Novo rótulo e outras mudanças deixam ovos mais caros em Belém

Exportação e proteínas mais caras também influenciam preços no mercado interno

Maycon Marte
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O preço dos ovos em Belém ficou mais alto e a explicação para isso se deve às mudanças recentes no processo de rotulagem do produto e a abertura do mercado para a exportação. De um lado, produtores reclamam do novo rótulo, que passa a obrigar informações como validade impressas diretamente na casca dos ovos. Eles argumentam que a mudança adiciona custos com maquinário que podem encarecer ainda mais o produto, enquanto consumidores avaliam bem a novidade, pelo que descrevem como “mais segurança no consumo”. Outro impacto no segmento viria de relações de mercado, que recentemente se voltou à exportação.

A nova exigência parte do decreto n.º 1.179, de setembro de 2024, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), e passa a valer a partir de março deste ano. Em resposta ao Grupo Liberal, o Ministério comunica que “os produtos fabricados até o final do prazo de adequação poderão ser comercializados até o fim de seu prazo de validade, conforme o Parágrafo 1º do Artigo 60”. A pasta ainda esclarece o objetivo da medida, que seria “aumentar a segurança alimentar e a rastreabilidade do produto".

“A principal alteração introduzida pela Portaria 1.179/2024 é a obrigatoriedade de constar a data de validade e o número de registro do produtor na casca dos ovos in natura, destinados diretamente ao consumidor e sem embalagem primária. É importante frisar que essa alteração não representa uma mudança nas informações já conhecidas pelos consumidores, uma vez que a data de validade e o registro do produtor já constavam nas embalagens dos ovos”, informa o Ministério.

Na percepção do distribuidor local Helyson Oliveira, os granjeiros começaram a reclamar de “um custo a mais”, por isso sua expectativa é de um aumento nos próximos meses, devido aos gastos extras com maquinário para impressão das informações na casca dos ovos. Ele não consegue precisar de quanto será esse acréscimo no custo de produção, isso porque o preço das máquinas é inconstante.

Em uma venda de ovos na capital paraense, a cuba de ovos custa cerca de R$ 26 no valor para o consumidor direto e varia entre R$ 125 (especial) e R$ 140 (extra) no valor para revendedores. A diferença entre os dois tipos no valor de revenda é o tamanho e o peso dos ovos, sendo maior o especial.

Apesar da recusa dos produtores, entre os consumidores a percepção sobre a novidade é positiva. A dona de casa Val Dias lembra que após comprar, já se deparou com ovos estragados e relata que isso ocorreu várias vezes. Ela considera essa experiência para justificar como positiva a aplicação da validade na casca dos ovos. “Pelo menos agora nós vamos saber a quanto tempo o ovo está bom, e vai poder reclamar direto com quem fez”, ressalta.

O presidente da Associação Paraense de Avicultura (Apav), Claudio Afonso Martins, segue a avaliação da consumidora e projeta ganhos com a rotulagem, entre eles, a possibilidade de diferenciar os ovos de produção local. Segundo ele, na próxima sexta-feira (21), haverá uma reunião entre o Sindicato dos Produtores Rurais de Santa Izabel e Santo Antônio com a Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adeperá) e os produtores para explicar as novas regras. “É um ponto positivo, visto que muitos produtores de outros estados colocam ovos no mercado paraense a granel e embalam aqui, com data diferente, desta forma, a população poderá distinguir o ovo produzido aqui, do que vem de fora”, avalia.

Ele explica que “o custo do equipamento, tinta específica, manutenção, fica com os produtores”. Para realizar a aplicação das informações, ele especula o preço das máquinas em cerca de 80 a 90 mil, mas enfatiza que não há tempo hábil para implantação da nova norma. “À medida que vão sendo implantados, os ovos com a nova regra irão substituindo, os que já estão no supermercado, não haverá prejuízos nesta questão”, detalha.

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Exportação

Somado a novidade das informações na casca, a iniciativa desse mercado, que passou a exportar seus produtos desde o último mês, segundo o distribuidor, também gerou outro grande impacto nos preços no estado. A decisão de exportar, trouxe como efeitos a redução de abastecimento do mercado interno e consequentemente, o encarecimento dos ovos para o consumidor final. Ele especula esse aumento em cerca de 40% sobre o preço atual.

“A granja Mantiqueira era uma das principais fornecedoras de ovos daqui do Pará, atendia toda a rede do Atacarão, do Assaí, Matheus e supermercado Líder, mas reduziram para o cá os pedidos e estão mandando tudo para fora, para os Estados Unidos, então o ovo aumentou também devido a isso aí”, afirma Oliveira.

Assim como o distribuidor, o presidente da Apav também enfatiza o cenário internacional como influenciador dos preços no mercado interno do país e do estado. “Com o inverno no hemisfério norte, surge uma doença chamada influenza aviária, muito frequente nos EUA, Europa e Ásia. Logo, o Brasil assume o papel de exportador de ovos comerciais, sendo o mês de janeiro/2025 o recorde de exportações”, explica. A restrição de venda na América do Norte deve seguir influenciando o mercado nacional nos próximos meses.

Outro fator recai sobre o preço das demais proteínas que apresentam uma elevação de preço no mercado interno, principalmente devido a um aumento no custo de produção. O zootecnista e professor da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) explica esse movimento. “O aumento do preço do ovo está mais relacionado ao aumento do preço das outras proteínas. A carne de frango, a carne de boi tem uma tendência a aumentar de preço e isso faz com que a população aumente o consumo de proteínas de valor menor, como o ovo. E, esse aumento no valor do ovo, do consumo per capita de ovo, faz com que a gente tenha também um aumento na expectativa de preço geral do ovo, porque a oferta, ainda que tenha aumentado, não vai superar a expectativa de consumo”, observa.

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