Pecuária paraense atinge maior rebanho em sete anos
Produtores acreditam que Pará pode se tornar estado com segundo maior rebanho do país
O rebanho bovino paraense bateu um novo recorde e alcançou a marca de 23.921.005 cabeças de gado em 2021, segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal divulgada no último mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o estudo, esse foi o sétimo ano de crescimento consecutivo do rebanho, com quase quatro milhões de animais a mais do que em 2015, quando o estado contava com um total de 20,2 milhões. Isso significa que a quantidade de bovinos é quase três vezes maior que o número de habitantes do estado, que seriam 8.777.124, segundo estimativas do próprio IBGE.
Com isso, o Pará repetiu o feito do estudo anterior e aparece como o 3º maior rebanho bovino de todo o país, atrás apenas dos estados do Mato Grosso e Goiás, que ocupam a primeira e a segunda colocação no ranking, respectivamente. A pesquisa revela ainda que o Pará tem dois municípios com os maiores efetivos de animais. São eles: São Félix do Xingu, com 2.468.764 cabeças de gado, e Marabá, onde o rebanho atual é de 1.478.450. Aliás, São Félix do Xingu se destaca por ocupar a 1ª colocação entre todos os municípios brasileiros.
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Para pecuaristas e representantes do setor, o bom desempenho do setor tem relação com as condições favoráveis oferecidas pelo estado para a produção. A topografia em grande parte plana e o clima propício às chuvas favorecem a criação e alimentação dos animais. “O início do rebanho do Pará foi de alta qualidade porque foi um rebanho importado, não foi só nato aqui. Só veio gado bom pro Pará, então nós saímos num outro patamar de qualidade. Quando você cresce em qualidade, você cresce em fertilidade e com isso o rebanho aumenta muito”, explica o pecuarista Gastão Carvalho, produtor de Abaetetuba que se dedica à exportação de gado em pé.
“O Pará tem condições enormes para desenvolver a pecuária porque o que precisa para produzir capim, que é a maneira mais barata de alimentar o gado, é água, chuva, calor, luz e fertilidade do solo. Nenhuma região do Brasil tem regiões tão favoráveis para isso quanto o Pará”, acrescenta Maurício Fraga Filho, presidente da Associação dos Criadores do Pará (Acripará).
Já o zootecnista e diretor técnico da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado do Pará (Faepa), Guilherme Minssen, destaca também a contribuição da mudança de modelo produtivo, com a transição de um padrão extensivo para o intensivo. “Nós estamos trabalhando com mais tecnologia, nós estamos colocando mais unidades animais por hectare e nós estamos consolidando uma pecuária com desfrute maior, ou seja, nós estamos tendo muito mais animais para o abate do que nós tínhamos anteriormente”, esclarece.
Disponibilidade de terras e logística favorecem o setor
O Estado do Pará também apresentou ganhou evidência no crescimento em outros setores. O rebanho bubalino, por exemplo, aumentou de 605 mil cabeças em 2020 para 619 mil em 2021. Além disso, no mesmo período, passou de 458 mil para 488 mil o número de equinos no estado.
“O rebanho bubalino é hoje responsável pela qualidade de vida de muitos produtores, principalmente no arquipélago marajoara. Nós temos hoje vários laticínios, nós temos a indicação geográfica do queijo e nós temos leilões de búfalos de alta genética que nós não tínhamos antes”, pontua Guilherme Minssen, que apresenta uma perspectiva otimista para o futuro da pecuária.
“O Pará deve ter o destaque não só em quantidade. Em 2023, o Pará deve ter o segundo maior rebanho brasileiro, mas principalmente em qualidade”. Nesse sentido, o diretor da Faepa enumera alguns aspectos positivos, como a diminuição da idade de abate, o intervalor menor entre os partos de cada vaca e o incremento da produção nas regiões do Baixo Amazonas e do Marajó. Outro fator que beneficia o setor, especialmente nos municípios de São Félix do Xingu e Marabá, é a condição de polos regionais.
“Marabá é um polo junto à Transamazônica e junto da PA-150, que é bem servida de aeroportos, de hotéis, coisas básicas para atrair a atividade agropastoril para a região. O negócio cresce muito na região com alta tecnificação e, principalmente, a proximidade com os frigoríficos. Já São Félix do Xingu cresce muito principalmente pelo tamanho e por estar muito bem localizado. O Sul do Pará é um dos polos mais desenvolvidos em pecuária de corte do país”, explica Minssen.
Pecuária intensiva permitirá mais avanços
Na mesma linha, Maurício Braga Filho acredita em mais avanços a curto prazo traçando um paralelo entre a realidade paraense e mato-grossense a partir do desenvolvimento da pecuária intensiva. “O que aconteceu no Mato Grosso: a pecuária perdeu área para a agricultura, mas teve um aumento de produtividade por área e conseguiu aumentar o rebanho. É isso que vai acontecer com o Pará. Eu acredito que logo chegaremos em 2º lugar”, garante.
Para Gastão Carvalho, a perspectiva em relação ao futuro da pecuária também é otimista. “É uma questão de tempo a gente ser o maior rebanho do Brasil, afinal dos cinco maiores municípios, o Pará já tem dois”, reitera o produtor, que aponta os resultados econômicos já alcançados pelo segmento.
“Não é só o terceiro maior rebanho, são 120 mil propriedades de pecuária no estado, que inclui pequenos, médios e grandes produtores. Nós temos mais de 600 mil empregos dentro das fazendas. Isso eu estou falando para dentro da porteira, não estou falando de cadeia, de açougues, de supermercados, de restaurantes nem da distribuição. É o primeiro gerador de empregos no estado”, frisa.
Abaetetuba pode aproveitar dos diferenciais logísticos
Carvalho acredita ainda no potencial de outras regiões, como é o caso do município de Abaetetuba, que pode se aproveitar de forma efetiva dos diferenciais logísticos do seu entorno, onde há o Porto de Vila do Conde, em Barcarena. “Aqui tem uma paz fundiária muito grande. Aqui não tem invasões e tem uma infraestrutura boa. Estamos do lado do porto, então nós temos que explorar esse potencial que nós temos de logística”, acrescenta.
Além disso, para os pecuaristas, o setor tende a ganhar mercado no segmento nos quesitos da industrialização e da sustentabilidade. “Poucas regiões no planeta reúnem tamanha aptidão para a produção pecuária como o Estado do Pará. Combinando tecnologia, sustentabilidade ambiental e lucratividade, o Pará tem a capacidade de ser o maior produtor e fornecedor mundial desse extraordinário alimento que é a carne bovina”, destaca Francisco Victer, da Aliança Paraense pela Carne, enfatizando que os produtores estão atentos ao cumprimento das leis, as obrigações sanitárias e possuem compromissos de redução de impactos ambientais, visando manter em alta a competitividade dos negócios.
Confira o ranking dos municípios com maior rebanho bovino no Pará
- 1º - São Félix do Xingu – 2.468.764
- 2º - Marabá – 1.478.450
- 3º - Novo Repartimento – 1.155.609
- 4º - Altamira – 904.271
- 5º - Cumaru do Norte – 733.564
- 6º - Pacajá - 733.530
- 7º - Itupiranga – 703.887
- 8º - Água Azul do Norte – 688.758
- 9º - Novo Progresso – 642.252
- 10º - Santa Maria das Barreiras – 631.667
Distribuição do gado nas regiões paraenses:
- Baixo Amazonas – 1.519.395
- Marajó – 268.680
- RMB – 88.720
- Nordeste – 1.545.517
- Sudoeste – 4.545.582
- Sudeste – 15.953.111
- Pará – 23.921.005 cabeças de gado (total)
Ranking nacional
- 1º Mato Grosso – 32.424.958 cabeças de gado
- 2º Goiás – 24.293.954 cabeças de gado
- 3º Pará - 23.921.005 cabeças de gado
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