Pesquisa exclusiva: em quatro anos, combustíveis ficaram até quase 60% mais caros em Belém

Segundo levantamento do Dieese-PA enviado ao Grupo Liberal, o diesel foi o combustível que teve a maior alta, seguido da gasolina

Elisa Vaz
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Com nova alta em vigor desde o início do mês, após aumento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), os combustíveis comercializados em Belém ficaram até quase 60% mais caros nos últimos quatro anos. Segundo pesquisa exclusiva realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese-PA), o principal impacto foi no diesel, cujo valor médio em fevereiro de 2021 variava de R$ 4,26 a R$ 4,31, passando para R$ 6,72 a R$ 6,83 neste mês, dependendo do tipo de óleo: normal ou s10. Respectivamente, o reajuste foi de 58,47% e 57,75%.

Quanto à gasolina, o litro da comum variou de R$ 5,06 para R$ 6,41 entre fevereiro de 2021 e fevereiro de 2025, aponta o Dieese-PA, enquanto o custo da aditivada era de R$ 5,25 e chegou a R$ 6,59, na comparação entre as mesmas datas. Portanto, a gasolina comum sofreu elevação de 26,68% e a aditivada, de 25,52%. Já o etanol custava R$ 4,14 e agora está sendo vendido a R$ 4,85, o que representa um avanço de 17,15% entre 2021 e 2025.

Supervisor técnico do órgão, Everson Costa afirma que a formação de preços dos combustíveis em solo brasileiro leva em consideração vários fatores, como o próprio valor do petróleo no mercado internacional, câmbio, custo das refinarias, impostos, distribuição, frete, logística, margem de lucro e decisões governamentais e regulatórias. Além disso, a formação leva em conta a conjuntura local e mundial, a exemplo da pandemia da covid-19, que trouxe reflexos como picos nos valores dos combustíveis.

Gasolina tem baixa em postos de Belém

Para além da alta acentuada nos últimos quatro anos, em 1º de fevereiro houve reajuste no recolhimento do ICMS na gasolina de R$ 0,10 por litro. Imediatamente, alguns postos subiram até R$ 0,20, tendência que persistiu por alguns dias. Consumidores que costumavam pagar entre R$ 6 e R$ 6,10 por litro, viram o preço subiu para R$ 6,35. Mas, nesta segunda-feira (24/2), já era possível ver postos vendendo a gasolina comum abaixo de R$ 6. Um, com a bandeira da Petrobras, na Governador José Malcher, vendia a R$ 5,85. 

Margem bruta

Em comunicado, a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis) esclareceu que tributos e reajustes das refinarias impactam nos valores dos combustíveis nas bombas, mas que os postos não são responsáveis pelos preços. Advogado do Sindicombustíveis do Pará, Pietro Gasparetto ressalta que a margem bruta dos postos somados com as distribuidoras é de cerca de 17% do preço.

“Não temos dados exatos das distribuidoras para saber o percentual delas. Hoje, a gasolina custa em média R$ 6,37. Sai da refinaria a R$ 2,21 e recebe 27% de etanol anidro, o que soma R$ 0,88. Então incidem os impostos: R$ 1,47 de impostos estaduais, mais R$ 0,69 dos federais. Com isso, de R$ 2,21, a gasolina pula para R$ 5,25. Isso é 82,5% do preço, antes de chegar no posto”, detalha.

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Segundo ele, no diesel é semelhante: o preço médio é R$ 6,47. Sai da refinaria a R$ 3,03 e alcança R$ 5,32 antes de chegar ao posto. Assim, sobra uma margem bruta de R$ 1,12 na gasolina e R$ 1,15 no diesel, dividida entre distribuidoras e postos. “Desta margem, que é bruta, são pagos transporte, armazenamento, salários, encargos, gastos com qualidade dos produtos, adequação ambiental, equipamentos para venda, enfim, todos os gastos. Depois, o lucro dos postos e distribuidoras”.

A suavização dos preços ao consumidor após a alta tributária em vigor neste mês não é papel dos postos e nem do comércio em geral, menciona Pietro Gasparetto. De acordo com o advogado, para “suavizar” os custos, o governo pode adotar diversas medidas, como já fez no passado. O Grupo Liberal entrou em contato com a administração estadual, por meio da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefa), mas não obteve retorno.

Como explica o representante do Sindicombustíveis, a margem de postos e distribuidoras é “extremamente reduzida” para que qualquer empresa assuma o ônus de suavizar impactos que não decorrem da sua atividade, sob pena de inviabilizar o negócio. Ele lembra também que existe liberdade de preços no mercado de combustíveis, garantida pela Lei n.º 9.478/1997 (Lei do Petróleo), que eliminou o controle estatal sobre os preços.

Fatores que influenciam

Para o economista Nélio Bordalo, a alta no ICMS contribuiu para custos mais altos com combustíveis, mas este não é o único fator. Além do tributo, houve elevação no petróleo e no dólar, que influenciaram ainda mais o preço. “O Brasil segue a referência internacional para precificar os combustíveis. Isso significa que, se o petróleo sobe no mercado global, os preços internos tendem a acompanhar. Isso ocorre porque o Brasil importa derivados, como o diesel”, explica.

Ainda segundo o profissional, o dólar afeta diretamente os custos, já que tanto o petróleo quanto os combustíveis importados são pagos nessa moeda. Um real desvalorizado, portanto, torna a importação mais cara. “A oferta e demanda global também influenciam. Se há crise no Oriente Médio ou restrições da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), ou ainda conflitos como o da Ucrânia e Rússia, a oferta cai e o preço sobe”. Gasparetto, por sua vez, menciona que o período de entressafra da cana-de-açúcar contribui para a elevação do preço do etanol.

Inflação

Os combustíveis têm forte impacto na inflação, pois aumentam os custos do transporte, encarecendo fretes de mercadorias e serviços, de acordo com Nélio Bordalo. Isso, diz o economista, eleva os preços de alimentos e produtos em geral. “O diesel, por exemplo, influencia diretamente no transporte de carga, então sua alta afeta toda a cadeia produtiva. O transporte rodoviário de carga é o principal modal logístico no Brasil, sendo responsável por, aproximadamente, 75% de todas as mercadorias movimentadas no país”.

Por outro lado, a gasolina e o etanol afetam diretamente o orçamento das famílias, reduzindo a renda disponível para outros gastos. Com isso, o poder de compra da população diminui, pois mais dinheiro vai para combustível, reduzindo o consumo de outros bens e serviços. Isso pode desacelerar a economia, aponta Bordalo.

Trabalhador em uma plataforma de entregas, Inan Lima, de 53 anos, tem sentido os reajustes há algum tempo, e de forma mais pontual há dois meses. “Está um absurdo. A gente tem que pular de posto em posto, porque tem uns com preços mais acessíveis, outros que já estão demais, o preço é mais abusivo. De uns dois meses para cá, realmente, aumentou muito”, conta.

Como Inan trabalha com entrega, diz que a alta dos combustíveis prejudica sua renda. Além de pesquisar os postos com preços mais acessíveis, outra medida que o trabalhador tomou foi optar mais pelo etanol, em vez da gasolina. De acordo com ele, compensa mais para quem usa motocicletas.

Algumas medidas que poderiam amenizar os impactos desses aumentos no bolso do consumidor, segundo o profissional, são a redução de impostos; uma política de amortecimento de preços; aumento da produção interna de combustíveis; incentivo a alternativas como expandir o uso de etanol, gás natural e mobilidade elétrica; mais competição no setor; entre outras.

Avanço no preço dos combustíveis em Belém

Tipo de combustível | Preço médio em fev/2021 | Preço médio em fev/2025 | Variação

  • Etanol hidratado: R$ 4,85 - R$ 4,14 - 17,15%
  • Gasolina aditivada: R$ 6,59 - R$ 5,25 - 25,52%
  • Gasolina comum: R$ 6,41 - R$ 5,06 - 26,68%
  • Óleo diesel: R$ 6,83 - R$ 4,31 - 58,47%
  • Óleo diesel s10: R$ 6,72 - R$ 4,26 - 57,75%

Fonte: Dieese-PA

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