Mercado de cuidados com a pele cresce no Pará e movimenta exportações

De acordo com o CIN, ligado à Fiepa, o Estado vendeu 13,2% a mais em 2022, na comparação com 2021, quando se fala em produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumaria

Elisa Vaz

O segmento de cuidados com a pele é um dos mais importantes da indústria da beleza, e a Amazônia é um foco central desse mercado, porque os frutos e sementes típicos da região tendem a ser explorados e vendidos por empresas locais ou de fora. Dados do Centro Internacional de Negócios (CIN) apontam que, apenas em 2022, o Pará exportou um total de US$ 4,3 milhões, a partir de 1,5 mil toneladas, de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumaria.

O montante é 13,2% superior ao que foi registrado em 2021, quando somou R$ 3,8 milhões em exportações no Estado. Os principais produtos vendidos no ano passado foram óleos, sabões em barra, bálsamos naturais e preparações capilares, e os países de destino foram Venezuela, Estados Unidos, França, Coreia do Sul, Paraguai, Itália, Reino Unido, Canadá, Suécia, Espanha, respectivamente. Com o resultado, o Pará ficou na 10ª posição no ranking de Estados brasileiros que mais exportaram nos doze meses.

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O presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos, Petroquímicos, Farmacêuticos e de Perfumaria e Artigos de Toucador do Estado do Pará (Sinquifarma), Nilson Azevedo, diz que a tendência do mercado da beleza no Pará é crescente, tanto na área de produtos naturais da Amazônia como na inovação. A quantidade de empresas, por exemplo, passou de 10 em 2015 para 20 em 2023, apenas em Belém, o que representa um crescimento de 100% em oito anos.

“O número de empresas tem aumentado aqui, apesar da pandemia. Existem fabricantes locais, os maiores atuam mais na área de sabões, sabonetes e óleos vegetais, enquanto as micro e pequenas empresas trabalham mais com cremes, hidratantes, óleos corporais, perfumaria e perfumes de ambiente. Na área de maquiagem e esmaltes de unha, temos um bom trabalho de indústrias locais”, garante o porta-voz.

Os produtos que mais são consumidos localmente, na área de beleza e cuidados com a pele, são os de higiene, cremes, óleos corporais e perfumaria, de acordo com Azevedo. Mas também há um crescimento, ainda que tímido, do segmento de produtos naturais, veganos ou orgânicos. “Alguns entram como ingredientes na fórmula, mas ainda timidamente, pois existe todo um cuidado com a legislação ambiental. A postura é sustentabilidade e responsabilidade social, mas também a sustentabilidade econômica, pois, sem essa, as outras não se mantêm”, enfatiza Nilson Azevedo.

Sucesso

Os cuidados com a pele já estão na família Chamma há décadas. Tudo começou em 1940, quando Oscar Chamma atuava como comerciante e químico, desenvolvendo fórmulas próprias junto a outras pessoas que faziam parte do segmento. Como as substâncias criadas por ele ainda são muito atuais, boa parte da produção é utilizada por sua filha, Fátima Chamma. Hoje dona da Chamma da Amazônia, ela conta que teve seu trabalho “facilitado” por esse dossiê e, em 1996, passou a iniciar projetos de base tecnológica que deram início à marca.

“Eu cresci ouvindo que a andiroba é anti-inflamatória, que a copaíba cicatriza, que a banha de cacau é boa. Nós só usamos a parte vegetal, e fomos buscar cupuaçu e começamos a cadeia produtiva: do açaí tinha o óleo que se fazia e se aplicava como ingrediente de óleos aromático de tratamento, massagem, poderia aproveitar o caroço para aromatizar, para evitar resíduo, fazer sachês. Nós transitamos de acordo com aquilo que pode ser legal, sustentável, com qualidade e inovador. Fomos levando e criamos alguns produtos”, conta.

A Chamma trabalha com matéria-prima da Amazônia de modo mais natural - o que interessa é o percentual na forma de ingrediente para que se obtenha resultados, segundo Fátima. Os produtos incluem cremes e óleos de andiroba, copaíba, cupuaçu e castanha, os principais carros-chefes, entre outros itens.

Ao longo dos anos de atuação, a empresa já foi reconhecida pela prática de sustentabilidade, qualidade do trabalho, inovação e design, segundo ela. “Fizemos esse trabalho e procuramos dar continuidade ao formato que meu pai tinha, mas ajustando as coisas de acordo com o nosso sentido de valorização da Amazônia. Não foi fácil, foi muito difícil, mas hoje continuo na indústria com uma empresa da região”, comemora.

Na avaliação da empresária, que é também vice-presidente da Sinquifarma, o mercado local de cuidado e beleza tem se adaptado às tendências globais - para ter competitividade, qualidade e a confiança do consumidor, é preciso acompanhar as evoluções. E o crescimento local do setor traz impactos positivos, aumentando a plantação de insumos, com maior interesse em gerar conhecimento técnico, inovação e tecnologia, com a criação de novas demandas para geração de emprego e de renda, entre outras vantagens.

Sustentabilidade

O grande diferencial de quem atua no setor, segundo a empresária, é que na Amazônia está a “maior riqueza”. Também há o benefício de o setor não poluir o meio ambiente e nem gerar resíduos, já que a maioria é reaproveitada, diz Chamma. “O nosso segmento é um segmento sadio, que precisa da floresta em pé para ter continuidade, precisa que o produto tenha qualidade, seja bem cultivado, bem colhido”, ressalta.

Para as comunidades, o impacto do mercado também é positivo, já que elas podem crescer a partir do aperfeiçoamento, treinamento e com a venda de produtos de melhor qualidade. “Elas podem crescer dentro daquilo que é a vocação delas. Se quiserem chegar a uma indústria, têm que começar aqui, porque há um mercado consumidor muito forte para as matérias-primas da Amazônia. E temos cooperativas fantásticas, associações e pessoas trabalhadoras que merecem o nosso respeito”.

O presidente do Sinquifarma, Nilson Azevedo, conta que, em 2015, foi assinado um convênio entre Sedeme, Sebrae e o próprio sindicato, que formam um comitê gestor com a finalidade de desenvolver o segmento. Embora ele diga que a pandemia atrasou as negociações, o diálogo tem sido retomado com mais ênfase recentemente.

“Afinal, temos a floresta, fonte que é nosso diferencial, e para isso nós precisamos dela em pé, isso é sustentabilidade. Trabalhamos a cadeia produtiva desde o extrativismo até o mercado, gerando renda e educação em todo o processo. E os impactos esperados devem ser muito bons, pois estamos em um segmento que tem demanda crescente e inovadora. A população tem que acreditar que o que é produzido aqui é tão bom quanto o que é produzido lá fora, com o orgulho de ser nosso, da nossa terra, da nossa gente”.

Pequena produtora rural, Maria do Carmo atua na cadeia de cupuaçu para desenvolver produtos de cuidados com a pele. Ela produz em Abaetetuba, mas mora em Belém, e trabalha como servidora pública. Em seu sítio, conta que começou a trabalhar em 1990, com o primeiro plantio de 1.300 pés; hoje, já tem pouco mais de 6.000.

Inicialmente, segundo ela, o caroço de cupuaçu era usado no adubo das plantas, mas depois, ao tentar produzir o chamado “cupulate”, chocolate que não contém cacau e é feito com a semente do cupuaçu, Maria descobriu que o fruto é mais gorduroso que o cacau, do qual é feita a manteiga de cacau (hidratante labial). “Se temos manteiga de cacau, poderíamos ter a manteiga de cupuaçu”, foi o que a produtora pensou na época, cinco anos depois de começar seus plantios.

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O produto, hoje, é feito de forma 100% natural, com plantio próprio da paraense, e sem utilização de agrotóxicos ou aditivos químicos, gerando uma manteiga totalmente pura. Entre os benefícios da manteiga de cupuaçu está a capacidade de hidratar, nutrir e suavizar a pele. Segundo a produtora, isso traz diferentes benefícios, como: manutenção da água na pele, processos de cicatrização, combate ao envelhecimento precoce, controle de irritações e inflamações, selagem de cutículas nos cabelos, redução do volume dos fios e outros.

No folder onde ela divulga seu produto, consta que a manteiga de cupuaçu serve para quase tudo: pode ser utilizada para hidratar e nutrir a pele da face e do corpo, os cabelos e até mesmo os lábios e as cutículas; e é recomendada inclusive para áreas mais ressecadas, como cotovelos, joelhos e pés. “Você pode utilizá-la tanto no corpo, quanto na face. Para isso, basta colocar uma pequena quantidade da manteiga nas mãos e esfregar para que ela derreta e fique mais cremosa, após isso. É só passar na região desejada em movimentos circulares até a absorção”, ensina Maria.

Mesmo ainda “engatinhando”, como a produtora chama, considera seu produto “maravilhoso”. Ela está motivada com a possibilidade de verticalização. “Ainda não deslanchou porque sou uma servidora pública e com filhos crianças, e um deles autista, então está faltando tempo para atuar no varejo. Isso vai me ajudar na manutenção do sítio, enquanto não chega aos produtores alguma renda pela conservação da floresta”.

Desafios

Embora economicamente algumas espécies tenham potencial de atingir grandes volumes de vendas no mercado, alguns desafios ainda precisam ser superados, na avaliação dos dois representantes do Sinquifarma. Fátima afirma que existe um problema na logística do Pará e que, em alguns casos, a produção chega a ser 40% mais cara do que o Sul e Sudeste, por exemplo.

“Nós, de um lado, temos uma fonte inesgotável e bem cuidada, nosso segmento cosmético fitoterápico cuida da floresta por meio de comunidades, cooperativas, ativistas, temos todo um trabalho com isso. Mas, dos nossos insumos, os adquiridos aqui são uma média de 10%, o resto vem de fora, como embalagens, equipamentos, mão de obra especializada, que existe, mas muito pouco aqui. As indústrias grandes não estão aqui, logicamente, porque elas analisam essas dificuldades”, comenta.

O intuito, segundo ela, é que o mercado cosmético seja, de fato, consolidado no Pará, e que os custos logísticos sejam reduzidos. O presidente, Nilson Azevedo, concorda. Para ele, são esses problemas no Estado que travam o crescimento das empresas que atuam localmente, com a falta de indústrias de embalagens e com um fornecimento de ingredientes que servem de base ou são complementares, mas que vêm, principalmente, do Sul. “Perdemos em competitividade e, consequentemente, crescimento”, diz.

Exportações de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumaria pelo Pará

Em valores

  • 2021: US$ 3.881.228
  • 2022: US$ 4.393.569
  • Variação: 13,2%

Em toneladas

  • 2021: 1.785,21
  • 2022: 1.538,89
  • Variação: -13,8%

Fonte: CIN/Fiepa

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