Vaca louca: Pará já reduziu abate de bovinos em 30% após autoembargo para China

Representantes do setor dizem que suspensão nas exportações para o país, principal comprador do Estado, impacta toda a cadeia de produção

Elisa Vaz
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Desde que foi confirmado um caso de "mal da vaca louca” no Pará, no município de Marabá, no dia 22 deste mês, houve uma redução de 30% no abate de bovinos, segundo o Sindicato das Carnes e Derivados do Pará (Sindicarne). A estimativa era de que a queda chegasse a 50%, como noticiado pelo Grupo Liberal, mas isso só acontecerá se o autoembargo estabelecido nas exportações para a China permanecer no “longo prazo”, ou seja, acima de 40 dias.

O presidente do Sindicarne, Daniel Freire, diz que a diminuição de abate é para adequar à nova demanda de mercado, já que, por medida de segurança, as exportações de carne para a China estão suspensas até que se prove a segurança do alimento - o país é responsável pela compra de 75% das carnes do Pará.

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“Mesmo sendo um curto prazo, do embargo para cá, diminuiu 30% o abate. Em 2021, houve queda de até 50%. Os impactos dependem muito da reação do mercado. Esperamos que a China retome as compras assim que o resultado prove que o caso é atípico, aí volta o mercado normal. Precisamos da exportação porque o consumo interno não dá conta de consumir toda a capacidade do Pará”, explica Freire. Ele acha que não há risco de que outros mercados fiquem sem comprar do Brasil.

Na opinião do presidente do Sindicarne, a redução no abate não deve alcançar os 50%. Afinal, a expectativa é de que, nesta sexta-feira (3), saiam os resultados de exames laboratoriais especializados feitos no Canadá, confirmando a suspeita de que o caso, identificado em uma propriedade rural de Marabá, sudeste do Estado, seja atípico, ou seja, quando a doença é contraída de forma espontânea e não há contaminação; portanto, sem riscos à saúde.

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Inicialmente, a dúvida era de que o animal doente, que tinha nove anos, estivesse com raiva, botulismo ou outra situação relacionada à parte neurológica. O fiscal enviado pela Adepará coletou as análises no local e enviou para um laboratório, atestando para Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), conhecida como “mal da vaca louca”. Porém, indícios afirmam se tratar de uma forma espontânea surgida na natureza (atípico, e não clássico), sem risco evidente para outros animais ou à saúde humana.

Com o resultado, as 160 cabeças que fazem parte do rebanho na propriedade rural foram isoladas. “A observação da propriedade isolada continua ratificando que o caso é atípico e o resto do rebanho continua em ordem”, garante Daniel.

Assim que o resultado for divulgado, representantes do Brasil e do Pará, incluindo o presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adepará), devem viajar até a China para prestar esclarecimentos - a informação é do presidente da Aliança Paraense pela Carne, Francisco Victer. A reportagem entrou em contato com  o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

Já a Adepará, em nota, disse que “realiza vigilância das encefalopatias espongiformes transmissíveis. E atua diretamente na fiscalização da alimentação ofertada aos bovinos. Em 2022, foram 184 fiscalizações em propriedades. Também realizou exames, todos negativos para EEB”. Em relação aos exames com material do animal morto, disse que a agência “aguarda o resultado do teste enviado ao Canadá para demais medidas sanitárias”.

Prejuízos

Uma das consequências da não exportação de carnes para a China, principal compradora do Pará, é que a indústria deixa de comprar animais com essa finalidade, o que diminui a demanda aos pecuaristas e cria um impacto sobre o preço.

“Ainda não se percebe uma desvalorização do preço do boi, temos um período de muita oferta de boi, nessa fase o preço cai. Já vínhamos percebendo uma leve pressão de baixa no preço do boi, e se esperava que iniciasse a valorização, mas esse episódio retarda isso”, explica o presidente da Aliança Paraense pela Carne, Francisco Victer.

Segundo o representante do setor, é no longo prazo, acima de 40 dias sem exportação, que os impactos são mais percebidos e há uma pressão maior na cadeia produtiva. Victer ainda diz que o problema não é somente deixar de exportar, mas, como o Pará vende 75% do que é exportado para a China, a perda é “significativa”. “Deixar de exportar para a China é praticamente deixar de exportar”, avalia.

Ele acredita que, nos próximos 20 dias, o país deve voltar a comprar do Brasil normalmente. Os dados referentes à produção e exportação em fevereiro devem ser divulgados na semana que vem, de acordo com Victer, o que deve demonstrar como o mercado se comportou nos últimos dias.

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