, supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Pará.
Na série histórica de preços feita pela entidade, o litro do leite, que já chegou a custar em média R$ 8,34 (em agosto de 2022), diminuiu para R$ 6,88 no último mês de março em Belém. Na avaliação de Costa, apesar dos preços baixos praticados pelos produtores de leite, a indústria tem mantido o preço mais elevado ao repassar para o varejo; buscando, dessa forma, recompor sua margem de lucro. “Se a gente for olhar o queijo e a manteiga, é o mesmo ajuste comercial sazonal de margem de lucro, que tem também uma relação com variações climáticas”, finaliza.
Variação de preços de laticínios (mar./23 - mar./24) em Belém
- Leites e derivados: -3,14%
- Leite longa vida: -8,2%
- Leite condensado: -4,29%
- Leite em pó: -6,45%
- Queijo: -3,09%
- Iogurte e bebidas lácteas: 6,69%
- Manteiga: 7,63%
(Fonte: IPCA)
Preços médios nos supermercados de Belém (mar./24)
- Leite: R$ 6,88 (caixa de 1 litro)
- Manteiga: R$ 60,02 (kg)
- Queijo prato: R$ 44,68 (kg)
- Queijo muçarela: R$ 41,02 (kg)
(Fonte: Dieese Pará)
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